'Dia do médico': voluntariado e reflexões sobre a atuação médica na pandemia

Entre abril de 2020 e junho de 2021, 92 médicos faleceram no Pará, em decorrência do coronavírus. No Estado 10.256 médicos atuam exercendo a profissão

Emanuele Corrêa

Nesta segunda-feira (18) é comemorado o Dia do Médico, profissional que precisa além de embasamento científico exercer seu ofício de forma humanizada. Neste contexto de pandemia - sem esquecer a importância dos demais profissionais da linha de frente - os médicos foram e são indispensáveis no tratamento das pessoas doentes ou sequeladas pela Covid-19. Essa categoria também entrou nas estatísticas da doença, pois entre abril de 2020 e junho de 2021, 92 médicos faleceram no Pará, em decorrência do coronavírus. No Estado 10.256 médicos atuam exercendo a profissão.

Tereza Cristina de Brito Azevedo, presidente do CRM-PA reconhece a atuação árdua da categoria em mais de 1 ano em meio de pandemia e diz que a data será comemorada com homenagens e palestras, com uma programação que irá de 18 a 22 de outubro, na sede do CRM-PA. “A pandemia mudou a forma de nos relacionarmos. Nós médicos tivemos que nos adaptarmos de várias formas para estarmos mais próximos de nossos pacientes, até mesmo de amigos e familiares. Este ano, vamos falar de superação. Vamos celebrar o dia do médico valorizando a nossa profissão, homenageando colegas e debatendo temas relevantes”, destacou a presidente.

Além da atuação clínica, muitos médicos decidem se voluntariar em espaços de atendimento social ou utilizar a arte também como ferramenta que auxilia na cura. Vitor Nina é especialista em medicina de família e comunidade e médico da Rede de Consultórios na Rua de Belém, além de ser professor da UFPA e coordenador de um projeto de pesquisa para pessoas em situação de rua. "Atuo na referência para essa população, assim como para refugiados. Na UFPA coordeno um projeto de ensino, pesquisa e extensão para pessoas em situação de rua chamado 'Externato'. Minha experiência é atuando com pessoas em situação de rua e refugiados, situações de crise, como, por exemplo, o manejo clínico dessas populações durante a pandemia", explica.

Vitor relembra que ingressou ainda em 2014 no consultório de rua e desde então é muito ativo em Belém e reforça que iniciativas como essas são fundamentais para a dignidade e saúde humana. "O Consultório na Rua é um serviço de atenção primária em saúde que atua diretamente nos cenários de grande fluxos de pessoas em situação de rua, assim como de abuso, dependência química e tráfico de drogas. Nos espaços de rua, realizamos o cuidado onde o sujeito está, oferecendo acolhimento, escuta qualificada em saúde mental, manejo de doenças mais prevalentes como tuberculose e hanseníase, além da assistência psicossocial, com restauração de vínculos familiares e mesmo reinserção laboral", conclui.

O médico Fernando Mateus Brandão, clínico geral acredita que a arte também auxilia nos tratamentos e melhora do quadro do pacientes. Desde 2016 realiza um trabalho como palhaço na Trupe de Palhaços RUAceiros e esteve mais atuante até o ano passado.

"Em 2019 e 2020 atuei como ministrante na Oficina de Palhaçaria Terapêutica junto com minha noiva Carolina Ventura que é psicóloga. Eu sempre enxerguei arte e medicina como faces da mesma moeda. Hipócrates, pai da medicina, prescrevia aulas de teatro para seus pacientes, logo, se o criador da ciência médica já conversava com as artes, eu não poderia seguir um caminho diferente. Nunca tive a pretensão de 'curar' nenhuma doença com arte. O teatro e, para mim, especificamente o palhaço, são um convite a olhar e viver o mundo de uma forma diferente e, utilizando as ferramentas obtidas com a prática dessas atividades, conseguimos manejar nossa percepção sobre eventos que antes nos causariam sofrimento. É como se palhaçaria fosse as lentes dos óculos, que não curam a miopia, mas te ajudam a ver o mundo de uma forma melhor e sofrer menos com isso", observa o médico.

"Durante esses anos pude atender pessoas que começaram a oficina com quadros severos de depressão e ansiedade, principalmente, mas que puderam usar das ferramentas da palhaçaria pra se desprenderem e amarras do passado e ressignificar episódios de sofrimento que lhes perturbavam até hoje. Mas como eu disse, a palhaçaria, por si só, não é algo milagroso, é um adicional, um algo além que pode ajudar principalmente quem já está em tratamento com outras abordagens tradicionais e cientificamente embasadas como a psicoterapia e o uso de psicofármacos", pondera Fernando.

Eliane Fonse, médica infectologista encontrou no voluntariado no Centro Social Santo Agostinho uma forma de atender um desejo pessoal, que era prestar assistência a população mais carente de uma forma mais ampla, para além da anamnese e prescrição médica, ela conta que foi na docência que conheceu o espaço, que é atendido por profissionais de várias áreas. "O que me levou a  ser voluntaria em projetos sociais foi perceber a dificuldade de acesso a saúde que muitos pacientes têm. Falo em saúde em seu mais amplo conceito e não apenas na ausência de doença. Notei desde recém formada, que muitos pacientes não melhoravam de seus problemas de saúde, apesar de tomarem seus medicamentos adequadamente, porque faltava ir além da receita: cuidar da alimentação, do emocional. Eu queria isso: Ir além da prescrição - conversar, saber das dores físicas e psíquicas, das relações familiares e como era importante cuidar não só do doente, mas, destas relações", ressalta.

"Foi paixão a primeira vista! Lá, atendemos a população do bairro de Canudos e adjacências. Há atendimento médico, odontológico, serviço social, psicologia, cursos profissionalizantes diversos, dança, acupuntura...ou seja, o paciente é cuidado de forma integral e, podemos ensinar aos nossos alunos a importância da relação médico-paciente no processo de cura. Podemos ensinar a conhecer o paciente pelo nome, assim como conhecer o contexto social em que está inserido e propor mudanças de hábitos, comportamentos e de vida", finaliza.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Belém
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM BELÉM

MAIS LIDAS EM BELÉM