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Belém tem 578,870 km² de áreas verdes, aponta Semma; população deseja ainda mais árvores na cidade

Especialistas avaliam que, caso haja a diminuição intensa da arborização nos próximos anos, Belém corre o risco de perder grande parte da vegetação em pouco mais de 60 anos

Gabriel Pires

Belém tem, aproximadamente, um total de 578,870 km² de áreas verdes, como aponta o último levantamento realizado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), em 2022. Essa estimativa inclui, ainda, os distritos de Outeiro, Mosqueiro e Icoaraci. No entanto, especialistas avaliam que, caso haja a diminuição intensa da arborização da cidade nos próximos anos, Belém corre o risco de perder grande parte da vegetação em pouco mais de 60 anos.

O urbanista Juliano Ximenes, da Universidade Federal do Pará (UFPA), aponta que Belém está entre as cidades do país que menos tem árvores nas vias urbanas. “No Censo de 2010, nos municípios e região metropolitana, éramos as áreas urbanas com menores índices de arborização nas vias. Caso o ritmo recente de supressão vegetal seja mantido, nós vamos perder toda a cobertura vegetal em cerca de 60 anos”, alerta o especialista.

Em meio à perda de áreas verdes na cidade, Juliano destaca que diversas consequências podem ser observadas no dia a dia por conta da diminuição da vegetação na cidade. Isso porque, de acordo com o especialista, as árvores têm um papel importante no ambiente urbano — junto com as gramas e os arbustos. Os impactos não se dão somente no eixo ambiental, mas até mesmo na saúde, como pontua Juliano.

Entre os impactos, Juliano elenca: “A perda de vegetação em áreas urbanas é muito grave. Tende a aumentar a temperatura, favorece a erosão do solo, a contaminação do solo, a contaminação das águas, piora da qualidade do ar, aumento do custo de tratamento da água e do esgoto. Isso cria um ambiente de maior proliferação de doenças, alagamentos de grande magnitude e impossibilidade de haver espaços de convivência e sociabilidade”, avalia Juliano.

“Elas ajudam a regular a temperatura e a umidade do ar, mantêm o solo sadio, provêm alimento, o que favorece a nutrição da fauna, e isto previne que animais portadores de doenças sejam afastados dos seres humanos, pois seus predadores estão supridos. As árvores também são importantes nas trocas de oxigênio e gás carbônico. Em Belém a situação de conforto ambiental, de ventilação, temperatura e umidade, é fortemente dependente da vegetação”, completa o especialista.

Ações

O diretor do Departamento de Áreas Verdes Públicas da Semma, Kayan Rossy, biólogo, confirma que Belém, assim como qualquer outra cidade, pode ter a cobertura vegetal afetada. No entanto, segundo o diretor, a secretaria atua para que, tanto a vegetação histórica quanto as árvores que estão sendo plantadas atualmente, sejam preservadas. Kayan frisa, ainda, que a Semma também trabalha com ações de plantio de novas árvores na capital.

“Pontos como o Portal da Amazônia, as avenidas Duque de Caxias e Augusto Montenegro, e a área do elevado Daniel Berg, já foram quase mil árvores nos últimos dois meses. Neste primeiro trimestre, vamos plantar [novas árvores], no Entroncamento. É uma área extremamente urbanizada, que carece de cobertura vegetal e tem uma área livre. Iremos plantar, inicialmente, quinhentas novas árvores nativas da Amazônia. É a entrada da cidade, precisa de uma captação de poluição”, enfatiza o diretor.

image Diretor de Departamento de Áreas Verdes Públicas da Semma, Kayan Rossy, fala das ações relacionadas à arborização na cidade (Marx Vasconcelos / Especial para O Liberal)

Segundo ele, o bairro que apresenta o menor índice de cobertura vegetal na capital é o Reduto, totalizando apenas 2,2% de cobertura vegetal. Já o bairro do Umarizal tem apenas 7% de áreas verdes — sendo a taxa ideal acima de 30%, conforme Kayan. Isso por conta do processo de urbanização que leva a construção de calçadas e de asfaltamento em diversas áreas. Outra causa para a ausência de áreas verdes em alguns locais é a ação humana, sobretudo com corte de árvores.

“Quando a gente fala de diminuição de cobertura vegetal nos bairros mais periféricos, principalmente nas ilhas, ainda existe uma porcentagem de cobertura vegetal que ainda é floresta nativa. O processo de expansão natural da cidade faz com que essas áreas sejam invadidas e, consequentemente, haja o desmatamento. Isso contribui para a diminuição da cobertura vegetal. E artigos científicos mostram que a principal causa de quedas de árvore, mais do que questões climáticas, são ações antrópicas”, analisa Kayan.

Participação da população

Além das ações de plantio de mais árvores, Kayan destaca ações de educação ambiental e a importância da participação dos próprios cidadãos na preservação: “A população pode ter uma participação sob orientação da secretaria. Temos projeto de arborização nas escolas municipais com as crianças. Dentro da secretaria, nós temos um setor de educação ambiental, que também faz trabalho com as comunidades, com a divulgação e levando orientações corretas do que pode e o que não pode ser feito”, frisa Kayan. 

“Nós, que estamos diariamente tentando fazer com que Belém ganhe mais árvores, encontramos muitos obstáculos, principalmente da população: há proprietários de casas que não querem árvores em frente à residência, matam, arrancam, jogam lixo nas árvores. Encontramos muitas construções ao redor [das árvores], que contribuem para o apodrecimento da raiz. É muito importante que a população não plante árvores por conta própria, no local que quiser, a espécie que quiser. Isso traz prejuízos no futuro”, relata.

Belenenses reclamam do calor

Em uma cidade quente como Belém, a arborização é essencial para regular a temperatura de diversas áreas, como pontua o professor de biologia Lourival Silva. Para ele, essa realidade aumenta ainda mais o calor na capital. “Menos árvores é mais calor. E a cidade é toda coberta de concreto e asfalto. Aí você percebe isso. Precisaria de mais locais onde a camada de concreto de asfalto fosse retirada, mas isso é uma complexidade de cidades grandes”, avalia Lourival.

No centro da capital, na Doca, o morador da área Márcio Luz conta que sente Belém cada vez mais quente e atribui a diminuição do verde à “revolução mobiliária que acontece nas grandes capitais”. “A gente acaba se deparando com a elevação da temperatura e falta de arborização. Infelizmente, nós somos refém do progresso. Associado a outros aspectos como o asfalto, que foi proliferado nos últimos 30 anos em Belém, e somado com desmatamento, isso só faz aumentar a média de temperatura na cidade”, diz Márcio.

image Umarizal é um dos bairros menos arborizado de Belém (Igor Mota / O Liberal)

Também moradora do entorno, a dona de casa Belmira Monteiro percebe a ausência de árvores em Belém. “As árvores antigas já estão morrendo.  A gente está ficando sem arborização, ficando sem o nosso ar. Eu gostaria muito que o poder público olhasse esse lado da gente que compromete tanto a nossa respiração. Poder público, por favor, nos ajude a arborizar a nossa cidade. Estamos perdendo isso”, relata a moradora.

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