Dia das Mães: mulheres que servem a pátria contam como conciliar a missão com a maternidade

Ser mulher e estar na linha de frente do serviço a pátria é por si só um grande desafio. Esta realidade pode ser ainda mais desafiadora quando conciliada com a missão de ser mãe. É o caso das Tenentes Carolina Rabelo e Wanessa Pereira, militares do Exército lotadas no Comando Militar do Norte (CMB), em Belém. Elas vivem a experiência da maternidade atrelada a rotina do serviço de defesa a nação e relatam como é a experiência de ser mulher e mãe nas Forças Armadas, um ambiente que muitas pessoas talvez nem vejam como acolhedor à maternidade. Porém, os relatos mostram os avanços da carreira militar feminina e o cuidado e atenção dispostos às famílias das militares.

A Ten. Carolina Rabelo, de 32 anos, se tornou mãe do pequeno João Davi há dois anos e quatro meses e desde então passou a conciliar as atividades do quartel e os cuidados do seu primeiro filho. Para ela, encarar as duas missões é sinônimo de abnegação diária. "A lida de uma mãe que não é militar já é bastante complicada, mas quando a gente se torna militar as nossas responsabilidades são um pouco maiores por conta do serviço à pátria, ao próximo, a população. A gente acaba deixando de fazer determinadas coisas em casa para estar em prol da missão, do serviço", afirma. 

João Davi nasceu no final de 2019 e teve a dedicação exclusiva da mãe até maio de 2020, quando a militar precisou retornar as atividades após o fim da licença maternidade, já em meio a pandemia. O retorno por sua vez não foi fácil e exigiu cuidado redobrado já que os militares do Exército estão na linha de frente no combate a covid-19.

"O mais complicado pra mim foi o meu retorno após os seis meses de licença maternidade. O João Davi ainda estava mamando, então eu tinha aquela rotina de tirar o leite. Acontecia de estar em missão, em atividade militar, e eu pedir com licença pra sair e vir para o alojamento para tirar o leite. Mas o mais difícil foi quando eu tirei serviço pela primeiro vez, foi quando eu não vi ele durante 24 horas, entregando todo o cuidado para o meu esposo. Ele já tinha começado a introdução alimentar, mas ainda mamava o meu leite, e isso foi muito dolorido, muito difícil, eu lembro que eu chorei muito porque essa foi a parte mais difícil", relembra. 

Apesar de doloroso, a tenente ressalta que o apoio recebido dos chefes no quartel foi fundamental para conseguir conciliar as rotinas. "Eu acredito que a parceria que a gente tem e o entendimento dos chefes, a consciência do que é ser mãe, como é ser mãe, a gente consegue ir ajustando essa rotina. Além do apoio familiar eu também tive apoio aqui dentro do quartel que foi extremamente importante para que eu conseguisse cumprir a missão do Exército junto com a missão de ser mãe". Esta última a Ten. Carolina define como "a missão mais importante da vida de uma mulher".

"Para mim que sempre tive o sonho de ser mãe é o ápice da vida da mulher. A gente se transforma, eu me sinto hoje muito mais super poderosa do que antes de ser mãe. A gente tem uma força sobrenatural que nem se imagina porque são vários desafio, várias coisas que são colocadas a prova na nossa frente, com o tempo a gente sofre, reclama, mas quando chega lá na frente nós vamos ver que tudo valeu a pena e conseguimos superar todos os obstáculos pelo fato de amar tanto aquele ser. A maternidade é a principal missão da minha vida", declara a militar.

A tenente Carolina diz que a missão de conciliar a carreira militar com a maternidade é desafiadora, mas os superiores costumam demonstrar apoio (Márcio Nagano / O Liberal)

"Maternidade capacita para o serviço militar", diz tenente grávida

Quem agora vive a expectativa da chegada de um bebê é a Ten. Wanessa Pereira, grávida de 7 meses da pequena Maria Luísa, sua segunda filha. Quando entrou no Exército há 3 anos, a militar já era mãe da Julia Celina, hoje com 8 anos, e acredita que a maternidade também capacita para o serviço militar.  

"A própria maternidade nos mostra que somos capazes de muito mais que imaginamos. Trabalhar durante a gravidez me fez enxergar o quanto temos a força de conciliar tanto a maternidade quanto a carreira militar. Ser mãe também é servir a pátria e nós queremos deixar para a sociedade homens e mulheres fortes, honrados e dignos", ressalta. 

A Ten. Wanessa engravidou durante a pandemia e revela não ter sido um período fácil. "É necessário muita competência para conseguir conciliar as atividades profissionais com os cuidados com a gestação, a família. Em meio a uma pandemia, trabalhando remoto, tem que ter muita cautela para conseguir vencer todas essas etapas." Apesar das adversidades, a militar acredita encontrar na carreira profissional ferramentas que contribuem para a criação dos filhos. "A gente aprende muito essa parte da educação, da honestidade, então tudo que eu aprendo no meu dia-a-dia no meu trabalho eu tento passar um pouco pra ela e farei o mesmo com a Maria Luísa", afirma.  

Para a militar, a maternidade e a carreira militar se complementam, por isso é necessário dedicação diariamente e para isso o apoio e a ajuda da família com os filhos é de extrema importância. "Eu acredito que para conciliar as duas missões é necessário muito planejamento, muito estudo e acima de tudo um coração servil e abnegado. A maternidade me ajudou a ser uma profissional melhor no contexto militar, ela mudou tudo isso. O que eu quero deixar é que as minhas filhas sejam grandes mulheres", destaca a Ten. Wanessa. 

Já na reta final da gravidez, a militar almeja que sua filha nasça em uma sociedade mais harmônica e honesta. "Eu desejo uma sociedade que tenha mais paz, tranquilidade e harmonia, que seja mais honesta, que um possa olhar com mais cuidado para o outro e que possamos ter uma sociedade mais unida", acrescenta.