Jovens de Ananindeua mantêm vivo o carimbó e sonham com apresentação na COP 30
O grupo escolhe a trilha sonora de suas apresentações com base em obras de artistas paraenses que valorizam o ritmo tradicional do carimbó, como Dona Onete, Pinduca, Mestre Verequete, Joelma Calypso e o Movimento do Carimbó do oeste do Pará
Um grupo de seis jovens, sendo cinco meninas de Ananindeua e um menino de Abaetetuba, tem se dedicado a manter viva uma das mais emblemáticas expressões da cultura paraense: o carimbó. Criado em 2018 no bairro São Pedro, o grupo “Encantos do Carimbó”, que hoje sonha com uma apresentação na COP 30, nasceu a partir da iniciativa de Rilton Vidal e Valdicéia Rodrigues, a Malu, que decidiram mobilizar meninas e meninos da comunidade e arredores para se apresentarem nas festividades em homenagem ao padroeiro local, São Pedro.
Na época, o grupo era conhecido como “Carimbó da Juventude” e tinha as coreografias montadas por uma vizinha, Dayse. A confecção das roupas era feita com o apoio da própria comunidade, por meio de rifas e arrecadações em dinheiro ou alimentos. O grupo se apresentou por dois anos consecutivos, em 2018 e 2019. No entanto, com a chegada da pandemia, as atividades ficaram suspensas nos anos de 2020, 2021 e 2022.
O retorno veio com força em 2023, impulsionado por jovens da comunidade que decidiram reativar o projeto, agora batizado de “Encantos do Carimbó”. A iniciativa contou novamente com o apoio de Valdicéia, que continuou ao lado do grupo, ajudando a manter viva a tradição. Mesmo enfrentando dificuldades financeiras e logísticas, os integrantes resistem com determinação e planejam novas apresentações até 2025, com perspectivas de inovação para o ano seguinte.
“Porque no carimbó, não só eu, mas minhas amigas também, encontramos nosso ritmo, nossas raízes e uma forma viva de honrar quem veio antes de nós e de instruir quem vem depois”, disse Ingrid Vitória Nascimento, integrante do grupo.
Ensaios noturnos e união comunitária
Os ensaios ocorrem principalmente na rua onde vivem os integrantes, e, em dias de chuva, são realizados no galpão de uma das meninas. O grupo também conta com o espaço da Havan, local utilizado para diversas atividades comunitárias. Como muitos dos jovens estudam em universidades públicas, trabalham ou fazem estágio, os encontros geralmente acontecem à noite, a partir das 20h, se estendendo até as 23h. Em junho, mês de intensas apresentações, um dos integrantes chegou a se deslocar de Abaetetuba exclusivamente para participar dos ensaios nos fins de semana.
Para financiar as roupas e acessórios utilizados nas apresentações, o grupo realiza rifas e vende lanches produzidos por eles mesmos ou doados por moradores do bairro. Em alguns casos, as saias de anos anteriores são alugadas para ajudar nas despesas e manter o grupo em atividade.
A vestimenta do “Encantos do Carimbó” é pensada para refletir a força da dança: saias amplas e vibrantes, blusas brancas com detalhes floridos, flores chamativas nos cabelos soltos, brincos de pena com miçangas e cintos de flores brancas confeccionados manualmente. Em 2025, a fantasia do boto – personagem do folclore amazônico – também fez parte das apresentações: roupa branca lisa e chapéu de palha, encenada por Matheus Passos, um dos dançarinos do grupo.
“O carimbó me curou de certa forma, me ensinou a enxergar a beleza na nossa cultura e a me reconhecer como parte viva dessa cultura rica que resiste com beleza no Brasil”, disse Ingrid Vitória Nascimento.
Tradição, resistência e sonho internacional
O grupo escolhe a trilha sonora de suas apresentações com base em obras de artistas paraenses que valorizam o ritmo tradicional do carimbó, como Dona Onete, Pinduca, Mestre Verequete, Joelma Calypso e o Movimento do Carimbó do oeste do Pará.
“Comecei a dançar carimbó desde de pequena e cada ano que passava eu me apaixonava mais pelo carimbó e o carimbó não é só uma dança, não é só um movimento, carimbó é uma cultura, uma identidade e tradição”, disse Lorena Viviane Souza, que também integra o grupo.
Com a chegada da Conferência do Clima (COP 30), que será realizada em Belém em 2025, o grupo sonha alto: quer levar a dança paraense à programação cultural do evento. A motivação é unânime entre os integrantes. “Representar o carimbó na COP 30 é importante porque ele simboliza a identidade cultural do povo paraense e sua conexão com a natureza”, disse Lorena Viviane Souza. “Levar essa cultura à conferência mostra ao mundo o respeito às raízes culturais e ao modo de vida sustentável das comunidades locais”, afirmou.
“A nossa Antonela foi com a gente para todas as apresentações, não só ela, mas também a nossa tia Malu que foi com a gente também. Todos elogiavam a gente e esse ano o nosso carimbó teve o boto, o Matheus que dançou muito. Haja braço pra ele levantar a gente! Ele dançou demais”, disse Lorena Viviane Souza, relembrando com alegria as apresentações.
Para outros membros, o carimbó transformou não apenas a rotina, mas também a forma de ver o mundo. “Sempre gostei de dançar e também sempre estive muito próxima do carimbó, justamente por ser parte da nossa cultura”, disse Manoela Gabriely Nascimento. “Me ajudou a me expressar mais, e é onde me sinto feliz”, completou.
“Carimbó se tornou minha paixão desde que me entendo por gente”, disse Jennifer Caroline Feitosa. “Na COP 30 o carimbó será uma grande influência e visibilidade da identidade dos que vieram antes de nós para outras culturas diferentes”, declarou.
“Decidi dançar carimbó porque me faz muito bem, é um momento em que o corpo sente e a alma descansa em meio ao cotidiano corrido”, disse Luciana Damasceno. “O carimbó se tornou uma forma de me expressar, de levar a cultura do nosso povo paraense e preservar nossa tradição”, comentou.
“O carimbó me ajudou a entender a importância da nossa cultura, me ajudou também a descobrir um novo talento que tenho, ajudou na minha confiança e também a conhecer novas pessoas e fortalecer as amizades”, disse Matheus Passos.
O grupo “Encantos do Carimbó” é exemplo de resistência e valorização cultural feita pela juventude da periferia paraense, movida por paixão, ancestralidade e desejo de ver o Pará reconhecido como berço de uma das mais belas expressões do Brasil. Como diz Ingrid Vitória, “o carimbó é a alma pulsante da Amazônia”.
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A cobertura da COP 30 envolve todos os veículos do Grupo Liberal, com dezenas de profissionais comprometidos em divulgar as notícias do evento. O projeto tem patrocínio da Hydro, Agropalma, Grupo Status, OCB, Faepa, Fiepa, Alepa, Atacadão, Sebrae no Pará, Equatorial Energia, Natura, Recicle, Guamá Tratamentos, Fecomércio e Banco da Amazônia, além do apoio da Vale.
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