Morte do congolês Moïse Kabagambe, no Rio de Janeiro, causa indignação em Belém

“Infelizmente, atos parecidos acontecem frequentemente e ficam silenciados”, diz presidente Associação de Estudantes Estrangeiros da UFPA

Dilson Pimentel
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O presidente da Associação de Estudantes Estrangeiros da Universidade Federal do Pará (AEE), Israel Hounsou, lamentou a morte do congolês Moïse Kabagambe, que morreu ao ser espancado, no Rio de Janeiro, e afirmou que esse não é um episódio isolado. “Infelizmente, atos parecidos acontecem frequentemente e ficam silenciados. Com muita dor no coração, recebemos essa triste notícia do nosso colega sendo espancado até a morte por cinco pessoas por ter cobrado o salário atrasado dele”, afirmou.

A Defensoria Pública do Estado do Pará e parlamentares do estado também se manifestaram sobre o assunto. Pelo Facebook, está sendo organizado um ato, no próximo domingo (6), às 9 horas, na praça da República pedindo por Justiça. Israel Hounsou disse que a AEE repudia veementemente esse ato bárbaro. “E cobramos das autoridades políticas públicas dos direitos humanos para imigrantes e refugiados”, afirmou. “São atos que nunca poderíamos imaginar acontecer, e não sabemos o que de fato move essas pessoas em cometer atos desses tipos”, completou. Ele lembrou que esse ato não foi isolado.

Em 2015, o estudante Paulo Romão Santos, de Cabo Verde, foi atropelado, de forma intencional, em Brasília, depois de uma discussão e enquanto voltava para casa. “Eles literalmente seguiram o Paulo na moto dele e o atropelaram. Ninguém foi preso”, contou. Em 2016, Vânia Fernandes, também de Cabo Verde, que veio para o Brasil para estudar, foi morta, depois de quatro meses de relacionamento, pelo namorado, um policial. O crime também ocorreu em Fortaleza. “E, como vocês já sabem, ninguém foi preso até hoje”, disse Israel.

“Eles têm nomes, rostos, família, amigos", diz presidente da AEE 

Em 2020, em 20 de maio, o frentista João Manuel de Angola foi morto a facada na Zona Leste de São Paulo. A “razão foi ele ter debatido contra a opinião de uma pessoa sobre se imigrantes africanos deviam receber auxílio emergencial. Um dos amigos dele, que estavam juntos e foram feridos, conta: ‘Eu queria defender o meu irmão. O cara foi racista, ele deixou claro que foi racismo, porque ele estava a falar que ia matar meu irmão, mas dando risada, tipo como se fosse matar um animal” Até hoje, o assassino foi preso? Pergunte aí..”, disse.

Israel completou: “Eles têm nomes, rostos, família, amigos. São pessoas. Pessoas com quem convivemos, de perto ou de longe. Imagina você estar em casa, e receber uma mensagem dizendo: ‘Cara, o seu amigo morreu porque foi cobrar o salário dele’. Pois é. É esse o sentimento. E sabe o pior? É pensar que de fato, poderia ser nós... O que vai acontecer desta vez? Alguém vai ser responsabilizado?” A Associação dos Estudantes Estrangeiros da Universidade Federal do Pará cobra uma resposta das autoridades e exige que a Justiça seja feita.

Crime demonstra a xenofobia contra estrangeiros, afirma Defensoria Pública do Estado

A Defensoria Pública do Estado do Pará repudia e se solidariza com a família de Moïse Kabagambe. “Esse ato brutal não só manifesta o racismo estrutural da sociedade brasileira, como demonstra a xenofobia contra estrangeiros. O Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos e Ações Estratégicas (NDDH) da DPE atua para garantir a promoção, proteção e defesa dos direitos humanos, oferecendo assistência jurídica integral aos legalmente necessitados”, afirmou. O NDDH fica localizado no prédio-sede da Defensoria Pública do Pará, na rua Padre Prudêncio, nº 154. Para solicitar ajuda, basta ligar no número (91) 3201-2680.

À Redação Integrada, a Defensoria Pública do Estado do Pará informou que, por meio do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos e Ações Estratégicas, atende pessoas nacionais vítimas de racismo. Em relação a refugiados, a DPE atua nas questões relacionadas a documentação civil, quando já possuem documentos advindos do país de origem, intermediando por meio dos consulados e cartórios de Belém. Quanto à nacionalização de refugiado, e outras demandas, são de competência da Defensoria Pública da União. Atualmente, o NDDH atende um refugiado argentino que está em processo de regularização de documentação civil brasileira.

Vereador por Belém, Fernando Carneiro também se manifestou sobre essa violência. “Quanta dor da família do congolês Moïse Kabagambe espancado até a morte no Rio de Janeiro. Qual o nome do responsável pelo quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca? Os assassinos já foram identificados? Os crimes de racismo e xenofobia serão apurados? Essa família precisa de resposta, amparo e justiça, urgente”, escreveu em sua rede social.

A deputada estadual Marinor Brito, também do PSol, falou sobre o assunto. “Revoltante ver mais uma vida negra perdida para a violência. O congolês Moise Kabamgabe foi morto, espancado até a morte no Rio de Janeiro, e teve seus órgãos retirados no IML sem autorização da família. É urgente a investigação profunda do caso e a devida punição aos culpados”, disse.  

 

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