Colecionismo: mais que uma paixão, um hábito que preserva a história

Prática é uma das principais aliadas na proteção histórica de povos e culturas

O Liberal
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Há séculos que o ato de colecionar faz parte da vida de muitas pessoas. Figurinhas, moedas, garrafas de cerveja, bonecos... Não tem padrão e nem regras para ser colecionador. Afinal, o que leva alguém a gastar dinheiro com coisas que ficarão guardadas? Por que é preciso tê-las, e não só saber que elas existem? Para o historiador alemão Philipp Blom, colecionar algo tem a ver com o sentimento de grupo. Para além de crianças e adolescentes, muitos adultos são movidos pelas memórias que um determinado objeto ajuda a manter vivo. 

Para o artista visual Sérgio Fiore, objetos aparentemente banais podem atingir enormes valores para uma pessoa. "Acredito que faz parte das etapas do desenvolvimento humano o ato de colecionar. O interesse em conhecer e acompanhar um determinado assunto, apoiando na aquisição de itens, e também o amor afetivo, movido pelas memórias que um determinado objeto ajuda a manter vivo. Essa curiosidade, essa busca por se conectar às boas memórias são inerentes a nós", explica Sérgio, uma referência no assunto e coordenador de um grupo voltado a essa temática.

image Coleção de He-Mans e os bonecos Mestres do Universo (Sidney Oliveira / O Liberal)

A coleção de alguém pode funcionar como um resgate histórico, um "fio" que o liga às memórias da própria vida ou a admiração pelo o que é colecionado. É um hábito que pode ser  praticado por todos, sem distinções.  As coleções são formadas por seus praticantes, no nível desejado ou possível.  O valor financeiro pode ser a única diferença, mas com o mesmo significado afetivo.

"Eu coleciono  bonecos e figuras de ação. Além disso, procuro guardar as caixas e  cartelas originais, mesmo já os tendo retirado dela. Guardo em uma pasta ou fotográfo. Ali está contido um registro de época também. O material promocional, a linguagem de 20, 30 anos atrás... Fabricantes já inexistentes, referências fotográficas... Nosso país tem uma certa dificuldade para preservar sua própria história e memória. De alguma forma, o colecionador retém um compêndio de  informações que servem a um determinado público. E como existem colecionadores distintos, com acervos igualmente distintos, falamos aqui de informações que, talvez, você não encontraria em um museu tradicional e  que ajuda também na missão de conservação histórica", pontua.

O valor das coleções

Colecionar não é uma tarefa difícil ou muito cara. Para os praticantes, o passo inicial é estabelecer um tema que você goste. É o caso do servidor público Eduardo Benigno, 40 anos, que coleciona He-Mans e os bonecos Mestres do Universo, além de um vasto material de Playmobil,  pequenos bonecos com partes móveis, e uma série de objetos, como veículos, animais e outros elementos. 

image Benigno apresenta a coleção de Playmobil que mantém em casa (Sidney Oliveira / O Liberal)

"Quando criança, éramos humildes, via meus vizinhos ganhando presentes e me sentia triste, mas entendia das prioridades de minha mãe.  Comecei de forma muito tímida minha coleção, foi em uma farmácia que encontrei a primeira peça. Comprei e fui pesquisar na internet grupos de colecionadores. Ao longo de 6 anos, já se soma um valor em itens muito significativo e mais de 4000 bonecos", conta o funcionário público. 

A secretária executiva trilíngue Flávia Maia é colecionadora de Barbies, as famosas bonecas dos anos 1980, e de Funkos Pop, bonecos (cabeçudinhos) colecionáveis. Ela conta que a paixão pelo colecionismo iniciou na infância, com os presentes que ganhava. "Fui agraciada com avós maravilhosos, que sempre me presenteavam com bonecas e eu tinha muito cuidado com elas. Hoje, tenho mais de 200 bonecas Barbie. Depois que eu casei, colecionar coisas se intensificou. Meu marido também é colecionador. Ele é cinéfilo, tem dezenas de filmes e objetos relacionados a isso. Desde 2019, demos início a nossa coleção juntos e com mais afinco em 2020, quando descobrimos a Funko Pop", conta Flávia.

Os relatos podem não ser parecidos, mas o amor pelos que cada um sente pelo o que foi construído ao longo de tantos anos. As coleções se relacionam com a vida, descrevendo sua adolescência, momentos importantes e outros aspectos fazem parte de suas histórias. "Meu objetivo nunca foi ter uma grande coleção. Porém é quase impossível quando você vai comprando e não se apaixonando pelas peças. É muito nostálgico, me emociona" explica Eduardo.

A professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) Ligia Simonian, PHD em Antropologia, pontua que "a prática é uma atividade humana bastante antiga, portanto, é parte do desenvolvimento humano". "Assim, quer as pinturas, quer as inscrições em pedra, certamente são manifestações de colecionismo, de algo materializado para ser perpetuado. Também, as obras de arte ou de uso cotidiano, que acompanham os enterramentos desde os primórdios da cultura e das civilizações, podem ser consideradas em seu conjunto como coleções ou bens colecionáveis".


(Karoline Caldeira, estagiária sob a supervisão de Ana Carolina Matos, de O Liberal)

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