Mosqueiro: inauguração de cozinha industrial proporciona bem-estar na Fazenda da Esperança
Fazenda atende 75 pessoas com problemas com álcool e drogas e funciona em Mosqueiro há quase oito anos; programação, neste domingo, contou com a presença do arcebispo Dom Alberto Taveira

A unidade da Fazenda da Esperança em Mosqueiro, batizada de Nossa Senhora de Nazaré, inaugurou, na manhã deste domingo (25), um galpão onde funcionam uma cozinha industrial, uma padaria e um refeitório.
A programação contou com as presenças do arcebispo metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira, que é presidente da Fazenda da Esperança, e celebrou uma missa em ação de graças, do secretário de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda, Inocencio Gasparim, e de Valéria Maiorana, esposa presidente executivo do Grupo Liberal, Ronaldo Maiorana.
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A fazenda atende 75 pessoas com problemas com álcool e drogas e funciona em Mosqueiro há quase oito anos. A instituição, fundada há 39 anos em São Paulo, é vinculada à Igreja Católica e tem a missão de restabelecer vidas fora da dependência química de pessoas com problemas relacionados a álcool e drogas ilícitas. As obras inauguradas neste domingo foram feitas em parceria com o Governo do Estado.
Luciano Figueiredo é responsável técnico e operacional da fazenda e falou sobre a inauguração. “Para nós, vai melhorar muito, tanto na produção nossa quanto no bem-estar também”, disse. Até então, as refeições eram feitas em uma cozinha adaptada e levadas para as casas dos acolhidos, como são chamados os que são atendidos na fazenda. “Agora vamos ter o momento de, no refeitório, todos almoçarem juntos”, afirmou.
Também haverá economia de gás de cozinha e vai se evitar o desperdício de alimentos. “Do nosso estilo de vida faz parte esse querer bem, ser família, de todos se alimentarem juntos no local”, disse. Essa obra começou, há alguns anos, com a iniciativa das “Amigas da Esperança”, com a realização de dois bingos por ano. E, com o dinheiro arrecadado, eles iam construindo aos poucos. Mas também tem a parcela de ajuda do governo do Estado, que liberou recursos para poder concluir o galpão, via Secretaria de Estado de Justiça do Pará (Sejudh).
Estilo de vida na fazenda é formado por trabalho, convivência e espiritualidade
Uma obra social ao nível mundial, a Fazenda da Esperança tem 160 unidades no Brasil, das quais, sete ficam no Pará, e está presente em 26 países. “Nós somos uma família de religiosos. Somos uma família dentro da igreja. Temos um estilo de vida que é baseado no tripé trabalho, convivência e espiritualidade”, afirmou Luciano. “A fazenda está muito longe de ser um depósito de humanos, de drogados. Aqui não tem portão. A Fazenda da Esperança é o retorno à vida”, disse.
A fazenda tem creches, tem escola, uma casa antimanicomial, que acolhe pessoas com deficiência mental. A fazenda não tem funcionários, mas voluntários.
O arcebispo Dom Alberto disse que acompanha a fazenda desde o início de sua fundação, que, neste ano, completará 40 anos. “Assim que vim para Belém, fiz questão de trazer a fazenda para cá porque acredito que é a evangelização que transforma o coração das pessoas”, afirmou.
“Aqui nós temos o trabalho, a convivência e a dimensão religiosa e espiritual. Então, a importância é essa: é porque só Jesus Cristo consegue recuperar e transformar a vida das pessoas. E aqui nós acreditamos que estamos reunidos em nome de Jesus como ele prometeu. Ele está conosco, está em nosso meio e nos leva então a fazer essa transformação radical. Por isso que praticamente todos os domingos eu estou aqui, às vezes venho para mais dias para conversar com eles, para darmos a formação. Isso é muito importante para nós. É um tesouro da igreja”, afirmou Dom Alberto.
Ele afirmou ainda que, sem a palavra de Jesus, não há recuperação consistente: “Quem pode mudar sem desrespeitar a consciência e a liberdade é só a palavra de Deus”. O secretário de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda, Inocencio Gasparim, representou o governador Helder Barbalho. Ele elogiou o trabalho feito na fazenda e se colocou à disposição para ajudar nos trabalhos realizados no local.
“A nossa medicação é Jesus Cristo”, diz músico acolhido pela fazenda
Naiá Guerra é da diretoria da Fazenda da Esperança e trabalha no grupo de voluntárias "Amigas da Esperança". “Hoje estamos acolhendo cerca de 80 pessoas aqui em recuperação. E é muito importante porque a fazenda trabalha com a transformação de vidas. Como nosso arcebispo costuma falar: é uma fábrica de homens novos que vem de um mundo de dependência química, álcool e drogas", disse.
"Às vezes, com as estruturas familiares abaladas ou mesmo rompidas e devolve-se novos homens para a sociedade. Eles ficam aqui durante um ano em recuperação, trabalhando a espiritualidade, a convivência fraterna e o trabalho, recuperando a dignidade do trabalho”, afirmou.
Ainda segundo Naiá, a fazenda não trabalha apenas com a recuperação da dependência química. “Trabalha-se com a reconstrução da pessoa humana. E por isso que o índice de sucesso é muito grande. Hoje, entre as comunidades terapêuticas a Fazenda da Esperança tem um índice mais alto de sucesso na recuperação”, disse.
O músico Roberto Diniz Ferreira Salé, 43 anos, é um dos acolhidos na fazenda. Atualmente, está no local há oito meses, mas já teve uma passagem anterior pela fazenda. O uso de entorpecentes o levou a perder completamente o contato com a família dele.
“A fazenda me acolheu num momento de grande dificuldade, onde realmente eu já não tinha mais perspectivas. O vício nos torna aquilo que não queremos ser”, contou. “A Fazenda da Esperança não trabalha com medicação. A nossa medicação é Jesus Cristo. Hoje eu posso dizer que já estou com a minha família restaurada. Já tenho contato com os meus familiares e todos estão muito felizes por eu estar aqui”, disse.
O pedreiro e marceneiro Cláudio Sulivan, 35 anos, também foi acolhido pela fazenda, na qual está há um ano. “A fazenda foi o local que me reeducou, me tirou das ruas, onde enfrentei o frio, a fome e a solidão, e me ensinou um novo estilo de vida", disse. "Eu andava desacreditado e não tinha mais esperança. A fazenda me fez brotar essa luz de novo dentro de mim. Sou uma nova pessoa, uma pessoa transformada. Estou escrevendo uma nova história”, afirmou.
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