Falta de vagas em leitos clínicos e de UTI na rede particular de Belém desespera famílias

Pacientes chegam a esperar por dias até serem encaminhados a uma vaga em leito

João Thiago Dias

A falta de vagas em leitos clínicos e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na rede particular de saúde da Grande Belém está deixando pacientes com covid-19 e familiares desesperados. Com complicações respiratórias, o agente de trânsito Nelson Cardoso (50) precisou esperar cinco dias numa poltrona da operadora de plano de saúde Unimed Belém, na unidade do bairro de Batista Campos, até conseguir vaga em leito clínico no local.

Na noite do domingo (21), ele deu entrada e foi acomodado em uma tenda montada para os pacientes no estacionamento. Ao longo da semana, foi transferido algumas vezes para salas de observação. Somente na tarde desta quinta-feira (25), foi levado para o leito.

Quem relatou foi a esposa, Iracilda Cardoso, que também testou positivo, mas está com um quadro mais leve e consegue ficar como acompanhante dele na internação. Antes da liberação do leito, ela enviou um vídeo à reportagem, narrando o pânico diante da piora do marido com as condições inadequadas de tratamento.

"Na tenda improvisada, nem banheiro tem. Era uma luta sair com ele com oxigênio para achar um banheiro. Mesmo com medicação, estava piorando deitado de forma errada na cadeira. Fiz um escândalo para tentar conseguir leito. Tem um monte de gente na mesma situação, sem leito. Tudo lotado", relatou Iracilda.

"Estava tão desesperada, que pensei em pedir maca para as pessoas. Só tinha um aparelho de oxímetro para a emergência inteira quando ele chegou no domingo. Comprei um aparelho para ele para ficar observando a oxigenação. O negócio tá feio", reclamou.

A reportagem questionou a Unimed Belém sobre os relatos de Iracilda. Em nota, a operadora disse que "se solidariza com todas as famílias que passam por este momento difícil, de crescimento nos números da pandemia no país". Também comentou que, na capital paraense, o fluxo de atendimento aos pacientes com casos suspeitos e confirmados de covid-19 aumentou e, consequentemente, a taxa de ocupação de leitos ficou sobrecarregada.

"Para suprir essa demanda, nos últimos dias, mais de 100 leitos foram estruturados, em diversos hospitais da rede prestadora, e um anexo está pronto na unidade Doca, além de mais dois em fase de construção nas unidades Batista Campos e BR. A Cooperativa Médica frisa que concentra esforços na busca por mais leitos aos beneficiários, mas, diante do cenário crítico da pandemia, a procura é maior do que a oferta, não só em Belém, mas em todo o Brasil", detalhou.

"Além disso, para ajudar no suporte às unidades de pronto-atendimento, além da clínica ParqueMed, localizada na rodovia Augusto Montenegro, as clínicas Unigastro, no Umarizal, e Unineuro, na Pedreira, passaram a atender, exclusivamente, os clientes da Cooperativa com os sintomas leves da doença, desde o último dia 12", completou.

Capacidade máxima

De acordo com o Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado do Pará (Sindesspa), todas as 17 unidades particulares de internação na Região Metropolitana de Belém estão operando com capacidade máxima há mais de dez dias. Na última semana, houve a expansão do número de leitos de UTI, de 145 para 200. No entanto, todos estão ocupados e não há mais possibilidade de medidas de ampliação.

"Empresas de oxigênio informam que não conseguem abastecer o volume que precisa. Os departamentos de compra não conseguem acompanhar a utilização das medicações para intubação. Contratar mais equipe chegou no limite há mais de uma semana. A reclamação é em todas as operadoras de plano de saúde", explicou o presidente do Sindesspa, Breno Monteiro.

"Nunca, durante esse um ano de pandemia, a gente tinha tido um número tão alto de internações, mesmo com as expansões. Mas os laboratórios associados ao sindicato sinalizam que está caindo o número de exames positivos, o que pode refletir daqui a uma semana ou duas", ponderou. "Mas não tem vagas nem em leito clínico nem em UTI. As pessoas ficam em poltrona, como a imprensa tem mostrado", finalizou.

Defensoria Pública acompanha falta de leitos na rede particular

A Defensoria Pública do Estado, por meio do Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon), comunicou que vem acompanhando, de forma remota, os pedidos de urgência em relação à internação. Em relação à tutela coletiva, no dia 25 de fevereiro de 2021, o Nudecon enviou ofício à Unimed Belém solicitando informações a respeito da atualização do Plano de Contingência para o Enfrentamento à Pandemia da covid-19.

"Diante a resposta, que não trouxe dados concretos em relação ao incremento de leitos, foi enviado à Agência Nacional de Saúde (ANS) um ofício, no dia 24 de março, requisitando a adoção de providências urgentes quanto à limitação de leitos para covid-19 na operadora de saúde Unimed Belém, em conjunto com a Defensoria Pública da União e Ministério Público Federal", pontuou a Defensoria.

No que se refere ao primeiro lockdown, ainda em 2020, a Defensoria Pública disse que fez atuações para outros planos, como Hapvida e Garantia de Saúde. "No entanto, como a maioria das demandas solicitadas são de clientes da Unimed Belém, nessa segunda onda da pandemia da covid-19, as atuações estão concentradas nessa operadora de saúde", concluiu.

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