Bosque Rodrigues Alves recebe samaumeiras cultivadas de árvore que caiu na Praça Santuário
Crianças em passeio escolar participaram da iniciativa de valorização e preservação da flora amazônica

Na manhã desta quarta-feira (6), o Bosque Rodrigues Alves recebeu o plantio coletivo de seis mudas de samaumeiras. O evento marcou o lançamento do Santuário das Samaumeiras, que contou com a presença de crianças em passeio escolar. As mudas foram cultivadas a partir de uma árvore que caiu por deterioração na avenida Generalíssimo Deodoro, próximo a Basílica de Nazaré, em 2023. A iniciativa foi realizada pela Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), em parceria com o Instituto Amigos da Floresta Amazônica (Asflora), que é responsável pela coleta de sementes na capital paraense.
O Bosque Rodrigues Alves, considerado o Jardim Botânico da Amazônia, foi escolhido para o plantio devido as condições ideais para o desenvolvimento da espécie samaumeira, conforme explicou a Diretora do Departamento de Gestão de Áreas Especiais, Ellen Eguchi. “Antes da queda da árvore, próximo à Praça Santuário, o Asflora recolheu algumas sementes da samaumeira. Após perder a árvore de grande valia, o Asflora já tinha seis mudas e resolveu plantá-las tanto na região de ilhas, quanto no Bosque, porque aqui tem as características edafoclimáticas para o plantio. É importante dizer que aqui é um fragmento de mata virgem da floresta amazônica, então nada melhor do que esse clima, relevo e umidade para albergar essas espécies”, afirmou.
Seis mudas foram plantadas, três em cada canteiro, onde poderão crescer à vista da população em uma área entre a jaula da jaguatirica e o Chalé de Ferro.
De acordo com a bióloga Josiane Freitas, as espécies irão se desenvolver rapidamente no local em que foram plantadas. “O plantio é feito no período chuvoso, por isso será monitorada também essa questão da climatização e adubação. É uma espécie de grande durabilidade na natureza, que tem um crescimento muito rápido mesmo, então acredito que em dois anos, ela estará com um porte elevado, porque ela só precisa de luminosidade e como foi plantada no canteiro com essa exposição, vai crescer bastante, principalmente porque a chuva da tarde vai ajudar”, pontuou.
Em termos de ecologia, a samaumeira é vista como mãe da floresta, conforme detalhou a bióloga. “Ela é a mãezona da floresta, porque vai servir de ninho para várias espécies de aves, além de iguanas. Ela atrai Meliponíneos (abelhas nativas do Brasil, também conhecidas como abelhas sem ferrão) para fazer a troca dos gametas, das flores para as outras espécies que estarão ao lado. Então ela cumpre esse papel muito importante, ajudando também nas trocas genéticas das samaumeiras, que é um enriquecimento genético. A árvore clímax precisa de um certo tempo para se considerar adulta, que é o período em que ela já está dispersando as sementes. E nós já temos essa troca de sementes entre as nossas nativas", explicou.
No período de inverno amazônico, as sementes embelezam os cenários da cidade e Josiane Freitas revelou o motivo. “O interessante é que o fruto parece um algodão. Então, sempre no período chuvoso, no inverno amazônico, fica tudo branquinho nos canteiros. Porque ela dispersa, e dentro desse algodão, tem a semente. Então, fica cheio de sementes de samaumeira espalhadas, tudo esbranquiçado, é a coisa mais linda”, expressou.
No total, Freitas estima que o Bosque Rodrigues Alves seja abrigo para mais de cinco árvores de samaumeiras adultas.
Além dos benefícios para o meio ambiente, a espécie é considerada sagrada para muitos povos indígenas, segundo informações da bióloga. “Muitos cultuam a samaumeira como a rainha da floresta, a mãe. Ela pode chegar até 70 metros de altura e o diâmetro é bastante grande. Ela tem sapopemas (raízes largas) que fazem toda a exuberância dessa espécie e muitas etnias indígenas a enxergam como sagrada, além de que muita gente utiliza na questão medicinal também, então ela é amparada por lei. Não podemos mexer sem autorização e vamos fazer todo o trabalho possível para que ela chegue na fase adulta”, acrescentou.
O fundador do projeto Água Vida, ambientalista e fotógrafo, Mário Barila, esteve presente no plantio para contemplar a preservação. “Eu já tenho várias ações aqui na Amazônia e quando o pessoal do Asflora me procurou para organizar o plantio, porque eu já tinha feito várias outras coisas com eles, eu dei a ideia de plantar nas comunidades ribeirinhas. Plantamos na Ilha da Cotijuba, sempre em lugares com crianças, com escola, é super importante envolver. E para finalizar esse plantio, eu sugeri que a gente plantasse em um lugar que fosse acessível, que a população de Belém pudesse visitar as mudas, as árvores, e surgiu a ideia de plantar aqui no Bosque Rodrigues Alves", contou.
Para o ambientalista, a plantação é fundamental para a preservação da espécie no centro urbano. “Plantamos seis mudas de samaumeira e com a participação da criançada foi um evento que vai marcar aqui. É muito simbólico, justamente no ano em que Belém vive a COP30. A gente vai sempre associar, por exemplo, daqui a dez anos você vai lembrar que o plantio foi no ano da COP 30 e a samaumeira já estará com vários metros de altura. Vai ter essa associação entre o plantio hoje e o evento, que está super perto e vai ter essa associação para sempre”, finalizou.
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