‘Motirõ’ promove conversas sobre mitos, ritos e cultura popular na UFPA, em Belém
Debates abordaram histórias pessoais dos convidados e reflexões sobre mitos e ritos, além da necessidade de valorização da cultura popular

Na manhã desta quinta-feira (14), o Centro de Eventos Benedito Nunes, na Universidade Federal do Pará (UFPA), foi palco de conversas sobre cultura ancestral e popular. Promovido pela Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), o quarto encontro do programa “Motirõ” reuniu a pajé Zeneida Lima, o historiador Luiz Simas e o carnavalesco Milton Cunha, que trataram de histórias pessoais e reflexões sobre mitos, ritos e cultura popular para um bom público. Evento foi transmitido ao vivo e está disponível no perfil da Fadesp no YouTube.
A pajé Zeneida Lima abriu as conversas do evento trazendo relatos pessoais e saberes populares antigos, como o conto de como o mundo foi feito, além da história de quando foi assentada como pajé aos 12 anos, em Salvaterra (PA), realizando curas até hoje, aos 91 anos.
Zeneida também falou sobre a Instituição Caruanas do Marajó, a qual é fundadora, que recebe crianças em situação de vulnerabilidade na ilha do Marajó. Por fim, a pajé cantou músicas que alertam sobre os impactos contra o meio ambiente, como as queimadas e o desmatamento.
Em seguida, Luiz Antonio Simas continuou as falas com a contação de mitos e reflexões sobre a relação entre mitos e ritos. O historiador também comentou sobre o conceito de “cultura de resistência”, do qual não concorda completamente, pois acredita que as culturas têm um papel muito maior do que apenas resistir.
“São culturas de resistência, mas elas vão além. Essa sabedoria exposta pela pajé Zeneida não se limita à resistência, ela constrói sentido soberano de beleza para construir mundo. É cultura de reexistência”, defende Luiz Simas.
O último convidado foi Milton Cunha, que expôs a falta de estudos sobre a cultura popular brasileira, expressa, por exemplo, no maracatu e no carimbó, por conta de um olhar preconceituoso sobre essas manifestações. “Há um olhar depreciativo que nos afasta dos saberes do povo. A cultura popular é uma resposta do povo ao abandono, sem dinheiro para ir aos eventos da elite”, explica o carnavalesco.
Motirõ ressalta a importância de relacionar ciência e sociedade
Após um show inicial de Mariza Black, o diretor executivo da Fadesp, Roberto Ferraz Barreto, destacou a importância desta edição do Motirõ, por ela ser realizada no ano em que Belém recebe a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), em novembro.
“Mais importante ainda é que nós, amazônidas, por nascimento e por afeto, possamos falar por nós, para nós e sobre nós, sem clichês. Nosso maior desejo é que a ciência possa ser assunto comum. Afinal, ciência sem o atravessamento social não faz sentido. Esse propósito está no DNA do Motirõ”, afirma o diretor.
Logo depois, o reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva, reafirmou a necessidade de unir a ciência com a sociedade. “Essa combinação entre o acadêmico e o povo, as artes e a filosofia popular não tem preço”, comenta o reitor.
Organização
O encontro integra o programa Motirõ, uma iniciativa da Fadesp direcionada ao letramento socioambiental e à educação ecológica para a comunidade de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). O programa é realizado pela Fadesp e pela UFPA, além de contar com o apoio da Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30.
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