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Dia da Amazônia: reflexões e lutas para a preservação da maior reserva natural do planeta

O bioma Amazônia possui 5,5 milhões de km², dos quais 74% está no território brasileiro

Emanuele Corrêa / O Liberal
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A Amazônia é a maior reserva natural do planeta, celebrada no último domingo, dia 5 de setembro. A data chama atenção da sociedade civil e de gestores para a sua importância e a necessidade de conservação. O bioma Amazônia possui 5,5 milhões de km², dos quais 74% está no território brasileiro, correspondendo a 40% do território nacional. O restante localiza-se no Peru, Guiana Francesa, Guiana Inglesa, Suriname, Venezuela, Equador e Bolívia. No que compete à Amazônia brasileira, os Estados que a compõem são: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima e parte dos estados do Maranhão, Mato Grosso, Rondônia e Tocantins.

Jakeline Ramos Pereira, engenheira florestal e pesquisadora do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) fala sobre a importância da data, a relevância do bioma para a sobrevivência: "esse dia é importante para recordar os benefícios da Amazônia para o Brasil e para o mundo. Ela é detentora de um grande estoque de carbono armazenado em suas florestas, e esse carbono está diretamente relacionado à manutenção do clima do país e global. Hoje falamos de mudanças climáticas, eventos ocorrendo no mundo, o Brasil é importante. Essas florestas são responsáveis pelo ciclo da água, essencial, como vemos através dos rios voadores, manutenção das chuvas de forma local e que levam essas águas para o sul e sudeste do país", ressalta.

Jakeline diz que apesar da importância que o bioma tem, ainda sim, precisam lutar para a sua manutenção e conservação, pois "temos 19% do território desmatado. Cada mês é um recorde de desmatamento. Fogo devido às secas e aberturas de áreas de pastagem em larga escala, área de garimpo. Hoje os povos e populações tradicionais sofrem com as grilagens de seus territórios, invasões em seus territórios. As áreas protegidas que são essenciais para a conservação da Amazônia. Esses povos que usam essas áreas de maneira sustentável, estão sendo pressionados ou expulsos de seus territórios para fazer área de garimpo", explica.

Para criar agendas de lutas e de conservação ambiental, aliadas ao desenvolvimento sustentável que a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) existe. Angela Kaxuyana, povo Kahyana, da terra Indígena Katxuyana e Tunayana fala dos principais desafios. "Nós enquanto povos indígenas olhamos essa data como mais um dia de luta e resistência pela permanência e manutenção das florestas em pé. Ela só amplia para a sociedade, para que possa dar atenção devida. Nós povos indígenas estamos na luta e na defesa dos territórios todos os dias", comenta. E explica os maiores desafios: "conscientização da humanidade, para entender a importância das florestas. O valor dela. A floresta em pé é a vida das pessoas em pé. O maior desafio é que a demarcação de terras indígenas está paralisada, então, com a não demarcação e não reconhecimento dos territórios indígenas, vulnerabiliza as invasões, as queimadas, o desmatamento. Nós temos a consciência de que a demarcação de territórios indígenas têm sido um dos importantes instrumentos de frear todo esse desmatamento. O desafio maior de 2021 é esse cenário de pandemia. Estamos isolados, mas os invasores não estão isolados. Continuam invadindo, desmatando e as próprias atividades de fiscalização paralisadas, fragilizam esses territórios", pontua.

Na última semana 6 mil indígenas estão acampados em Brasília (DF), acompanhando a votação do "Marco Temporal", que no entendimento do "marco" terras indígenas só podem ser demarcadas se ficar comprovado que os indígenas estavam naquele terra em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. Kaxuyana explica que os povos indígenas estão constantemente nessa luta. "Nós povos indígenas não só da Amazônia, mas de todo o Brasil, estamos em grande mobilização, inclusive em Brasília. Durante a votação do marco temporal. Mobilização que estamos desde julho. Neste momento estamos acompanhando a votação do marco temporal, que é um projeto de lei que coloca em risco a vida das populações indígenas, dos territórios indígenas", explica. "Trazer essa pauta de conscientizar a humanidade da importância de manter a floresta e territórios protegidos, que elas são a garantia do clima, aqui durante o acampamento Terra Livre", finaliza.

Preservação, sustentabilidade e identidade

Eliane Potiguara, escritora, professora e embaixadora da paz pelo círculo de escritores da França e Suíça, fala sobre a importância das identidades indígenas e quilombolas, no contexto da Amazônia. "Etnias indígenas e quilombolas têm o foco de suas vidas na identidade. É a identidade indígena ou étnica que garante os direitos indígenas, segundo a ONU e a Declaração Universal dos Direitos dos Povos indígenas, trabalhados durante um período de 30 anos, onde eu estive 6 anos seguidos defendendo as demandas nas plenárias em Genebra. A Amazônia é o pulmão dos povos que ali vivem como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, seringueiros, quebradeiras de coco, enfim o povo local. A importância é não só se beneficiar com os recursos naturais, que o bioma oferece. Mas defender de forma radical a sobrevivência para o futuro das família e gerações futuras. A data serve para lembrar à sociedade brasileira que estamos ligados no direito à vida, e o bioma nos oferece essa dádiva. Serve também para chamar a atenção dos brasileiros que a vida não é só a urbana. É uma chamada à responsabilidade de todo brasileiro. A Amazônia oferece o oxigênio ao planeta", afirma.

Márcia Wayna Kambeba do povo Omágua/Kambeba, é geógrafa e doutoranda em estudos linguísticos (UFPA). "Para os indígenas de modo especial nós não nos consideramos defensores da natureza, porque entendemos que somos a própria natureza. Ela se comunica e nessa comunicação entendemos que ela tem espírito, acreditamos nos seus guardiãs como o curupira, Matinta e quando alguém violenta a natureza eles aparecem. Mas os povos indígenas aprendem com a natureza a tirar dela o necessário para sua subsistência, isso para que seu recursos não venha a exaurir", explica Márcia sobre o entendimento sobre a preservação. "É preciso por fim se sentir 'Amazônia', ter pertencimento e identidade. Antes de se sentir paraense é preciso sentir-se amazônida. Requer compromissos com esse bioma tão rico e tão violentado. Como uma indígena geógrafa, digo, não basta dizer: 'SALVE A AMAZÔNIA'. Se não tiver ação, serão apenas palavras jogadas ao vento sem uma ação coberta e atuante. Como indígena convido você a se sentir Amazônia e ainda a se sentir cedro, mogno, angelim, sucuuba, violeta, rio Guamá, rio Tucunduba e a somar na luta pela manutenção do nosso bioma", finaliza.

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Belém
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