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Entre ódio cultural e transtorno psíquico, fobias podem ser tratadas

Seja a acrofobia (aversão à altura) ou LGBTfobia (aversão a gays, lésbicas, bissexuais e pessoas trans), essas condições podem gerar sofrimento e dificuldades de vivência

Victor Furtado
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Apesar de entendida como medo, fobia é, na prática, uma aversão classificável como sofrimento psíquico. Pode ser leve, de apenas não querer estar no mesmo lugar ou contexto que o objeto daquele desconforto. Pode ser muito grave, a ponto de causar uma repulsa extrema e fazer a pessoa com a fobia se sentir mal, ter crises de pânico, enjoo e diversas outras reações indesejadas na presença do foco de aversão. Há casos em que a fobia pode ser apenas ódio a determinado segmento social, mas que não necessariamente seja um transtorno da mente. Ambos os tipos de fobias, se causarem problemas, podem ser tratados.

Há algumas fobias muito conhecidas porque foram midiatizadas. Aracnofobia (aversão a aranhas), por exemplo, que é título de um filme. O filme de terror "IT - A Coisa", explora a fobia a palhaços (coulrofobia) para criar um personagem de terror. A aversão a altura (acrofobia) é bem comum. A claustrofobia (aversão a lugares fechados e apertados) também é amplamente reconhecida devido à midiatização, como a personagem Tempestade, dos quadrinhos de X-Men da Marvel.

A psicóloga Rafaela Guedes explica que fobias são sinais de adoecimento psíquico. São conflitos inconscientes que podem se manifestar em relação a qualquer "objeto" ou "gatilho". Podem estar relacionados a um trauma. O fato é que há um sentido para a pessoa que manifesta aquela fobia. Esse é um tipo muito íntimo e intrapsíquico. Há diferentes níveis e que podem gerar ou não problemas.

"Algumas fobias, que podemos classificar como fobias sociais, recentemente ganharam mais visibilidade em pautas sociais. Xenofobia, LGBTfobia, gordofobia... essas, não necessariamente, se encaixam no conceito de sofrimento psíquico. Estão mais relacionadas à subjetivação da cultura, de padrões de perfeição, de modelos de uma sociedade patriarcal, machista, binária e também misógina. Mas assim como o outro tipo de fobia, podem causar problemas de convivência", observa Rafaela.

Os dois tipos de fobia, sejam as psíquicas ou as do ódio e da intolerância, podem ser tratadas com terapia, ressalta a psicóloga. Claro: desde que aquilo esteja gerando problemas e a pessoa sinta necessidade de tratar. A terapia, argumenta Rafaela, é o local da desconstrução e da proposta de reflexões. "Sozinho, nenhum de nós se transforma", conclui.

 

Pessoas com fobias relatam experiências e criticam a ridicularização

 

A tatuadora Letícia Freitas sofre de batracofobia. É a aversão a sapos e rãs. A intensidade do sofrimento é elevada. Tanto que isso costuma pautar onde ela vai morar ou mesmo passar algumas horas. Ela evita ficar em locais onde possa ter um encontro aleatório com o objeto da fobia dela. Nunca procurou tratamento e nem sabia que tinha nome.

"Eu fujo do solo. Moro no 12º andar. Nunca levei muito a sério porque as pessoas acham até engraçado. Mas me causa mal-estar só de ver. Dia desses vi um vídeo de meme num perfil no Instagram: o sapo entrando na casa com as pessoas no chão, eu me arrepiei todinha e fiquei super aflita. Já fiquei sem dormir quando fui pra São Caetano de Odivelas. Lá tinha uma lenda sobre uma bruxa que era 'senhora dos sapos', tinha corpo mórfico misturado com sapo e quando voltei pra Belém fiquei tendo pesadelos", relata.

A professora Carol Meninéa já teve problemas com a motefobia, que é uma aversão a borboletas. Para ela, a ajuda psicológica se torna algo gradativamente necessário. "Pretendo tratar porque isso já me causou muita dor e vergonha. Já saí chorando de sala de aula por causa de uma mariposa. Com ilustrações eu fico agoniada, mas nada muito sério. Se for um objeto no formato, eu me tremo toda. Já com a borboleta e a mariposa eu fico em pânico. Já gritei na rua, saí correndo, chorando. É muito agoniante", conta.

A advogada Andréia Santos possui aversão a baratas, conhecido como catsaridafobia. Para ela, é algo muito grave, sério e ela diz que costuma ser visto como frescura, o que não é. Ela faz tratamento para amenizar o que já causou tantos problemas. "Tenho pavor de baratas. Já desmaiei na rua, saí de um carro de aplicativo no meio do trânsito parado, aos gritos... E o pior: é tão insana a fobia, que muitos acham frescura, fazem chacota e por aí vai. Tenho pavor até do cadáver da barata. Já tive problemas jurídicos. Estava em uma audiência, representando um cliente, e a peste apareceu. Saí correndo, gritando, pedindo ajuda e sentindo falta de ar", relata.

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