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Belém tem o primeiro laboratório da América Latina, que emite selo vegano com tecnologia molecular

Pesquisa rastreia o DNA dos produtos e pode identificar até 0,01% das impurezas desses alimentos

Emanuele Corrêa

O veganismo, de acordo com a Vegan Society - Sociedade Vegana em português -, é definido como modo de viver ou escolha, que exclui, na medida do possível, práticas de consumo ligadas aos produtos fruto de exploração ou crueldade animal. Os produtos que não contêm origem animal recebem o "selo vegano". Em Belém, o Laboratório de Engenharia Biológica (Engebio) da Universidade Federal do Pará (UFPA), associado ao BioTec-Amazônia, rastreia o DNA dos produtos e pode identificar até 0,01% das impurezas desses alimentos. A pesquisa é a primeira com esse tipo de análise na América Latina.

O Pesquisador Empreendedor Associado da BioTec-Amazônia, Diego Assis, é responsável pelo serviço da rastreabilidade da cadeia de alimentos que, além de identificar e determinar a pureza desses produtos, destaca que o selo agrega valor à marca e passa confiança ao consumidor. "O selo vegano iniciou em agosto de 2021 e tem o objetivo de trazer maior confiabilidade, tanto para consumidor, quanto para produtos veganos. É um projeto que busca a certificação, baseada na presença de DNA animal nas amostras, utilizando técnicas de biologia molecular, que são incontestáveis. Basicamente a mesma tecnologia que se usa em teste de paternidade", disse.

O professor destaca que desde um prato elaborado por um chefe de cozinha para um restaurante até alimentos ultraprocessados, podem ser certificados e, para isso, uma amostra deste conteúdo é levada ao laboratório para ser analisada e garantir a pureza. "A gente consegue oferecer selo vegano para três tipos de alimentos: naturais, levemente processados e ultraprocessados. Atualmente estamos atendendo empresas do Pará, com prioridade a empresas da Amazônia, mas o projeto pode ser acionado por qualquer empresa do Brasil ", comentou.

De acordo com Diego, as organizações e sociedades vegetarianas no Brasil e no mundo utilizam padrões variados para determinar que um produto receba um selo vegano. Os indicadores de traços de DNA animal aceitáveis nas amostras variam de 0,1% até 10%. A tecnologia utilizada em Belém, consegue rastrear amostras menores do que as definidas internacionalmente. "Todos os alimentos podem conter resquícios de DNA animal. A nossa tecnologia é capaz de identificar 0,01% abaixo de todos os limiares de todas as sociedade vegetarianas e veganas do mundo. A gente considera como contaminação não intencional, até 1% de contaminação na amostra. Qualquer amostra acima de 1% não leva o selo vegano", concluiu.

image Jhessica Magalhães é vegana há 4 anos e dá preferência a produtos com certificação com selos veganos. (Cristino Martins / O Liberal)

Da certificação à casa do consumidor

O selo tem validade mínima de 12 meses e pode ser renovado por tempo indeterminado, diz Diego. Além do pesquisador, fazem parte do projeto a bióloga Soraya Andrade e a graduanda em biotecnologia, Naiana Ribeiro, ambas responsáveis pela extração do DNA e sequenciamento. "Após recebermos as amostras, nós precisamos extrair o DNA. Amplificamos para fazermos as análises no equipamento. Preparamos uma reação que vai ser sequenciada em tempo real. Vedamos os tubos, pois o equipamento incide na luz de cima para baixo, para fazer a leitura e essa leitura volta com o resultado, comprimento de onda", esclareceu Soraya.

"A máquina faz a amplificação em tempo real, das amostras dos elementos coletados. Vai detectar e amplificar todo resquício de DNA extraído na primeira etapa, feita pela Soraya. Dentro de 90 minutos as amostras serão expandidas, esses dados serão jogados para o software do equipamento e gerará um gráfico a partir disso", complementou Naiana.

Dentro do projeto, a porcentagem permitida de DNA animal é 0,03% e, assim, considerada contaminação não intencional, devido a manipulação no processo de fabricação do alimento. "Depois esses dados passam para o computador, aí dependendo do resultado, este selo será emitido ou não para o produto", finalizou Diego.

Jhessica Magalhães, 30 anos, é advogada e há 4 anos, por compaixão aos animais, tornou-se vegana. Atualmente, após a gestação, precisou reintroduzir alguns alimentos de origem animal, como ovo e os lácteos, mas nem por isso deixa de comprar os produtos com certificação vegana. Segundo ela, além da alimentação,compra produtos de higiene e beleza, entre outros, com o selo. "Aceitei essa adaptação com a intenção que seja provisória! Os meus cosméticos e vestuário eu só uso veganos, e na alimentação sempre dou preferência aos veganos, isso me causa um bem estar físico e mental. Por isso é muito importante a existência dos selos e certificações, facilitam a escolha dos produtos e dá segurança à compra, e quando se trata de gêneros alimentícios, não se trata somente de uma escolha. Pessoas alérgicas a algum item animal, não podem consumir por questões de saúde, e encontram nos produtos veganos sua segurança alimentar", ratificou.

image Belém tem o primeiro laboratório da América Latina, que emite selo vegano com tecnologia molecular (Ivan Duarte / O Liberal)

Para a advogada, ainda há muito o que se conhecer sobre os produtos, benefícios para o consumidor e para o planeta. Diz que fica feliz com a possibilidade da expansão desse mercado, pois, assim como existem pessoas que consomem produtos de origem animal, tem aquelas que preferem excluir do seu cotidiano. É um mercado que cresce e impulsiona a economia. "Sempre ouço que o futuro é vegano, por vários motivos: econômicos, políticos, saúde, territorial, insumos... Os selos e certificações garantem ao consumidor que ele está adquirindo aquilo que ele deseja. Evita que pessoas sejam enganadas e garante a segurança para pessoas com restrições alimentares", lembrou.

"Infelizmente existe falta de conhecimento e interesse por parte dos estabelecimentos, em especial, do ramo alimentícios. Sempre que me deparo com um cardápio com nenhum opção apta para minha dieta, fico frustrada e percebo como os lugares estão deixando de lucrar por falta de visão, e sempre falo: 'aqui os vegetarianos não são bem vindos né?! deixa eu te contar um segredo, comemos da mesma forma que os outros e nosso dinheiro têm o mesmo valor!'", finalizou.

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