Economia do cuidado: mulheres são maioria em trabalhos doméstico e atividades de cuidado

IBGE aponta que as mulheres dedicam 73% a mais do tempo aos trabalhos domésticos e tarefas de cuidado de outras pessoas quando comparadas aos homens

Emanuele Corrêa

Apesar dos avanços que as mulheres alcançaram - e continuam buscando - historicamente em relação aos direitos e autonomia, algumas questões ainda são invisibilizadas ou subvalorizadas. É o caso das divisões de tarefas domésticas e profissões ligadas ao cuidado, inseridas na "Economia do Cuidado". O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que as mulheres dedicam 73% a mais do tempo aos trabalhos domésticos e tarefas de cuidar de outras pessoas, quando comparadas aos homens.

A economia do cuidado ou "care economy" no inglês, é representada pela execução de trabalhos remunerados ou não, ligados às tarefas domésticas ou cuidados com as pessoas, relacionando o bem estar e sobrevivência, à exemplo das mulheres que não têm empregos formais, mas cuidam da casa e dos filhos. Ou de mulheres que estão em profissões da área da saúde, educação, entre outras, e tem o cuidado como instrumento de trabalho, como as enfermeiras, professoras, secretárias domésticas, assistentes sociais, etc. 

Vanessa Sampaio, gerente de Empoderamento Econômico na ONU Mulheres no Brasil afirma que, de acordo com o Relatório Tempo de Cuidar, elaborado pela Oxfam, o trabalho doméstico não remunerado de mulheres em escala global, se remunerado, geraria 10,8 trilhões de dólares anuais. "As ocupações ligadas ao cuidado, como enfermagem (84%) e trabalho doméstico (92%), de acordo com a Fiocruz e o IPEA são em maioria desempenhada por mulheres. Sem elas a economia não funciona, mas são profissões não remuneradas, mal remuneradas ou fazem parte da economia informal", explicou.

Além do tempo destinado às tarefas domésticas ou de cuidados com as pessoas, ainda tem o tempo mental gasto para planejar as ações, reforça Vanessa. Que exemplifica que, enquanto as mulheres estão no trabalho formal, a cabeça não para de organizar a lista de afazeres. "Ainda tem que cuidar da casa, lavar a louça, ligar para um parente doente ou gerenciar a casa e a vida dos filhos e ou cônjuge. Como esse trabalho é invisibilizado eles não aparecem nas estatísticas", disse.

image Vanessa Sampaio, gerente de Empoderamento Econômico na ONU Mulheres no Brasil afirma que, de acordo com o Relatório Tempo de Cuidar, elaborado pela Oxfam, o trabalho doméstico não remunerado de mulheres em escala global, se remunerado, geraria 10,8 trilhões de dólares anuais. (Ivan Duarte / O Liberal)

Belém poderá ser a primeira capital brasileira a ter plano de Economia do Cuidado

Na segunda-feira (30) a Prefeitura de Belém e a ONU Mulheres formalizaram a parceria. O projeto terá a duração até agosto de 2024 é financiado pela Open Society Foundations.

"Oficializamos por meio de um termo, um memorando de entendimento, com a prefeitura de Belém e a Funpapa, que coordena esse projeto. A longo prazo queremos estabelecer uma política pública, um sistema integrado de cuidados. O projeto vai pilotar em Belém, é inédito no Brasil. Acreditamos que podem inspirar outros municípios. É uma experiência que vai incentivar o protagonismo das mulheres, porque a partir do momento que você formaliza e profissionaliza essas mulheres, elas terão mais tempo para se engajar no mercado de trabalho e sendo valorizadas nas profissões que são maiorias", esclareceu.

42% das mulheres em idade ativa não estão no mercado de trabalho, quando comparadas a 6% dos homens, devido a responsabilidade atribuída às mulheres pelo trabalho não remunerado, aponta o relatório da Oxfam. As atividades domésticas, cuidados com a educação, alimentação, vestuário de pessoas, apesar de ser responsabilidade do individuo e sociedade como um todo, as mulheres ainda são classificadas como "cuidadoras natas", diz Vanessa Sampaio. Para ela, o projeto visa uma mudança de mentalidade e comportamento, para a superação da desigualdade, empoderamento, profissionalização e autonomia das mulheres.

O projeto irá potencializar o que já existe e criar novas oportunidades: programas, serviços, capacitação profissional, afirma a gerente da ONU Mulheres. Destaca que quando as mulheres recebem apoio e tem acesso aos serviços de apoio a primeira infância, creche, ela pode se inserir no mercado de trabalho.

"Muitas barreiras vem do âmbito familiar, se trabalharem quem vai cuidar dos filhos? Barreiras de acesso e mentalidade. Se as mulheres enxergarem que o que estão fazendo em casa é um trabalho, deveriam ser valorizadas e remuneradas, será um ganho. A gente tem uma carga mental e nunca descansa. No trabalho remunerado, por conta da divisão sexual do trabalho, profissões de cuidado - enfermeiras, psicólogas, assistente sociais - são atribuídas as mulheres e tem uma sobrecarga forte que foi intensificada na pandemia, estavam na linha de frente. Professoras nem são lidas dentro dessa economia do cuidado", concluiu.

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