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Malária: casos da doença reaparecem e assustam paraenses

Notificação em pleno bairro nobre de Belém alerta: cenário exige nova atenção a vetores de doenças no inverno e à subnotificação no interior

Eduardo Rocha

Doença que se apresentava controlada no Pará, a malária voltou a chamar a atenção e assustar os paraenses. Nessa semana, ocorrências foram identificadas, pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) em plena capital paraense, em um mesmo perímetro urbano - o que caracteriza um surto. Na terça (15), a Sesma confirmou quatro novos casos detectados, em um prazo de dez dias. Todos limitados ao bairro do Umarizal, área nobre do centro de Belém. Os registros retomaram debates sobre a necessidade de cuidados, para evitar a volta ao descontrole sobre incidências, e também voltaram as atenções à possibilidade de subnotificação no interior.

“A malária é uma doença transmitida por mosquito e pode causar febre alta, calafrios, sudorese e dor de cabeça. Os casos estão sendo investigados e todos os procedimentos de contenção do surto já estão sendo feitos, seguindo todos os protocolos em situações desta natureza”, comunicou a Sesma esta semana.

Na sexta-feira (18), a secretaria desmentiu a informação, circulante em Belém, de que uma mulher teria morrido vítima da doença na capital paraense. “Não procede a informação de que uma mulher teria morrido vítima de malária em Belém. Dos quatros casos registrados no bairro do Umarizal, dois necessitaram de hospitalização e já receberam alta. Os outros dois estão sem sintomas e passam bem. A Divisão do Controle de Endemias fez borrifação na área onde foram identificados os casos e segue monitorando a situação. Se não surgirem novos registros, o surto será dado como encerrado”, disse a Sesma.

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No entanto, uma mulher do mesmo núcleo familiar de um desses pacientes com malária registrados em Belém morreu da doença, em Piracicaba (SP) na quarta-feira (16). Ela saiu de Belém no final de fevereiro. Ou seja, próximo do período dos casos na capital paraense. A família teve a informação de que a causa do óbito foi confirmada por São Paulo. 

Nos últimos anos, a malária vem reincidindo de forma expressiva no Pará, ainda que os números mostrem-se em queda. Em 2019, de acordo com levantamento da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), foram registrados 32.753 casos e 6 óbitos. Em 2020, 24.548 casos e 4 óbitos. Já em 2021, 20.112 casos e 2 óbitos. Em 2022, até agora, já são 2.311 os casos no Estado. Os números situam-se na faixa anual de 20 a 30 mil, e em menos de três meses neste ano de 2022, já são mais de 2 mil casos.

image O mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue, da zika e da chikungunya (Márcio Nagano / O Liberal)

Registro de novos casos de malária é risco, diz infectologista

A infectologista e pesquisadora Tânia Chaves, destaca a gravidade do momento, a partir dos casos identificados. “Considerando que o mosquito da malária, o Anopheles, encontra-se distribuído em todo território nacional, uma única pessoa com malária pode introduzir a doença, em uma rua, bairro e mesmo em uma cidade. Este cenário pode ser muito grave especialmente quando a doença, no caso a malária, não é endêmica no local, o que pode acarretar em atraso no diagnóstico e retardo do tratamento dos pacientes, que são indicadores determinantes na sobrevida do indivíduo”, pontua. Tânia Chaves é infectologista, docente da Famed/UFPA, consultora da Sociedade Paraense e Brasileira de Infectologia e presidente da Sociedad Latino Americana del Viajero.

“As primeiras ações para o controle de um surto de malária, sem dúvida, abrangem o diagnóstico e tratamento. O tratamento tem o objetivo de curar e interromper a transmissão da doença. As ações para eliminação dos focos dos mosquitos, com borrifação das casas, são fundamentais como medidas complementares para o controle das doenças transmitidas pelos mosquitos, em especial, neste caso atual, a malária”, enfatiza.

A médica orienta que, em casos de focos de mosquitos no bairro, as pessoas devem informar à Vigilância Epidemiológica do município. Deve-se observar ainda se nas proximidades há casos de pessoas com sintomas como febre e dor de cabeça, especialmente se tem história de viagem. “Neste período, em Belém, muitas pessoas retornam de suas viagens a trabalho para visitar seus familiares. É justamente estas pessoas, que são viajantes, que podem carrear ou serem portadores de patógenos, como no caso atual do surto de malária. Os viajantes vindos de áreas endêmicas de malária podem carrear o Plasmodium sp que é o protozoário causador da malária”, observa. 

A infectologista reforça: deve-se não acumular objetos amontoados nos quintais como brinquedos, pneus, e vasilhames que podem ser locais perfeitos para o desenvolvimento de mosquitos. “Desde o Aedes aegypti até mesmo o Anopheles que é o mosquito transmissor da malária”, acrescenta a infectologia.

image As larvas dos mosquitos vetores de doenças, que costumam ser vistas em períodos de chuva e onde há lixo acumulado (Márcio Nagano / O Liberal)

Mosquitos também são vetores de zika, dengue, chikungunya febre amarela

Além da malária, outras enfermidades são transmitidas por mosquitos. Levantamento da Sespa indica que, com relação à dengue, foram identificados 1.958 casos e 1 óbito em 2020. Em 2021, 2.992 casos e 2 óbitos - 34 casos a mais que 2020. Até 3 de março, em 2022, são 672 casos. 

Em 2020, foram 176 casos de Zika no Pará. Em 2021, 21 casos, e, até 3 de março de 2022, 5 casos. A chikungunya teve 163 casos no Estado em 2020; 107 em 2021 e, até 3 de março de 2022, 17 casos. Em 2019, foram registrados 3 casos confirmados  que evoluíram  a óbito por febre amarela no Pará. Em 2020, não houve registro de casos tampouco óbitos. Já em 2021, houve o registro de 1 caso confirmado e 1 óbito. Em 2022, até o momento, há o registro de 1 caso confirmado da doença que evoluiu a óbito.

O pesquisador do Instituto Evandro Chagas (IEC), biólogo Joaquim Pinto Nunes Neto, registra que o período chuvoso favorece o aparecimento de criadouros e a eclosão dos ovos desses mosquitos”. No caso, como pontua Joaquim Nunes Neto, os transmissores da malária são mosquitos do gênero Anopheles, destacando-se a espécie Anopheles darling. A Febre amarela (urbana), dengue, zika e chikungunya são transmitidas por mosquitos do gênero Aedes, principalmente pelo Aedes aegypti; na Febre amarela silvestre se tem outro gênero envolvido (Haemagogus) cujo principal transmissor na região é o mosquito Haemagogus janthinomys.

“Esses vetores estão presentes nos núcleos urbanos e ao redor destes, pois encontram áreas que favorecem a sua proliferação, como criadouros artificiais e naturais, além de uma grande disponibilidade de pessoas, sobre as quais realizam sua alimentação sanguínea, necessária para a maturação de seus ovos”, ressalta o pesquisador.

Combate e prevenção do mosquito é responsabilidade de todos

Joaquim Nunes Neto observa que, no enfrentamento desses insetos,  a população pode utilizar repelentes. "Pernas e braços são as áreas mais expostas. Deve-se evitar acúmulo de água em recipientes dentro e fora das residências e realizar o controle químico para mosquitos adultos e larvas, sempre prezando pela segurança na aplicação e utilizar mosquiteiros à noite”.

É de responsabilidade de cada município a investigação, tratamento, monitoramento e acompanhamento dos casos suspeitos e confirmados, diz a Sespa. Em relação à malária especificamente, o Estado diz ainda que atua na distribuição de medicamentos, teste rápido e mosquiteiros impregnados com inseticida, além de dar assessoria técnica e capacitação aos profissionais que atuam na vigilância e diagnóstico da doença. 

 

Casos de malária no Pará:

2019: 32.753 (6 óbitos)

2020: 24.548 (4 óbitos)

2021: 20.112 (2 óbitos)

2022: 2.311

 

Dengue

2020: 1.958 (1 óbito)

2021: 2.992 (2 óbitos)

2022: 672 (até dia 3 de março)

Zika

2020: 176

2021: 21

2022: 5 (até 3 de março)

 

Chikungunya

2020: 163

2021: 107

2022: 17 (até 3 de março)

 

Febre amarela

2019: 3 casos evoluídos a óbitos

2020: sem registro de casos e óbitos

2021: 1 caso (1 óbito)

2022: 1 caso que evoluiu a óbito

 

Orientações:

- Usar repelentes e mosquiteiros.

- Evitar acúmulo de água em recipientes.

- Não acumular objetos amontados nos quintais para serem criadouros dos mosquitos. 

- Realizar o controle químico para mosquitos adultos e larvas,

- Observar se nas proximidades tem casos de pessoas com sintomas como febre, dor de cabeça, especialmente se tem história de viagem, para evitar, em especial, a malária.

- Borrifação das casas como ação estratégica.

 

FONTE: SESPA

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