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Fofofauna: entenda o que é o fenômeno que privilegia animais considerados ‘fofinhos’ e ‘carismáticos

Com a repercussão do caso da capivara Filó, o termo ganhou espaço; enquanto os animais considerados mais “bonitinhos” recebem mais atenção outros animais são esquecidos

Gabriel Pires
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O caso da capivara Filó, criada pelo influenciador Agenor Tupinambá, no Amazonas, ganhou repercussão nacional nos últimos dias, após o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) notificar o tutor para entregar o animal silvestre, que era domesticado. Em meio a isso, um termo não tão conhecido ganhou espaço: “fofofauna”. Enquanto os animais considerados mais “bonitinhos” recebem mais atenção — como o caso da capivara — outros animais, que podem até mesmo se encontrar em risco de extinção, são esquecidos.

O médico veterinário Antônio Messias Costa, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), afirma que é muito recorrente e comum que os humanos tenham maior apreço por animais considerados “mais bonitos”. Isso em detrimento de muitas espécies que sofrem certo esquecimento ou até mesmo são alvo de maus-tratos, como é o caso de répteis, como a serpente. O especialista conta que muitos motivos podem explicar essa negação: seja histórico ou religioso.

“Os animais devem ser vistos como um importante elo da cadeia biológica. E todos eles, indistintamente, merecem respeito e compromisso em sua manutenção para que realmente possam ter uma vida digna. Tanto seja num ambiente de zoológico, quanto animal selvagem tido como pets. Existe a possibilidade de animais serem criados legalmente e comercialmente vendidos, desde que tenham potencial para conviver e para a companhia humana”, explicou Antônio.

Antônio ressalta que essa seletividade no momento de preservação para com um animal não deve existir. O veterinário ainda explica como cuidar dos animais de forma adequada que é “conhecendo a sua biologia, as suas necessidades psicológicas e sobretudo, o seu comportamento social para que esse animal tenha qualidade de vida psicológica e física o mais favorável possível”, declarou. Ele complementa que ainda há limites nesse cuidado e deve-se evitar “vinculação emocional entre ambos”

No caso da capivara Filó, Antônio se diz contra o uso do roedor para a promoção do influencer nas redes sociais, já que isso pode potencializar outros comportamentos como esse. Entretanto, ele considera que a criação de animais exóticos pode desestimular ações ilegais. “Quando o ser humano cria um animal selvagem legalmente, ele tá gerando impacto negativo no tráfico, na sua comercialização ilegal”, explicou.

Fofoauna

O analista ambiental do Ibama, Roberto Cabral, explica que “fofofauna” é um tipo de apelido — até utilizado em um tom mais cômico — para o termo técnico “megafauna carismática”: aqueles animais que despertam maior afeto entre as pessoas. Seja por serem mais dóceis ou até mesmo graciosos na aparência. O especialista comenta que a palavra “fofofauna” surgiu em reuniões de biólogos e estudiosos.

“São animais que despertam mais desejo. Seja para as pessoas verem no zoológico ou para terem de estimação. Para o animal, em termos de conservação, isso é péssimo. Às vezes você tem um animal extremamente raro, muito importante, precisando de um programa de conservação, mas ele não recebe nenhum tipo de atenção. É o caso de algumas espécies de serpentes, anfíbios, insetos e invertebrados ameaçados”, explicou Roberto.

Roberto explica que essa distinção é muito observada em várias espécies. “Quanto mais a gente se afasta de mamíferos e aves, menor é o carisma das pessoas pelos animais. Quando a gente começa a avançar para aves, a observação dessas emoções é mais difícil. Em répteis e peixes, então, praticamente não existe. O que é muito perigoso para os animais, como por exemplo, os peixes que não emitem som. Em determinadas condições, eles podem estar sofrendo uma dor imensa, mas a pessoa acha que não”, detalhou.

No dia a dia, o trato com os animais exige alguns cuidados específicos, como alerta Roberto. “O limite [no cuidado como os animais] é o limite legal, o outro é o respeito pelos animais. A lei garante ao animal o direito de ter uma vida digna e uma vida livre, exercendo o comportamento para o qual ele se desenvolveu para exercer. Quando eu levo para casa, eu tiro o direito do animal de exercer o comportamento natural dele. Ainda que eu tenha algum elemento do habitat dele no meu ambiente, isso não é suficiente”, pontuou.

Espécies ameaçadas de extinção

  • 257 aves
  • 59 anfíbios
  • 71 répteis
  • 102 mamíferos
  • 97 peixes marinhos
  • 291 continentais
  • 97 invertebrados aquáticos
  • 275 invertebrados terrestres

Fonte: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)

(Gabriel Pires, estagiário, sob a supervisão de João Thiago Dias, coordenador do Núcleo de Cidades)

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