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Dia do Orgulho Autista: com maior inclusão, pessoas com TEA conquistam sonhos com estudos

As instituições de ensino precisam adaptar os processos de aprendizagem, além de atuar junto com as famílias de pessoas com TEA

Bruno Roberto | Especial para o O Liberal

Nesta quarta-feira (18), é celebrado o Dia do Orgulho Autista, que visa promover a valorização da neurodiversidade e o combate ao preconceito contra a pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A data é importante para conquistar uma sociedade cada vez mais inclusiva, a fim de que as pessoas com TEA consigam viver com dignidade e alcancem seus objetivos sem adversidades extraordinárias, como a realização de sonhos por meio da educação.

Aos 18 anos, Richard Pires, que tem autismo nível 1 de suporte, conseguiu a aprovação na faculdade de jornalismo – curso que sempre sonhou em fazer. “A sensação é muito boa. Fiquei muito feliz, porque meu sonho sempre foi fazer jornalismo”, conta o universitário apaixonado por radiojornalismo.

image Richard Pires sempre sonhou em cursar jornalismo (Foto: Adriano Nascimento | Especial para O Liberal)

A conquista da entrada na faculdade emocionou os pais do Richard, que conseguiram ver o filho no ensino superior, apesar das adversidades. “Foi motivo de muito orgulho, porque a gente vem de uma batalha muito árdua. Encontramos muitas dificuldades em adaptar a educação para ele, mas ver ele cursando uma faculdade nos emociona”, comenta Rivanil Pires, pai do Richard.

image A aprovação de Richard Pires é motivo de orgulho aos pais (Foto: Adriano Nascimento | Especial para O Liberal)

Para conseguir chegar no ensino superior, o jovem de 18 anos relata que as pessoas com TEA ainda enfrentam dificuldades pela pouca inclusão oferecida nas instituições de ensino, além do bullying sofrido. “Os desafios foram muitos. A falta das adaptações adequadas aos conteúdos, que sempre foram muito difíceis. O bullying também”, disse Richard, que tem uma nova meta. “Quero ter a oportunidade de entrar no mercado de trabalho”, completa.

Entrada no mercado de trabalho

Breno Souza Sampaio, de 24 anos, é formado em fotografia e está na faculdade de design gráfico desde 2024. “Quando eu entrei na minha primeira faculdade, de fotografia, na pandemia, foi uma boa sensação de aluno estreante. Na faculdade de design, foi um pouco duvidoso, mas conforme as informações foram chegando, eu fui ganhando mais confiança para seguir em frente”, conta o jovem.

O seu irmão, Mateus Souza Sampaio, de 26 anos, concluiu um curso técnico de aquicultura e entrou no curso de licenciatura em música, este ano. “Fiquei muito feliz pela oportunidade de um novo ciclo, um novo diploma chegando. A pessoa nunca deve parar de estudar, porque quanto mais diplomas, melhor o conhecimento”, comenta o estudante, que, igual seu irmão, tem autismo nível 1 de suporte.

image Cezarina Souza e Waldermar Sampaio junto com os filhos Breno Sampaio (à direita, de vermelho) e Mateus Sampaio (à esquerda, de verde) (Cezarina Nobre Souza)

Para os pais de Breno e Mateus, a satisfação de ver os filhos no ensino superior é a realização de um sonho que não parecia possível. “Ver os nossos filhos conquistando a vaga no ensino superior foi uma grande realização. Não pensávamos nessa possibilidade, que foi se desenhando aos poucos. É uma grande alegria, porque é uma prova da superação das dificuldades”, relata Cezarina Souza, mãe dos irmãos.

A conquista de uma segunda formação é importante, porém foi motivada pela falta de espaço no mercado de trabalho. “O Breno fez um curso de fotografia, mas não teve emprego. Ele atua duas vezes na semana em uma instituição pública como servidor voluntário. O Mateus é formado, mas também não conseguiu emprego, nem mesmo no serviço voluntário”, informa Cezarina.

Instituições de ensino precisam capacitar toda a equipe

Segundo a pedagoga e analista de comportamento Flávia Silva, as instituições de ensino precisam realizar adaptações curriculares e estruturais para garantir que os estudantes com TEA consigam ter um aprendizado de qualidade. As adaptações incluem fornecer material escolar adaptado e acompanhante terapêutico para prestar ajuda aos alunos com TEA.

“A adaptação curricular é uma das maiores barreiras. Tudo isso se dá pela falta de informação, que ainda é o maior fator que gera grandiosos prejuízos no que tange à educação inclusiva, desde a educação infantil até o ensino superior”, informa Rose Mary da Costa, mãe de Richard Pires.

Outro ponto importante sobre a inclusão das instituições é a atenção em investir na formação de toda a equipe de funcionários de uma escola, não só dos professores. A instituição deve valorizar a formação dos estagiários, porteiros, equipe de limpeza e outros profissionais que vão estar em contato com os estudantes com TEA.

Importância da família no processo de ensino-aprendizagem

Além das instituições de ensino, a pedagoga Flávia Silva ressalta a importância da família no processo de ensino-aprendizagem. “A família tem papel fundamental na vida escolar. Precisa haver uma parceria entre a família e a escola para que a educação tenha um resultado eficaz”, informa.

Rivanil Pires concorda que a família é ponto-chave para o aluno com TEA ter um melhor aprendizado. “Sempre buscamos mostrar de que forma o Richard aprende, como podemos dar suporte como família para que a instituição possa evoluir com ele. Quem conhece do nosso filho somos nós, então sabemos como ajudar. A família é fundamental para esse processo de troca de informações para que a faculdade e as escolas possam incluir de fato”, conta.

Divulgado em maio de 2025 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Censo Demográfico 2022 identificou 2,4 milhões de pessoas com diagnóstico de TEA, correspondendo a 1,2% da população brasileira, sendo 1,4 milhões de homens e 1 milhão de mulheres diagnosticados com autismo por algum profissional de saúde.

A taxa de escolarização das pessoas com autismo (36,9%) é maior em comparação com a observada na população geral (24,3%). No ensino fundamental, foram registradas 508 mil pessoas com autismo matriculadas, sendo 66,8% dos estudantes com TEA no Brasil. Já no ensino médio, o IBGE registrou 93,6 mil estudantes com autismo, o que representa apenas 12,3% dos que frequentavam a escola. 

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