FIES: 1 milhão de estudantes que ingressaram no ensino superior estão em dívida

51,7% de estudantes estão em dívidas com o Fies, o que representa R$ 9 bilhões em prestações não pagas.

Emanuele Correa

No Brasil, um milhão de estudantes usuários do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) estão inadimplentes, com atraso no pagamento das mensalidades de mínimo 90 dias. O dado representa uma taxa de 51,7% de estudantes nesta condição e o total de R$ 9 bilhões em prestações não pagas. Sobre os dados específicos do Pará, a redação integrada de O Liberal desde quarta-feira (9) vem demandando o Ministério da Educação (MEC), mas não obteve retorno.

Quem almeja ingressar no ensino superior, mas ainda não conseguiu por meio de universidade pública, recorre às bolsas de estudos, créditos estudantis ou financiamentos, como é a proposta do Fies. Programa do Governo Federal em parceria com a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, que concedem linhas de crédito exclusivas para estudantes.

Diante deste cenário de inadimplências, o Governo Federal regulamentou, na última quinta-feira (10), a Medida Provisória (MP) nº 1.090 - publicada no final do ano passado -, para estabelecer as condições de renegociação das dívidas do Fies com contratos fechados até 2017. De acordo com o site do MEC, o início das negociações começará no dia 7 de março. Dívidas com mais de 360 dias de atraso os descontos podem chegar a 92% para estudantes inscritos no Cadastro único (CadÚnico) e Auxílio Emergencial. A dívida pode ser parcelada em até 150 vezes.

Cristiano Marques, 23 anos, cursa o 7º semestre de jornalismo em uma faculdade particular. Apesar de conseguir realizar o sonho de ingressar no ensino superior por meio do Fies, conta que teve dificuldades de pagar os estudos, em todos os semestres. "Após a decepção de não conseguir ingressar em nenhuma universidade pelo Enem, busquei o FIES pra não perder tempo, tentando ano após ano o Exame. Mas todos os semestres tive dificuldade. Meu financiamento era de 87%, o resto eu tinha que pagar do meu bolso para a instituição, além do juros trimestral e semestral que o FIES cobra. Atualmente tenho meu nome sujo no Serasa por ter tido que pagar um juros do FIES, acabei deixando de pagar outras coisas", relembra

"O atual FIES não cobra juros, porém, logo após a formação você já tem que pagar, e no meu caso esse FIES dá 2 anos pro aluno conseguir se estabilizar financeiramente. Na época desempregado eu sustentava o FIES com auxílio dos meus pais e alguns freelancers", completou.

Fies financiou sonho de ser dentista

Outros estudantes, como Viviany Navegantes, 22 anos, que cursa o último semestre de odontologia de uma faculdade particular de Belém, não apresentaram dificuldades para manter a regularidade dos pagamentos. Ela conta que ingressou na faculdade em 2018 escolheu o Fies para ajudá-la a financiar o curso, visto que, não teria como pagar a mensalidade de odontologia. "Escolhi o financiamento, porque a minha realidade não pode custear o investimento alto que é uma faculdade privada. Odontologia é considerada um dos cursos mais caros. Acredito que fique atrás somente do curso de medicina. Considero o FIES uma forma bem flexível de financiar os estudos, mesmo que seja necessário você pagar uma parte do financiamento durante a graduação.", disse.

image Viviany conseguiu cursar Odontologia graças ao Fies, já que é um dos cursos mais caros (Filipe Bispo / O Liberal)

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A futura odontóloga conta que o que seria destinado a pagar uma mensalidade integral, consegue destinar ao transporte e outras necessidades. "Eu consigo ter essa opção de me manter na faculdade, de pagar a passagem de ônibus, participar de atividades extracurriculares e afins. No meu caso, não apresentei dificuldades em custear as mensalidades pela porcentagem de financiamento que eu consegui, e isso pode ser relativo para cada pessoa, e da faculdade que ela escolhe ingressar também. Na minha turma, por exemplo, metade dos estudantes são de algum programa do Governo Federal", finalizou.

"Sempre tive vontade de ser dentista. Fui muito incentivada pelos meus avós e minha mãe. Agora, na reta final, vejo que valeu a pena passar esses 4 anos e meio, sendo beneficiária do Fies. Eles estavam cientes dos custos, e assim como qualquer faculdade você precisa se dedicar nas aulas. Espero contribuir com os meus conhecimentos, experiências, e mostrar que mesmo que se pareça distante realizar seus objetivos, é possível', concluiu.

Dívida futura com o Fies precisa ser planejada, recomenda consultor financeiro

O contador e consultor financeiro André Charone explica que o estudante precisa ter em mente que, apesar de ser um programa do Governo e facilitar o acesso à educação superior, o FIES é, essencialmente, um compromisso financeiro que o futuro universitário estará assumindo.

"No caso de inadimplência, a pessoa não perde o seu diploma e nem fica impedida de atuar na sua profissão. Mas, ainda assim, sofre as sanções de quem não honra com os seus compromissos financeiros. Da mesma forma que você precisa pagar uma parcela do financiamento da sua casa, você também precisará arcar com essa obrigação. As principais penalidades para quem não paga os débitos com o FIES, destaco: negativação do nome, Inscrição no Cadastro de Inadimplentes (CADIN) e, consequentemente, diminuição do Score de Crédito. O que pode ser muito ruim pra quem está iniciando uma profissão. Imagine que você tenha se formado em contabilidade e precise fazer um empréstimo para ajudar a mobiliar o seu escritório. Você não vai conseguir se estiver com o nome sujo", ponderou.

Charone orienta os estudantes a fazer um planejamento anterior e a partir do início do pagamento do financiamento, pensar no orçamento após se formar. "Prepare um orçamento para que você não falhe no pagamento das mensalidades após formado, especialmente das primeiras. Se possível, já comece a fazer uma reserva mesmo enquanto estiver cursando a graduação. Muitos estágios são remunerados e, mesmo que o valor não seja muito, guardar um pouco para amortizar a dívida após a formatura pode evitar muita dor de cabeça", finalizou.

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