Documentos falsos no Pará: PF registra quase 500 inquéritos instaurados em mais de 2 anos

O meio digital preocupa e beneficia o combate à falsificação de documentos

Bruno Roberto | Especial para o O Liberal

No Pará, a Polícia Federal (PF) registrou 487 inquéritos instaurados que envolvem o uso de documentos falsos, de 2023 até 4 de junho de 2025. Esses documentos podem ser usados para cometer diversos crimes, como estelionato e fraudes financeiras, seja para benefício próprio individual ou de uma organização. Com o avanço da tecnologia, as possibilidades de falsificação aumentaram e, como resultado, os riscos às pessoas também.

O uso de documentos falsos é considerado um crime-meio, ou seja, o infrator comete o crime com a finalidade de realizar outra infração. Dessa forma, o documento falso é a base de inúmeros tipos de crime, como fraudes contratuais e falsificação de identidades. “Por exemplo, a pessoa não tem a idade necessária para receber um benefício. Então, ela cria um documento que atribua a ela essa idade para poder dar uma entrada na instituição com o pedido do benefício”, exemplifica o Delegado Roger Morgado.

Entre os crimes que envolvem documentos falsos, os mais comuns são as tentativas de desvio de dinheiro por contas de terceiros criadas com documentações falsas, a fim de impedir o rastreio, e os crimes previdenciários, cujos criminosos utilizam os documentos para conseguir benefícios indevidos, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Além disso, são recorrentes os crimes de entrada na justiça com documentos falsos e aqueles que afetam a Caixa Econômica Federal, por exemplo, os saques de precatórios irregulares.

Balança de Inquéritos

A produção de estatísticas sobre o uso de documentos falsos é um desafio, pois os outros crimes englobam o crime-meio no registro dos sistemas de segurança. “O documento falso está presente em praticamente todas as operações da Polícia Federal. Por exemplo, crime previdenciário geralmente sai como estelionato. O estelionato absorve o crime-meio”, explica o Delegado Roger Machado.

image Delegado Roger Morgado explica o uso de documentos falsos (Foto: Thiago Gomes | O Liberal)

Contudo, a Polícia Federal do Pará disponibilizou os números de inquéritos instaurados, envolvendo documentos falsos, dos últimos dez anos, de 2015 a 4 de junho de 2025. Os números não apresentam uma grande variação, mas há uma diminuição quando os sistemas de segurança trabalham de forma integrada. “Quando um Estado integra com outro, diminui a ocorrência. Por exemplo, a pessoa não consegue tirar um passaporte se já tiver uma impressão digital cadastrada”, relata o Delegado Roger Machado.

Nos dados referentes a 2025, a Polícia Federal do Pará registrou 72 inquéritos envolvendo documentos falsos no Pará. Em 2024, foram registrados 185 casos, uma queda em comparação com 2023, ano em que constaram 230 inquéritos instaurados, que envolvem documentos falsos.

O ano de 2016 registrou o maior número de inquéritos instaurados, com 304 casos, seguido por 2018 com 257 registros. A respeito dos menores números, destacam-se 2020 com 124 inquéritos e 2022 com 153 inquéritos.

No total, a média anual é de 200,4 inquéritos instaurados envolvendo documentos falsos no Pará.

Confira os dados por ano:

  • 2015: 190
  • 2016: 304
  • 2017: 239
  • 2018: 257
  • 2019: 174
  • 2020: 124
  • 2021: 148
  • 2022: 153
  • 2023: 230
  • 2024: 185
  • 2025 (até 4/6): 72

Riscos

Como os documentos falsos são utilizados para diversos tipos de crimes, desde finalidades que beneficiarão indivíduos até grandes organizações, as pessoas podem ser afetadas negativamente de inúmeras formas – as vezes sem nem desconfiar. Logo, desde um estudante de pré-vestibular até grandes populações indígenas podem ser impactadas pelo uso de documento falso.

“É muito amplo. Tem documento falso, por exemplo, para conseguir legalizar a extração de madeira em terra indígena. Ao mesmo tempo, para conseguir uma vaga no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)”, detalha o Delegado Roger Morgado.

Impactos da tecnologia

O avanço das tecnologias resulta tanto em desafios quanto em benefícios para o combate e fiscalização de documentos falsos. O uso de inteligência artificial, aplicativos de foto e outros recursos são ferramentas que podem ser usadas nos dois lados.

Após a pandemia da covid-19, os processos passaram a ser feitos digitalmente, o que é um desafio à perícia de documentos físicos. “Quando a pessoa vai ao banco e vem alguma irregularidade em um documento que deu entrada, chega para nós uma foto do documento, o que dificulta a perícia”, explica o Delegado Roger Morgado. Por conta disso, o delegado defende que a digitalização de documentos deve diminuir a ocorrência de documentos falsos.

Ao mesmo tempo, processos antigos e manuais de falsificação de documentos são substituídos pelo uso de aplicativos, que produzem em grande quantidade. Dessa forma, o Delegado Roger Morgado destaca que é fundamental prestar atenção nas validações que os documentos digitais apresentam.

A inteligência artificial é outra ferramenta que pode beneficiar os órgãos de segurança. “Uso de inteligência artificial com base de dados grandes ajuda muito. Você tem 5 mil nomes, como que vai pôr alguém para verificar? A inteligência artificial faz em 15 minutos”, argumenta o Delegado Roger Morgado, que destaca ainda a importância da integração de base de dados para aprimorar ainda mais as investigações.

Operação “Nome Falso”

A operação “Nome Falso”, deflagrada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Pará (Ficco/PA), é uma ação que atingiu resultados por conta do trabalho de integração entre a Polícia Federal, Polícia Civil do Pará e Secretaria de Administração Penitenciária (Seap). A Ficco/PA visa combater o crime organizado, cujos documentos falsos são usados pelas facções para cometer crimes.

A Operação “Exílio”, iniciada em 2020 pela PF, em Mato Grosso do Sul, revelou a existência de um grupo de criminosos no Pará, que produziam e distribuíam documentos ideologicamente falsos. Dessa forma, surge a operação “Nome Falso”, a fim de investigar os crimes no Pará.

Os documentos falsos tinham como objetivo acobertar a identidade e a condição de foragidos de membros de facção criminosa. O grupo expedia documentos como Certificado de Dispensa de Incorporação, Carteira de Trabalho Digital, NIT, CPF e título eleitoral, por meio de órgãos federais e estaduais.

Apurou-se que o cartório eleitoral que emitia as certidões de nascimento está localizado em Santa Izabel (PA) e a emissão das carteiras de identidade eram realizadas em Belém (PA).

Durante a investigação, foram identificados indícios de que servidores públicos atuavam com a produção e validação dos documentos fraudulentos. “Conseguimos identificar que os títulos de eleitor eram retirados com a mesma pessoa, a certidão de nascimento era do mesmo cartório. Inclusive, esse cartório já tinha sido objeto de investigação na operação ‘Ressurreição’. Com isso, fizemos a operação para atacar esses servidores que estavam emitindo esses documentos fraudulentos”, explica o Delegado Lucas Sales.

image Delegado Lucas Sales fala sobre operação "Nome Falso" (Foto: Thiago Gomes | O Liberal)

A ação resultou em três mandados de busca e apreensão. As investigações continuam em andamento para identificar outros participantes da organização criminosa.

Denúncia

Caso uma pessoa descubra uma situação que envolva o uso de documento falso, ela deve identificar se o caso é de atribuição da Polícia Federal ou Estadual e realizar a ocorrência. “Ela identificou um documento falso em um procedimento na Caixa Econômica Federal, a pessoa tem que fazer a ocorrência na PF. Se foi num banco privado, ela deve ir à Polícia Civil”, explica o Delegado Roger Morgado.

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