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Doula facilita humanização do parto

Projeto de lei que regulariza a profissão foi aprovado no Senado e segue para a Câmara dos Deputados

Camila Guimarães

No último dia 16 de março, o Projeto de Lei (n° 3946, de 2021), que regulamenta a profissão de doula foi aprovado no Senado Federal e segue, agora, para análise na Câmara dos Deputados. O PL justifica a necessidade dessa regularização por entender que a profissional em doulagem é figura importante para a humanização do parto. Entretanto, ainda existem muitas dúvidas sobre a atuação dessa profissional.

Na origem grega da palavra, a doula é a “mulher que serve a outra mulher”. Na visão de Danielle Brandão, doula formada há 12 anos pelo Hospital Regional Abelardo Santos, em Icoaraci, ser doula “é estar em contato direto com o primeiro momento da vida e lutar pelo respeito ao corpo da mulher, suas decisões e pelo direito de parir bem”.

Danielle, que também é acadêmica de fisioterapia, formadora de doulas e mãe de duas meninas, nascidas de parto normal pelo SUS, conta que acabou se descobrindo na profissão por meio de experiências negativas que sofreu nas suas gestações:

“No meu primeiro parto, em 2010, eu sofri violência obstétrica. Quando eu vivi essa experiência eu percebi o quanto era importante essa pessoa que traz mais proteção pra gente. Por causa disso, eu resolvi fazer o curso em 2012. Ainda assim, na segunda gestação, em 2013, eu sofri violência obstétrica de novo. Mas nesses 12 anos como doula, eu pude ressignificar minha dor e me curar, ajudando outras mulheres”, relatou.

Para Danielle, a figura da doula é fundamental no combate à violência obstétrica: “quando uma gestante chega com uma doula no hospital, a equipe provavelmente entende que ela não é uma paciente qualquer, mas alguém que teve um preparo e que sabe o que pode e não pode acontecer ali”.

image Doula Danielle Moura e a terapeuta integrativa Naiara Cavalca Diniz (Sidney Oliveira / O Liberal)

Ainda que a própria doula não possa reagir em casos de violência obstétrica praticada contra a parturiente, Danielle conta que o acompanhante tem esse direito e por isso é importante que ele participe do preparo oferecido pela doula junto com a gestante.

Por essa razão, Danielle explica que uma das principais missões da doula, na prática, é oferecer um trabalho de educação perinatal para que a parturiente e seu acompanhante possam tomar decisões mais assertivas e se manter firmes também perante condutas violentas e diante do estímulo à cesárea sem real indicação: “É comum alguns profissionais no pré-natal desestimularem a família quanto ao parto natural. Existe um trabalho de desencorajamento muito grande e a família vem carregada de muitos mitos”.

Danielle disse, ainda, que profissionais de saúde e doula têm atuações distintas e que não podem se sobrepor no momento do parto, mas devem cooperar de forma harmoniosa. "A doula não faz ausculta, não verifica batimentos cardíacos e outras coisas da área médica, por isso é importante estar alinhada com os profissionais de saúde”.

Entretanto, a Danielle diz que ainda é um grande desafio ter o espaço da doula reconhecido, sobretudo dentro de alguns ambientes hospitalares e por isso considera o projeto de regularização da doulagem muito importante.

“Ainda há muita resistência da equipe técnica nas maternidades, alguns olham com um preconceito muito grande, como se fôssemos desnecessárias. Se, em alguns casos, mesmo diante da lei, a presença do acompanhante ainda é vetada, imagine o que acontece com a doula”, lamenou a doula.

Mães relatam a experiência positiva com a doula

Para Juliane Pantoja, mãe da Marina de oito meses de vida, a presença da doula antes e durante sua experiência de parto foi fundamental, pois ofereceu suporte profissional e emocional ao mesmo tempo.

image Juliane Pantoja relata experiência positiva com doula (Ivan Duarte / O Liberal)

“Foi extremamente importante, porque além de uma profissional, você está com alguém que tem um vínculo de confiança muito grande, mas que também é diferente do papel do pai ou de outro acompanhante da família. É alguém que dá um auxílio emocional, mostrando que você é capaz e, além de tudo, entende da fisiologia do parto”, diz Juliane.

Já a terapeuta integrativa Naiara Cavalca Diniz (33), que está na segunda gestação, já aos nove meses, veio de São Paulo para Belém e fez questão de manter, aqui, o acompanhamento com doula, da mesma forma como teve na primeira gravidez.

"Eu fiz questão de ter esse acompanhamento aqui. Além de me auxiliar na escolha do local, ela me ajuda no planejamento do parto, me dá apoio emocional, ajuda com métodos não farmacológicos para alívio da dor e sem contar no acolhimento em geral. Me sinto muito mais segura", garante Naiara.

E a legislação?

Com a aprovação do PL n° 3946, de 2021, a doula se torna legalmente reconhecida como a profissional que oferece apoio físico, informacional e emocional à mulher durante a gravidez e o puerpério (fase pós-parto). Para atuar, é necessário que a pessoa tenha diploma de ensino médio e formação técnica em doulagem.

Também estarão regulamentadas doulas que já vinham exercendo a profissão, comprovadamente, pelos últimos cinco anos. Além disso, o documento também assegura que a presença da doula não exclui a presença de acompanhante de livre escolha da pessoa grávida.

No Pará, não existe um serviço específico de doulagem disponível na rede pública de saúde, conforme explica a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).

No entanto, a secretaria recomenda que as unidades permitam o acesso de doulas, "como fortalecimento das ações em prol da saúde materna e infantil durante o trabalho de parto, parto e puerpério, obedecendo diretrizes que permitam maior humanização do processo", diz em nota.

Faz parte do trabalho da doula:

- Oferecer informações sobre gestação, parto e pós-parto baseadas em evidências científicas atualizadas;

- Orientar e apoiar a pessoa grávida durante o trabalho de parto, inclusive em relação às posições mais confortáveis para o processo;

- Informar à parturiente e administrar os métodos não farmacológicos para alívio da dor;

- Estimular a presença e participação de acompanhante.

Não faz parte do trabalho da doula

- Utilizar ou manusear equipamentos médico-assistenciais;

- Realizar procedimentos médicos ou de enfermagem;

- Administrar medicamentos;

- Interferir nos procedimentos técnicos dos profissionais de saúde.

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