Coleta de resíduos sólidos gera emprego a ribeirinhos do Combu

Região das ilhas de Belém gera 7 toneladas de resíduos sólidos por semana

Fabyo Cruz

O descarte irregular de resíduos sólidos é um problema que pode causar danos ao meio ambiente e à saúde dos seres humanos. No Complexo de Ilhas do Combu, localizado na orla fluvial de Belém, onde são geradas 7 toneladas de resíduos sólidos por semana, a coleta dos despejos em residências e restaurantes reduziu velhos hábitos inapropriados, como a queima e o despojo nos rios. Com o apoio das cooperativas, constituídas pelos próprios ribeirinhos, o serviço ganhou adesão e confiança da população, gerando emprego e funcionalidade na atividade na área insular da capital.

Aproximadamente mil pessoas habitam e/ou trabalham na região formada pelas ilhas do Combu, Muturucum, Aurá e Ilha Grande. A primeira delas se destacou nos últimos anos pela crescente na gastronomia e no turismo, evidentes sobretudo aos finais de semana quando recebem volumosa quantidade de visitantes, entre eles, viajantes, a procura do tradicional açaí paraense, chocolate produzido com cacau selvagem, peixes da região amazônica, especiarias e uma bela paisagem.    

O maior volume de resíduos sólidos produzidos no Complexo de Ilhas do Combu é coletado às segundas-feiras, somando entre 3,5 a 4 toneladas, conta Adenizio Moraes, fiscal de coleta da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan). O servidor afirma que grande parte dos resíduos sólidos recolhida pelas cooperativas é oriunda dos restaurantes da Ilha do Combu e a menor fatia é despachada pelos ribeirinhos. Resto de comida e garrafas de vidro são expedidos comumente em estabelecimentos. Nos demais dias da semana são produzidos cerca de 800 quilos de resíduos sólidos.

“Podemos dizer que a Ilha do Combu é a que dá mais trabalho digamos assim. Devido a quantidade de restaurantes existentes nesse local, consequentemente muitos resíduos são produzidos por lá também. Nós vamos ao Combu às segundas, quartas e sextas-feiras para fazer a coleta. Como os estabelecimentos recebem muitos visitantes nos finais de semana, na segunda-feira já tem bastante lixo aguardando pelo recolhimento”, disse Adenizio Moraes.

Por conta da disparidade em relação à produção de lixos nas ilhas, a coleta dos resíduos ocorre em dias distintos.

Como funciona a coleta de resíduos sólidos nas ilhas do Combu?

A coleta de resíduos sólidos inicia às 7h30 e termina às 10h30, podendo ter horário alterado em virtude da altura da maré e da quantidade de entulho despachado. Na Ilha Grande, o serviço é realizado nas segundas e quintas-feiras. No Murutucum ocorre dia de terça e sexta-feira. No Aurá, o recolhimento é feito às quartas-feiras.

image Coleta de resíduos sólidos no Complexo de Ilhas do Combu (Thiago Gomes / O Liberal)

A operação é efetuada da seguinte forma: um barco e duas lanchas fazem a retirada dos sacos de resíduos sólidos que ficam depositados no trapiche das residências e dos restaurantes. As embarcações menores acessam os lugares de difícil acesso e fazem o transbordo para a embarcação maior.

Os resíduos sólidos são colocados dentro de contêineres, cada barco transporta entre dez a 15 contêineres, dependendo da demanda. Ao final, todo lixo é transportado para o Aterro Sanitário de Marituba.

Três cooperativas fazem o serviço no Complexo do Combu, uma delas é a Coopertrans, que possui seis anos de existência e tem como um dos seus presidentes Anderson Nascimento, 46 anos, morador da ilha.

image Anderson Nascimento, presidente da cooperativa (Thiago Gomes / O Liberal)

Ao todo, 30 funcionários, todos ribeirinhos, trabalham na empresa. Para Anderson, o fato de ter moradores das ilhas atuando na coleta da região é importante por aproximar o serviço dos demais habitantes e dar oportunidade de emprego à comunidade local.

image Um barco e duas lanchas fazem a retirada dos sacos que ficam depositados no trapiche das residências e dos restaurantes do Complexo do Combu. (Thiago Gomes/O Liberal)

“Um dos objetivos da cooperativa era fazer com que as pessoas daqui tivessem emprego, e ela está gerando essa oportunidade para os ribeirinhos das quatro ilhas do complexo. É melhor ter pessoas das ilhas trabalhando na coleta, que já conhecem toda logística, do que empresas de fora para trazer o trabalho. Nós já conhecemos tudo por aqui. Fico feliz por isso”, comentou Anderson Nascimento.

Ao chegarem nos trapiches das residências e restaurantes, os sacos com resíduos sólidos já estão à espera, facilitando o serviço. O fiscal de coleta Adenizio Moraes disse que, quando um morador quer tirar uma dúvida sobre o trabalho de coleta de resíduos sólidos, procura o próprio vizinho que trabalha com o serviço.

Também há um grupo no WhatsApp onde eles tiram outras dúvidas. A internet funciona bem por aqui. Esse conjunto de coisas facilitou bastante o trabalho de recolhimento de lixo. Os rapazes da coleta conhecem tudo por aqui, pois eles são daqui. O serviço da forma que acontece hoje em dia começou no dia 10 de março de 2021. A princípio fizemos várias reuniões com eles, testes também, até que o trabalho fosse executado definitivamente”, diz Adenizio Moraes.          

image A coleta de resíduos sólidos inicia às 7h30 e termina às 10h30, podendo ter horário alterado em virtude da altura da maré e da quantidade de entulho despachado. (Thiago Gomes/O Liberal)

 

Restaurantes são responsáveis pela maior quantidade de resíduos sólidos da Ilha do Combu

Mauro Ribeiro, coordenador de educação ambiental da Sesan, assegura que um trabalho prévio de conscientização com o meio ambiente precisou ser feito com os habitantes e donos de estabelecimentos do Complexo do Combu. Ele diz que era necessário definir alguns conceitos.

“Todo lixo é resíduo sólido. E nele existe: o rejeito, ou seja, aquilo que não serve mais, como o papel higiênico e a fralda descartável; a compostagem, que pode ser reaproveitável, como resto de comida e a verdura; o reciclado, aquele que retorna novamente para a indústria, como o papel, metal, alumínio e o ferro; os líquidos também são considerados resíduos sólidos”, explicou Mauro Ribeiro.

O servidor ressalta que os restaurantes da Ilha do Combu são os maiores geradores de resíduos sólidos do Complexo. Ele diz que o reaproveitamento é um dever dos proprietários e destaca um bom exemplo de estabelecimento que reutiliza sobras de alimento para a produção de biogás.

“Há um restaurante do Combu que é exemplo na gestão de resíduos sólidos. Lá, os restos de alimentos viram compostagem através de um biodigestor, gerando o gás que será utilizado na própria cozinha deles. Isso reduz em torno de 26 quilos, por dia, de resíduos que poderiam ser para o aterro sanitário e não vão. Além disso, fazem compostagem, reaproveitamento de garrafa, é o único estabelecimento que tem essa experiência formidável na Ilha do Combu”, afirmou.          

Antes das coletas de resíduos sólidos serem realizadas nas casas e estabelecimentos do Complexo do Combu, o descarte era comumente incinerado a céu aberto, a prática é considerada como uma das principais fontes de poluição do ar. Para Rafaela Silva, 30 anos, moradora da Ilha Grande, o serviço da Sesan junto às cooperativas reduziu significativamente a poluição do meio ambiente.

“Ainda tem muita gente mal educada que continua queimando lixo nos quintais ou até mesmo jogando nos rios, mas depois desse serviço que vem até às nossas casas, mudou muito. Hoje, é possível notar que os rios e o ar estão mais limpos”, disse a ribeirinha.

O professor Cecílio Ferreira, 59 anos, também reside e leciona a disciplina de conhecimentos gerais no Anexo Escolar Nazaré, na Ilha Grande. Ele lembra que antes era frequente ver sacolas plásticas cheias de lixos boiando nos rios. A queima ao ar livre também era comum, recorda o educador:

image Professor Cecílio Ferreira (Thiago Gomes / O Liberal)

“As pessoas levavam os resíduos para o fundo dos seus quintais, colocavam várias folhas do açaizeiro em cima e os queimavam. Alguns até jogavam nos rios. Quem mora mais próximo de Belém levava para o porto da palha, onde ficam alguns contêineres”, lembrou.

Belém busca se tornar referência ambiental em manejo de resíduos sólidos

Conforme antecipou Mauro Ribeiro, a educação ambiental da Sesan realizará um processo de formação de qualificação de moradores das ilhas para tentar zerar ao máximo a produção de lixo que vai para o aterro sanitário.

“Vamos promover oficinas de boas práticas de manejo de resíduos sólidos, oficinas de compostagem, qualificação de ribeirinhos para serem educadores ambientais da própria ilha. Queremos ter uma referência ambiental aqui em Belém, das próprias ilhas, em relação a esses resíduos”, projetou o coordenador.

Especialista da UFPA sugere projetos para região insular de Belém

Neyson Mendonça, engenheiro sanitarista e professor da Faculdade de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal do Pará (UFPA), sugere que fossem implantados no Complexo de Ilhas do Combu contêineres, que segundo ele são de baixo custo e adequados para receber material reciclado. Em relação à parte orgânica, o especialista recomenda a implantação de compostagem e digestão anaeróbia da matéria orgânica para a produção de biogás.

“Se realizado dessa forma teríamos a adesão da população e continuidade das ações de gerenciamento de resíduos sólidos, aliada à sustentabilidade, porque a população estaria utilizando o biogás como fonte de calor”, comenta o educador.

O engenheiro sanitarista sugere ainda a realização de um programa de comunicação permanente e trabalho voltado à valorização dos resíduos e não apenas da coleta de resíduos.

image Neyson Martins afirma que a separação dos resíduos de forma correta ajuda na preservação do meio ambiente (Akira Onuma / O Liberal)

 

“Seria importante que as pessoas tivessem a informação sobre a quantidade de resíduos que serão armazenados, os dias de coletas diferenciadas para coletas específicas, por exemplo, de plástico, papelão e outros resíduos recicláveis que precisam ser transportados. Além disso, esse seria o programa de comunicação teria que ser enfatizado para habitações, restaurantes e escolas para termos uma separação mais efetiva, mantida ao longo de vários anos”, explicou.

Quanto à valorização dos resíduos, o educador refere que devem ser informados pelo programa de comunicação quais resíduos estão com melhor valor no mercado.

“Por exemplo, como funciona o processo de comercialização da latinha, o preço por quilo da lata ou do plástico, para motivar a população a reciclar os resíduos e também não talvez comercializar, mas sim se beneficiar com alguns tickets de troca, que de repente ajudariam na redução da tarifa elétrica ou na compra de algum subproduto  nas feira e mercados. Isso daria um aspecto melhor de valorização ao resíduo”, sugeriu Neyson Mendonça.  

Confira os dias e horários da coleta de resíduos sólidos:

  • Ilha do Combu: Segunda-feira, Quarta-feira e Sexta-feira

  • Ilha Grande: Segunda-feira e Quinta-feira

  • Ilha Murutucum: Terça-feira e Sexta-feira

  • Ilha do Aurá: Quarta-feira

Horários: das 7h30 às 10h30 (podendo mudar conforme o nível do rio)

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