Entre o brilho das tendências e o afeto: como os paraenses estão reinventando a decoração de Natal
A tendência de 2025 é ampla e heterogênea, mas com uma marca bastante clara, o excesso
Em 2025, as casas paraense seguem iluminadas não apenas por luzes e enfeites, mas também por histórias afetivas. A decoração de Natal, que há décadas mescla tradição, estética e simbologia, vive hoje um movimento de dualidade, de um lado, as tendências marcadas pelo exagero, pelas cores fortes e por referências internacionais, de outro, a força das memórias, dos objetos carregados de história e do desejo de transformar a casa em um território emocional.
Quem percebe bem esse cenário é o decorador Luiz Henrique Menezes, profissional que acompanha de perto o comportamento dos clientes e a evolução do mercado. Para ele, a tendência de 2025 é ampla e heterogênea, mas com uma marca bastante clara, o excesso. “Laços desproporcionais, bolas grandes, degradês, luz em abundância. O vermelho volta com força total”, explica. Segundo ele, o estilo maximalista continua em alta, inspirado em referências de outros natais, com pinheiros simétricos, cheios e vibrantes.
Ao mesmo tempo, um movimento contrário ganha espaço, o retorno dos Natais passados, carregados de nostalgia. “Os brinquedos de vidro, os enfeites vintage, as peças que lembram infância e avós. Isso tudo está voltando”, diz Luiz. Para ele, essa estética afetiva não é apenas moda, mas uma forma de expressão que encontra aderência especialmente entre clientes mais velhos, que preferem reaproveitar o que já têm e transformar objetos com história em protagonistas da decoração. “No fim, metade das pessoas seguem tendências e metade não. Hoje é muito relativo”, resume.
Luiz observa ainda a influência da internet na hora de montar a árvore. Instagram e Pinterest se tornam bússolas para muitos consumidores, especialmente casais jovens. “Todo cliente já chega com uma referência. Eles mostram uma foto, uma ideia, e isso nos guia”, comenta. Ainda assim, para o decorador, existe algo que nunca sai de moda, o afeto. “A árvore tem que emocionar. Objeto que traz lembrança é tendência eterna”, afirma.
Se para muitos a decoração é questão de estilo, para outras famílias ela é parte viva da própria história. A urbanista e pedagoga Paula Andrea Caluf Rodrigues transformou a tradição natalina em um ritual de amor que cresce junto com sua família, literalmente.
Tudo começou com o nascimento do primeiro neto. “Foi um amor que eu nem sabia que existia”, lembra. Para comemorar a chegada do pequeno, Paula montou uma árvore exclusiva para ele. O gesto virou costume. Hoje, cada neto tem sua própria árvore, com tamanho e estilo que acompanham sua idade e personalidade. São árvores grandes, médias e pequenas que preenchem a casa com significados. A mais nova delas já está reservada para o bebê que está prestes a nascer, o nono netinho, Otávio.
Nenhum Natal da família é igual ao outro. As cores mudam, os temas se transformam, já houve Natal branco, Natal das rosas, Natal dos ursinhos. Em 2024, Paula inovou mais uma vez e criou também a árvore dos avós, repleta de referências clássicas, bolas vermelhas, soldadinhos, laços. “Ela fica atrás do presépio, porque ele é o centro de tudo. O verdadeiro sentido do Natal é o nascimento de Jesus Cristo”, afirma.
A religiosidade, aliás, é parte essencial da celebração familiar. No presépio montado por Paula, o Menino Jesus só aparece à meia-noite, colocado pelas próprias crianças, numa cerimônia que simboliza a chegada de Cristo. Os presentes ficam em segundo plano e, quando chegam, são colocados cuidadosamente aos pés da árvore de cada neto, numa caça ao tesouro que eles aguardam ansiosamente. Para Paula, o Natal é poesia. “Sempre amei essa época, mas com a chegada dos netos tudo ficou ainda mais poético”, diz.
Além das iniciativas individuais, a tradição natalina também ganha força dentro dos espaços coletivos. Em um condomínio da cidade, a decoração já é uma marca registrada há 14 anos, como conta a subsíndica administrativa Elisângela Ribeiro, que assumiu a coordenação da ornamentação neste ciclo.
Segundo ela, a participação dos moradores sempre foi um elemento essencial. “Todos os anos a gente pede auxílio de alguns moradores, que vão dando sugestões. Este ano, por exemplo, nós elevamos o presépio para deixá-lo mais visível, porque às vezes ele ficava escondido. E o presépio é justamente o primeiro significado do Natal”, explica.
Elisângela afirma que a decoração ajuda a transformar o ambiente e a aproximar os vizinhos. “Com certeza agrega mais união e participação. É um período de mais harmonia dentro do condomínio”, destaca.
Apesar do engajamento da comunidade, o investimento é todo feito com recursos administrativos do condomínio. “Nenhum morador contribui financeiramente. É um investimento alto, e este ano já estamos em cerca de 25 mil reais, principalmente com luzes e algumas peças de ferro”, afirma. A ideia é ampliar a decoração nos próximos anos e, quem sabe, voltar a participar dos concursos de condomínios mais decorados. “Nossa meta é que no próximo ano a gente possa concorrer novamente, porque temos muitas ideias que ainda não deu para colocar em prática”, completa.
No campo das tradições familiares, a professora e atriz Ângela do Céu Gonzaga de Vasconcelos leva o espírito natalino para dentro de casa de forma intensa e afetiva. Ela decora todos os ambientes com riqueza de detalhes, hábito que começou ainda na infância. “A minha paixão pelo Natal vem desde quando aprendi na igreja e com meus pais a importância do nascimento de Jesus. Minha mãe era artesã e ornamentava a casa com flores, luzes, arranjos, foi com ela que aprendi tudo”, relembra.
O processo começa cedo, logo após o Círio, em outubro, Ângela dá início à ornamentação, que faz de maneira lenta e cuidadosa. “Eu sou muito detalhista e como trabalho, não tenho tanto tempo. Então preciso começar com antecedência. Ainda não está 100% concluída”, conta.
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