Dia Internacional da Amizade: grupo celebra laços criados na canoagem em Belém
Especialista destaca a importância da amizade para a saúde mental

O Dia Internacional da Amizade, comemorado neste domingo (20), é uma oportunidade especial para refletir sobre o valor das conexões humanas em um mundo cada vez mais acelerado. Em meio à rotina intensa, à solidão disfarçada das redes sociais e ao ritmo exigente das grandes cidades, a amizade verdadeira continua sendo um porto seguro. Em Belém, um grupo de seis amigos encontrou esse abrigo em um lugar pouco convencional: dentro de uma canoa.
Foi remando pelas águas da baía do Guajará que Nanda Baniwa, Gisele Dias, Ian Conceição, Thaiza Dias, José Neto Vieira e Célia Cordeiro se conheceram e criaram laços que hoje ultrapassam as margens do rio e o tempo das remadas. Alguns chegaram ao grupo em 2023, outros em 2024, mas todos foram atraídos pela canoagem — esporte que mistura força, resistência e, acima de tudo, coletividade. Eles costumam se reunir ao amanhecer ou no fim da tarde, para remar do porto da Marina de Belém, localizado na avenida Bernardo Sayão, até a Ilha do Combu. No percurso, dividem sorrisos, banhos de rio, pores do sol e histórias que transformaram conhecidos em grandes amigos.
“Sou instrutora e pratico canoagem há bastante tempo. E, nesse meio, sempre vão surgindo novas pessoas, novos laços. É uma amizade que começa ali na água e vai crescendo. Costumamos dizer que a água conecta. E conecta mesmo. Já virou algo que vai muito além do esporte, virou parte da minha vida”, conta Nanda Baniwa, 21 anos, instrutora de canoagem e universitária de psicologia. Com o tempo, os encontros passaram a acontecer também fora da canoa: reuniões em casa, partidas de vôlei, saídas para comer ou simplesmente conversar. “Quando a gente percebe, já tá dividindo confidências, lanchando junto, marcando rolês aleatórios. Aí já era: ninguém larga mais ninguém”, brinca ela.
A prática da canoagem exige ritmo e sintonia entre os remadores. Não à toa, esse espírito colaborativo se reflete também nas relações que nascem ali. Célia Cordeiro, aposentada de 60 anos e remadora assídua, encontrou nas águas um espaço de afeto e pertencimento. “A gente não consegue viver sem amigos. A água é fluida e vai nos levando a encontros. Onde a gente passa, dá bom dia, boa tarde, boa noite. A amizade é isso: é estar de mãos dadas com o outro, querer o bem do outro. Amor é amizade, amizade é amor”, reflete.
José Neto Vieira, professor de história e também instrutor, lembra com carinho e humor das histórias vividas juntos. “Uma vez fomos de canoa até Cotijuba e voltamos. Foram 60 km no total. Voltamos uma hora depois da última canoa, mas foi tão divertido que o cansaço passou batido. O que faz a gente aguentar essas jornadas é a união”, conta.
Além das boas risadas, das celebrações e das aventuras, os amigos destacam a importância da rede de apoio nos momentos difíceis da vida. “Se não for um amigo pra você chorar no ombro, a gente cai”, diz Célia. As conexões foram se aprofundando a ponto de surgirem vínculos familiares: José Neto é filho de Célia e, hoje, namora Nanda.
Mais do que uma prática esportiva, a canoagem se tornou, para eles, um caminho de encontro, saúde emocional e descoberta. O contato com a natureza ajuda a desacelerar, aliviar o estresse e abrir espaço para conexões verdadeiras. O grupo reforça que amizades podem nascer nos lugares mais inesperados — desde que haja espaço para o afeto e para o encontro.
Especialista diz que amizades fortalecem a saúde mental e refletem quem somos
Ter amigos ao longo da vida não é apenas uma questão de companhia ou afeto: é também um fator importante para a saúde emocional e o bem-estar. Em um mundo cada vez mais conectado digitalmente, mas emocionalmente isolado, os vínculos de amizade ganham ainda mais relevância. Um relatório da Comissão sobre Conexão Social da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em julho de 2025, aponta que uma em cada seis pessoas no mundo é afetada pela solidão, com impactos significativos na saúde. A solidão está associada a cerca de 100 mortes por hora — mais de 871 mil mortes todos os anos.
É nesse cenário que a psicóloga Silvia Vasconcelos reforça a importância das amizades como rede de apoio complementar aos laços familiares. Para ela, a presença de pessoas com quem se pode conversar com liberdade, sem julgamentos, é uma das maiores forças de sustentação nos altos e baixos da vida.
“Ter pessoas ao seu redor é essencial porque é aquela conversa que você vai ter fora do contexto familiar, é alguém com quem você pode contar em uma rede de apoio que se estende além dos laços de sangue”, afirma.
Mais do que quantidade, o importante é a qualidade dessas relações. Segundo Silvia, manter muitos amigos pode ser desafiador diante das exigências da vida adulta — e tudo bem. O que realmente importa é cultivar vínculos verdadeiros, alinhados com os próprios valores. “Às vezes, a sua realidade permite que sejam dois, três ou quatro amigos — mas que realmente façam diferença, que sejam presentes”, explica.
Outro ponto levantado pela psicóloga é a necessidade de autenticidade nas relações. Amizades sólidas se sustentam na sinceridade e no respeito mútuo, onde há espaço para ser quem se é, com vulnerabilidades e opiniões, sem medo da rejeição. A maturidade, segundo ela, ensina também a importância de reconhecer quando um ciclo se encerra — e que encerrar uma amizade pode ser tão saudável quanto cultivá-la.
“Amizade boa é aquela em que você pode ser você mesmo. É quando, em cinco minutos, você se permite ser quem é, até com pensamentos que você teria vergonha de expor, mas tem um amigo que entende, brinca, te faz enxergar de outra forma, sem apontar o dedo ou te julgar”, diz Vasconcelos.
Ela também destaca que a presença nas amizades não depende apenas da proximidade física, mas de gestos simples: uma mensagem, uma música, um café compartilhado sem distrações. Estar verdadeiramente presente — mesmo que por pouco tempo — é o que torna a amizade significativa.
*Estagiária do Núcleo Atualidades sob supervisão de Fabiana Batista
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