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Cursinhos preparatórios para o Enem estão de portas abertas

Acadêmicos da UFPA também vão oferecer vagas gratuitas a estudantes de famílias com baixa renda

Elisa Vaz

Até o ano passado, apenas 16,5% da população acima de 25 anos havia concluído o ensino superior, de acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para dar mais oportunidades a quem deseja ingressar em um curso de graduação, vários projetos oferecem aulas preparatórias gratuitas aos vestibulandos. É o caso do projeto “UniTodos: da periferia à universidade pública”, direcionado a alunos de escola pública que cursam o ensino médio no bairro da Pratinha, em Belém.

Organizada por acadêmicos de diversos cursos da Universidade Federal do Pará (UFPA), a iniciativa, que começou ano passado, surgiu a partir da dificuldade de ingresso no ensino superior, do déficit na educação pública no nível médio e dos altos índices de reprovação e evasão escolar, principalmente da região Norte.

De acordo com a organização, a primeira atividade realizada pelo projeto foi em outubro do ano passado, em uma aula de revisão para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em parceria com Escola Estadual Clube de Mães Sagrada Família, que cedeu espaço da sala de aula. As aulas oficiais do cursinho vão começar no final de março, com inscrições abertas a partir desta segunda-feira (2). O local onde as disciplinas obrigatórias do exame serão ministradas ainda não foi divulgado.

No projeto oficial da equipe, consta que entre 30 e 100 alunos serão beneficiados com a iniciativa. Na avaliação da professora Pamella Raiol, o bairro da Pratinha é muito carente, e por isso é interessante atuar nas redondezas. “Moro aqui desde sempre e precisamos sair do bairro para resolver qualquer coisa. Quem quer fazer cursinho também precisa ir para o centro, e o transporte é muito difícil. O bairro precisa de projetos como esse. Percebo a carência, há vontade de fazer faculdade, mas sem caminhos para trilhar”, disse.

Toda a atuação do UniTodos terá o apoio de estudantes de graduação das áreas do Enem e professores já graduados, possibilitando uma troca de aprendizado entre todos os participantes. Uma das finalidades é atingir ainda mais estudantes secundaristas da rede pública de ensino impactados com a execução do projeto. A ideia é que os estudantes e professores saiam do cursinho com muito mais experiência, desnaturalizando diferenças sociais que ampliam o preconceito e a intolerância ao conhecer, compreender e aprender a respeitar as singularidades de cada aluno, segundo a organização.

A metodologia de ensino em 2020 será de aulas semanais aos sábados e domingos, com as disciplinas de matemática, biologia, história, geografia, redação e educação física, sendo que essa última será na quadra, no último horário do sábado. A organização acredita que essa é uma forma de fomentar o esporte na comunidade como ferramenta de inclusão social e instigar a presença dos alunos nas demais disciplinas. Também haverá apostilas de exercícios e treinamentos de tempo para cada questão, preparando os alunos para os processos seletivos de forma complementar às escolas. No total, 37 professores voluntários fazem parte da iniciativa, além de outras 12 pessoas que auxiliam a organização voluntariamente, com a estruturação das aulas, movimentação nas redes sociais, modos de conseguir dinheiro para movimentar o projeto e outras atividades.

Os interessados podem se inscrever com documento oficial com foto e comprovante de residência. Para manter a vaga, será necessário, ao final de cada trimestre, possuir frequência acima de 75%. Ao final do cursinho, será disponibilizado aos alunos um documento contendo um resumo das principais matérias abordadas pela prova e os exercícios.

Outra ação desenvolvida pelo grupo é de receber doações de quem já passou pelo processo de ingresso no ensino superior. Qualquer material escolar é aceito pela equipe, como cadernos, canetas, apostilas, livros e outros itens.

Prefeitura abriu cursinho gratuito este ano

Outra oportunidade para quem se prepara para o Enem 2020 é o cursinho pré-vestibular da Prefeitura de Belém, com 1.200 vagas, no total, destinado a alunos de escolas públicas ou bolsistas integrais. Há as turmas Extensivo Enem 2020, Militar 2020 e Medicina 2020 nos turnos da manhã, da tarde e da noite; e a turma Extensivo Enem Outeiro, no polo do distrito, funcionando na Fundação Escola Bosque (Funbosque), no turno da noite.

Como as aulas já começam na próxima segunda-feira, as inscrições foram encerradas, mas o professor Branco Ramos destacou que, a cada ano, o cursinho busca oferecer o melhor para o aluno. “Em 2019, a turma de medicina foi um grande desafio e já temos aprovações. No polo de Outeiro também. Isso é um trabalho em conjunto com professores experientes, ou seja, a fórmula é trabalhar com professores que têm expertise em vestibular e assim não tem erro. Estamos aqui para ajudar cada vez mais pessoas a conquistarem a aprovação”, ressaltou.

O grande diferencial do curso preparatório, neste ano, é o projeto “Premil”, que trabalha a redação de uma forma global, incluindo noções de direito constitucional, filosofia, sociologia, biotecnologia e artes, além do projeto “Promais”, que reforça a matemática básica aos alunos. Outro detalhe é que 10% das vagas ofertadas serão destinadas ao projeto Escrevendo e Reescrevendo a Nossa História (Pernoh), do Ministério Público do Trabalho (MPT), que atende jovens adolescentes em situações de vulnerabilidade.

Alunos que já passaram pelo cursinho e conquistaram uma vaga em universidades públicas destacam a qualidade do ensino e o acolhimento dos professores. A estudante Stefanie Leão Gaia, de 25 anos, moradora da Pratinha, passou em medicina veterinária na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e em medicina na Universidade do Estado do Pará (Uepa). Ela lembra que foi difícil conciliar trabalho e estudos, mas que o cursinho foi essencial para sua aprovação.

“Foi difícil trabalhar e estudar, além da falta de dinheiro para o transporte e lanche, mas consegui. Sou a primeira da família materna a passar em uma universidade pública. O cursinho foi muito importante para mim tanto na questão de conteúdo quanto psicológica”, disse Stefani.

A história de Eliezer de Almeida Costa, de 24 anos, morador no bairro da Água Boa, no distrito de Outeiro, também é de gratidão. Ele fez, pela primeira vez, o cursinho e foi aprovado em física na UFPA, matemática na Uepa e história na Universidade da Amazônia (Unama).

“Quando surgiu a oportunidade de fazer o cursinho, agarrei, para não ficar mais um ano estudando por conta própria. Devo minha aprovação a todos os professores do cursinho. Eles diziam que eu ia passar e fui me dedicando mais aos estudos. Sou o filho mais velho e o primeiro a entrar em uma universidade. É muito gratificante para ilha de Caratateua, que precisa de projetos como este, com professores bem preparados. Sou eternamente grato a eles que se esforçaram para nos ajudar”, contou o estudante.

Vão participar da seleção alunos que já concluíram o ensino médio em escola pública ou como bolsista integral em escola particular e que tenham participado do Enem ou estejam no último ano do ensino médio.

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Belém
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