Último Arrastão do Pavulagem celebra a diversidade, a cultura e o meio ambiente em Belém
Festa contou com plantio de cinco mudas de ipê em frente à sede do Instituto Arraial do Pavulagem

Entre pernaltas, batuques e uma explosão de cores, o quarto e último domingo (6/7) do Arrastão do Pavulagem nesta temporada reuniu milhares de brincantes em Belém. Antes da saída para o cortejo, o encerramento teve um momento especial: o plantio de cinco mudas de ipê — nas cores amarelo, rosa, branco e roxo — em frente à sede do Instituto Arraial do Pavulagem, no Boulevard da Gastronomia. Essa ação simbólica reforçou o tema deste ano, Arraial da Floresta, representando o compromisso com o cuidado e a preservação da cidade.
Desde as 9h da manhã, o Batalhão da Estrela se reuniu na Praça da República com a população para participar da tradicional Roda Cantada. A partir dali, o cortejo percorreu as ruas de Belém com muita música, alegria e diversidade, seguindo até a Praça Waldemar Henrique, acompanhado pelos bois Máscaras Alce, da comunidade Ponta Bom Jesus (São Caetano de Odivelas), e o Malhadinho, parceiro histórico do Arraial.
Ronaldo Silva, um dos fundadores do Arrastão, destacou que a festa representa o fim de uma etapa. “Esse momento é de uma culminância gigantesca que inclui quatro cortejos. Boi de São de São Caetano é outra novidade, que a gente quer, a cada ano, trazer para que o pessoal do Batalhão (da Estrela) possa conhecer a nossa cultura de perto e confraternizar”, disse ele.
O encerramento do cortejo teve um espetáculo musical da banda Arraial do Pavulagem, com participações especiais, com destaque ao show de Dona Onete. Também se apresentaram Luê, Grupo Sancari, Antônio de Oliveira, Allan Carvalho, Rafael Veredas e Heitor Carvalho.
Durante os domingos anteriores, o Arraial recebeu outros grupos tradicionais como os bois Faceiro (Colares), de Banda (Igarapé-Miri) e o Boi de Rodas da Associação Bem Viver, além de artistas e mestres da cultura popular como Laurene Ataíde, Normalina, Valéria Paiva, Nazaré Pereira, Kim Marques, Vittória Braun, Íris da Selva, Os Pássaros Urbanos, Cordão Colibri e o artista visual And Santtos.
Do Boi Malhadinho à inclusão: cortejo celebra diversidade e tradição
Um dos destaques foi a comitiva inclusiva formada por dezenas de pessoas, entre elas crianças neurodivergentes e pessoas com deficiência física, em uma iniciativa da Associação Bem Viver, de Santa Luzia do Pará, que propõe uma forma adaptada de brincar com o boi. Como integrante dos brincantes que aproveitam o cortejo em cadeiras de rodas, estava a aposentada Rosângela Botelho, de 64 anos, que participa pelo segundo ano consecutivo.
“É uma experiência de liberdade, de integração, de valorização”, define. Neste ano, que destacou a inclusão e a diversidade, ela se sentiu ainda mais acolhida. “É excelente. A gente tem nosso espaço. O Pavulagem abraçou a causa, abrindo espaço para pessoas com todos os tipos de deficiência.” Ao se despedir do último domingo de festa, confessa: “Pena que é o último dia. Queria que fosse o ano todo”.
Vestindo a tradição com orgulho, Alexandro Dias, de 36 anos, desfila no Arrastão como barriqueiro e artesão do boi Malhadinho — figura que representa com paixão e raízes profundas. “É uma inspiração que a gente traz desde criança e vai passando entre gerações, pros nossos filhos. É uma cultura viva do nosso estado do Pará e do bairro do Guamá”, afirma. Para ele, mesmo sendo o último domingo do ciclo 2025, o sentimento é de continuidade: “É o último do ano, porque o Arrastão volta todo ano. A cultura popular também segue viva”.
O Arraial também encanta os pequenos, que dão um show de alegria ao longo do percurso. Fantasiados, Pietro Siqueira, de 7 anos, e Heitor Miranda, de 8, esbanjam animação entre uma dança e outra. Já Thaíza Bittencourt, de 42 anos, funcionária pública, aproveitou para levar o filho Carlos Eduardo, de 8, pela primeira vez. “A gente veio pelas redes sociais, vendo o pessoal comentar e postar. Tá tudo lindo, colorido, vibrante… estamos adorando”, contou.
Dos pernaltas à percussão: integrantes do Pavulagem se despedem com emoção
Equilibrando-se com leveza sobre pernas de pau, o doutorando Luís Henrique Xavier, de 26 anos, é um dos representantes dos pernaltas, que dão altura — e alma — aos cortejos do Pavulagem. Desde 2019 no grupo, ele fala sobre o esforço por trás da magia que encanta as ruas de Belém. “Nós somos um dos primeiros a chegar no batalhão, porque tem que fazer maquiagem, se alongar... tudo isso gera um cansaço. Mas quando a gente encontra todo mundo arrumado, em pé, a energia muda. É uma alegria que não tem tamanho.” Para ele, o Arrastão é mais do que festa: é cultura viva que se movimenta com saberes, cor e felicidade.
Na batida firme da percussão, Natália Rocha, de 28 anos, e Édson Palheta, de 53, ajudam a dar ritmo e emoção ao cortejo do Arraial. Estreante na ala, Natália se encantou com o maracá, instrumento tradicional da festividade. “A energia daqui é surreal. É tudo tão bonito, as cores, as fitas… vai te conectando à cultura de Belém, à cultura do Pará. É impossível não se emocionar.” Para ela, tocar é um ato de entrega e conexão. Já Édson, que atua como ASG e completa uma década no grupo de percussão, lembra que antes apenas admirava de longe. Quando o turno de trabalho mudou, agarrou a chance de viver o sonho. “O último tem um tom de despedida", disse ele.
Sustentabilidade e Re x Pa da Reciclagem
A edição 2025 do Arraial do Pavulagem reforçou o compromisso com a sustentabilidade e a conscientização ambiental. Ao longo dos cortejos, mais de 3 toneladas de resíduos recicláveis foram recolhidas com apoio da Cooperativa Concaves. Entre os materiais estão 875 kg de plástico, 630 kg de vidro, 608 kg de papelão e 397 kg de metal, em um esforço coletivo por um cortejo mais limpo e educativo.
Uma das novidades deste ano foi o “Re x Pa da Reciclagem”, que transformou a rivalidade entre Remo e Paysandu em uma disputa ecológica. Lixeiras nas cores dos clubes foram instaladas na Praça Waldemar Henrique, e os resíduos são pesados ao fim do evento. A torcida que reciclar mais vence simbolicamente a rodada, promovendo uma competição amigável em prol do meio ambiente.
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