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Miopia na infância: uso excessivo de aparelhos eletrônicos e genética são fatores de risco

Especialista dá dicas para a prevenção do problema visual, caracterizado principalmente pela dificuldade de ver de longe

Fernando Assunção

A pequena Gabriela Freire, de 9 anos, teve a miopia diagnosticada em maio do ano passado. Meses antes da confirmação, a família começou a perceber que a criança precisava aproximar muito o livro ou sentar perto do quadro da escola para conseguir enxergar, além de ter piscadas excessivas. “Decidimos levar a Gabriela na oftalmologista e a médica ficou surpresa por ela não sentir dor de cabeça, já que os exames atestaram graus altos de miopia para a idade dela - 1,5 meio no olho direito, além de 0,75 de astigmatismo no olho esquerdo”, conta a mãe, a técnica de Enfermagem Margarett Freire.

De acordo com Margarett, desde cedo, a criança tinha acesso a aparelhos eletrônicos, como celular e tablet, e assistia muita televisão - hábitos que a mãe vem correndo atrás de corrigir na Gabriela e na irmã caçula, a Antonella, de 5 anos. “É difícil, porque quando a gente se distrai um pouquinho, ela já está com o celular na mão, mas estamos controlando. Televisão só duas vezes por dia, após a realização das atividades escolares e antes de dormir, e afastada da tela. Já o celular, no máximo, uma hora de tempo, que ela reveza com a irmã”, conta a mãe sobre os cuidados adotados.

Segundo Nabila Demachki, oftalmologista pediatra do Hospital Universitário Bettina Ferro, em Belém, a exposição à tela é um dos fatores principais para a miopia na infância, assim como a genética. “O uso excessivo de telas - celular, tablet, computador e televisão - estimulam o crescimento axial do olho, característica da miopia. A exposição a telas pode alterar a superfície ocular, porque diminui o ritmo das piscadas e com isso, vai reduzir também a lubrificação do olho, deixando o olho vermelho ou lacrimejando. Em alguns casos específicos, o estrabismo também pode ter associação à miopia”, explica a especialista.

O distúrbio visual é caracterizado principalmente pela dificuldade de ver de longe. A estimativa da Academia Americana de Oftalmologia (AAO), divulgada no final do ano passado pelo O Globo, é de que, em 2050, metade da população mundial terá miopia. A projeção é que, no mesmo ano, estejamos vivendo uma epidemia do problema. Atualmente, o número de prescrições de óculos dos oftalmologistas no Brasil triplicou para crianças de 6 a 8 anos, comparado há cinco anos. Até os cinco anos, o número de crianças que sofre de miopia é de cerca de 1%. Aos 10 anos, a porcentagem sobe para 8% e aos 15, já chega aos 15%.

Ainda de acordo com Nabila, quando desenvolvida na infância, a miopia pode atingir um grau maior de gravidade na vida adulta, com a aparição de outros problemas visuais. “É sempre mais grave a miopia em uma criança de 3 anos do que em uma criança de 10, porque vai ter mais tempo para o olho crescer e a miopia cresce com o problema no olho. É um fator de risco para muitas outras doenças na vida adulta. Então, uma criança que tem miopia hoje é uma criança que vai ter catarata mais cedo, glaucoma mais cedo e um risco de descolamento de retina”, diz a oftalmologista.

Tratamento

O tratamento da miopia de Gabriela ocorre principalmente com o uso de óculos de grau. O item auxilia na baixa visão, como explica Nabila. “A miopia na infância não será revertida, o que se pode fazer é amenizar a baixa visão com o uso de óculos, tratamento que diminui a progressão do problema. Existem outros tratamentos, como a cirurgia refrativa, mas ela é recomendada apenas para quando já existe um grau estabilizado de miopia - o que não é o caso das crianças com o olho em crescimento. Na vida adulta, a cirurgia pode corrigir a miopia, mas o olho sempre vai ter características míopes. Já a lente pode ser utilizada em casos individualizados da criança”, completa.

Prevenção

Na prevenção à miopia na criança, os maiores aliados são evitar o uso de eletrônicos e a exposição ao sol. “A Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica recomenda que telas sejam evitadas por crianças menores de dois anos; já entre dois e cinco anos, uma hora por dia; entre seis e dez anos, varia de uma a duas horas diárias; e entre 11 e 18 anos, duas a três horas por dia. Além disso, o sol é recomendado porque ele consegue coibir o crescimento ocular excessivo. Toda criança deve ser exposta de duas a quatro horas por dia ou semanal de oito a quinze horas por semana”, finaliza Nabila Demachki.

Recomendações da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica na prevenção à miopia na infância

Uso de telas por idade (celulares, tablets, computadores e televisão):

Menores de 2 anos: evitar o uso

Entre 2 e 5 anos: uma hora por dia

Entre 6 e 10 anos: de uma a duas horas diárias

Entre 11 e 18 anos: de duas a três horas por dia

Exposição ao sol:

Diariamente: de duas a quatro horas

Semanalmente: de oito a quinze horas

Belém