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Filhos celebraram a vida dos pais em cemitérios de Belém

Foi a segunda vez que a data ocorreu em meio a pandemia de covid-19

Eduardo Laviano e Elivaldo Pamplona
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Os cemitérios de Belém estavam movimentados na manhã de domingo (8) por conta do Dia dos Pais, especialmente o São Jorge, na Marambaia, e o Santa Izabel, no Guamá.

Mas a vendedora de flores Rosana Conceição estava com expectativas maiores. 

"Melhorou agora. Logo no começo, às sete da manhã, estava fraco. Ao longo da semana foi fraco também. É pai, né? Venda melhor é dia das mães. Deu mais gente. Era do meu pai a barraca, negócio de família. Eu trabalhava com ele. Quando ele faleceu, tomei conta com a minha irmã", conta ela, enquanto observa o fluxo de entrada no cemitério Santa Izabel, no segundo Dia dos Pais da pandemia de covid-19.

image Barraca de Rosana foi herança do pai (Elivaldo Pamplona/O Liberal)

Francisco Damião era um "cearense cabra da peste brabo", nas palavras dos filhos. Ele criou os quatro de maneira rígida, mas amorosa.

Quando morreu, há 38 anos, a filha Rosana Damião ainda tinha nove anos. Para ela, visitar o jazigo dele no cemitério que fica no bairro do Guamá é uma maneira de celebrá-lo.

"Venho todos os meses com os meus irmãos. Tentamos vir sábado (7), pois é mais tranquilo, mas não deu. Na verdade, a gente vem todo mês. Logo que meu pai morreu, minha mãe acostumou a gente a sempre estar aqui", ela conta.

Um conjunto de velas derretia na base do mármore do jazigo enquanto os filhos concentravam-se em uma oração.

Pela primeira vez, eles homenagearam não só o pai na data especial destinada a ele - mas também a mãe, Maria Damião, vítima de um câncer no ano passado. 

Ela ficou viúva aos quarenta anos na década de 80 e, como tantas brasileiras, precisou ser pai e mãe para suprir a ausência do marido quando três dos filhos ainda eram pré-adolescentes.

A caçula, Roseana, tinha sete anos. Para ela, visitar o local onde a mãe descansa com o pai traz paz.

"Minha mãe nunca teve estudo, era analfabeta, lutou muito para criar a gente. Quando meu pai morreu, disseram que iríamos virar todos vagabundos, mas a educação que nosso pai nos deu e a garra da minha mãe prevaleceram. Ela foi guerreira do início ao fim, sofreu muito. Chegou a ser desenganada três vezes", conta ela, grata pela mãe que teve.

image Família Damião comparece ao jazigo onde pai e mãe estão enterrados todos os meses (Elivaldo Pamplona/O Liberal)

Roseana, Rosana e Antônio contam que uma das lições deixadas pelos pais é a da importância de uma família unida.

Eles e o irmão mais velho, que não pôde estar presente desta vez, sempre se reúnem, em datas comemorativas ou não. 

"Para cada família é um sentimento diferente. O importante é permanecer junto. Alguns acham que acabou ali a vida e você não vai mais ver. Ela [a mãe] brincava que quando ela morresse a gente iria abandonar ela. Mas aqui estamos juntos. Uma coisa é certa: essa aqui é a nossa casa para a vida eterna. Gosto de estar aqui e fazer isso por eles", diz Roseana.

 

Apoio da família

Desta vez, os irmãos tiveram a companhia da prima Shirley, que perdeu o pai no início de 2021 por conta de uma pneumonia. Ela lamenta que ele tenha sido acometido com a doença durante o segundo pico da pandemia de covid-19, em fevereiro.

Na época, com os hospitais superlotados, o pai de Shirley enfrentou dificuldades para conseguir assistência médica.

"É uma falta muito grande, dá muita saudade. Cada dia que chega eu sinto falta dele. Ele era o pai da casa, da família, que agia com responsabilidade visando nosso bem. É uma ausência difícil. Foi a primeira vez que vim aqui. Minha mãe chora muito com saudade dele. Eu também choro, mas escondido para ela não ver", revela quase sussurrando, enquanto é acolhida pelos primos. 

 

Homenagem diferente

Diante da imensidão de flores sobre as lápides, uma homenagem se destaca: um coração vermelho em com bordas de pérola escrito "Eu te ♥ pai".

O motivo da homenagem, Edson Alves, morreu há um ano e três meses, vítima de um câncer. A filha Ediane conta a história da obra:

"Foi uma homenagem que fiz no supermercado em que eu trabalhava. Guardo até hoje, pois fiz para ele. Ele era demais. Conto para minhas colegas no emprego novo que se meu pai estivesse vivo elas nunca iriam me ver chegar andando lá. O maior orgulho dele era levar as filhas de bicicleta para os lugares. Às vezes ele botava as três na garupa", ela lembra sorrindo.

image Coração carrega a lembrança de seu Edson, que morreu por conta de um câncer (Elivaldo Pamplona/O Liberal)

Ediane esteve com o pai até o exato último minuto da passagem dele pela Terra. Sentiu que o fim estava próximo e pediu dispensa do trabalho. Ela conta que, mesmo enquanto estava sofrendo de dor, manteve o sorriso no rosto.

Ela guarda com carinho as fotos que sobraram do dia no celular novo que comprou. A maioria dos registros com o pai foram perdidos no aparelho antigo, roubado dela durante um assalto.

"Com todas as dificuldades ele sempre esteve ali, nunca me abandonou, lutando, mesmo quando passamos fome, mesmo quando fui abandonada e tentei tirar minha própria vida duas vezes durante a gravidez da minha filha, ele nunca saiu do meu lado. Vai passar o tempo que passar, mas sigo amando ele. Tenho muito orgulho de ter sido filha dele", ela conta. 

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