Belém e outras duas capitais lideram aprovação de palmadas e gritos como medida educativa

Especialistas alegam que esse tipo de comportamento punitivo pode desencadear traumas, quadros de depressão, estresse pós-traumático e ansiedade generalizada

Gabriel Pires

Belém figura entre as três capitais do Brasil em que pais e responsáveis mais acreditam que o uso de palmadas e gritos deve fazer parte da educação de crianças e adolescentes, como aponta um estudo realizado pelo Ministério da Saúde e pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. A cidade de Porto Velho lidera com 49% de aprovação desses métodos pelos responsáveis, seguida por Belém (41%) e Aracaju (40%). A pesquisa faz parte do projeto "Primeira Infância Para Adultos Saudáveis (Pipas)" e coletou dados inéditos de crianças de 0 a 59 meses em todo o país ao longo de 2022, em 13 capitais do país.

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A psicóloga Rafaela Guedes comenta que esse tipo de comportamento pode gerar traumas e diversas consequências negativas para o comportamento das crianças, como quadros de depressão, estresse pós-traumático e ansiedade generalizada. “Esse tipo de violência faz com que a criança perca o senso de segurança e proteção, de respeito próprio. O efeito é que ela se sente humilhada, diminuída. A autoestima e a autoconfiança das crianças são diretamente abaladas por esse tipo de comportamento dos pais e isso naturaliza uma relação de violência”, afirma.

“São crianças que vão crescer com uma grande chance de virarem perpetradores desses métodos, de também violentarem seus parceiros ou filhos, ou ainda de fazerem justamente o contrário, de não repetirem a violência. Mas a tendência é naturalizar esse tipo de abuso nas relações. São pessoas que vão crescer achando natural ser violento. E com a vida afetiva muito prejudicada por conta disso, reduzindo a capacidade de empatia, de pensar no próximo, de respeitar o outro e ser desrespeitado nas relações. O respeito à criança é fundamental para formação de um adulto com saúde mental”, alerta Rafaela.

Agravamento

O ato de usar da violência no dia a dia pode agravar o comportamento das crianças e dos adolescentes em longo prazo, como lembra Rafaela. Isso porque, na infância, as crianças se sentirão no direito de agir da mesma forma com o próximo no momento em que se sentirem frustradas em locais como a escola, por exemplo. Já no caso dos adolescentes, eles têm mais chances de se envolver em brigas e conflitos, além de também serem mais propensos a desenvolver toxicomania, reforça Rafaela.

“Os efeitos na autoestima dos adolescentes ficam muito acentuados também, visto que esse é um período da vida em que se tem uma variabilidade do humor, da imagem de si, do amor-próprio. Esse adolescente que já vive esse momento da vida, mas que sofre esse tipo de violência, tende a se achar ainda mais inferior. Ou ele reproduz para tentar de alguma forma se sentir potente diante dessa experiência do qual foi vítima ou ele pode continuar nesse lugar de vítima e até perder o sentido da vida, desenvolvendo impulsos suicidas", frisa.

Educação saudável

"Essa forma de punir não é correta, de forma alguma", reprova Rafaela. “A violência não educa nunca, porque ela é uma forma de controle por coerção. E para que alguém respeite, entenda o limite, precisa acompanhar pelo exemplo, precisa vir da fala, precisa vir do estado afetivo da família. Então, explicar o motivo do porquê não pode fazer tal coisa, porque não se deve agir assim ou assado são alguns dos passos, é a melhor maneira de se educar. A criança vai testar o seu limite, e você deverá contê-la fisicamente, mas sem agressão, sem precisar agredir. Não pode fazer e ponto”, relata a especialista.

(*Gabriel Pires, estagiário, sob a supervisão de Lázaro Magalhães, coordenador do Núcleo de Atualidades)

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