Ato ecumênico relembra 7 anos da chacina de Belém
10 pessoas foram assassinadas entre os dias 4 e 5 de novembro de 2014, em vários bairros da capital

Nesta sexta-feira (5), um ato em memória às 10 vítimas da chacina de Belém, ocorrida em 2014, será realizado pela Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal Extraordinária de Cidadania e Direitos Humanos (SecDH). A ação pede o fim ao extermínio da juventude na periferia e integra a programação do Mês da Consciência Negra. As mortes entraram para a história da capital e revelaram a atuação de milícias que agiam de forma até então oculta. Um CPI foi criada para acompanhar o caso.
O evento ocorrerá a partir das 9h, na Rua da Olaria, no bairro do Tapanã, ao lado da empresa Jaloto Transportes. Também contará com a participação de diversas entidades da sociedade civil e com o Instituto Marcinho Mega Kamaradas, criado por Suzana Amaral, mãe de uma das vítimas. O endereço escolhido para as atividades é especial e simbólico para a família de Márcio. É o local onde o jovem foi assassinado e outras duas pessoas conseguiram se abrigar e fugir da violência daquela madrugada.
"O meu filho, Márcio dos Santos Rodrigues, foi tirado de meu peito e ainda ninguém me respondeu sobre os verdadeiros culpados. O objetivo do instituto é fomentar e informar os jovens e adolescentes da periferia de todas as questões de políticas públicas que nos são negadas. Proporcionamos oficinas sobre direitos humanos para dizer que ele tem o direito de ser inserido nessas ações. É o nosso papel discutir sobre essas constantes chacinas que vem acontecendo dentro das periferias que contam com a participação do agente público da segurança. Isso é um fato comprovado desde 2014", desabafa Suzana.
Além de debates sobre direitos humanos, o evento terá apresentações culturais com grupos de rap, celebração ecumênica e atividades lúdicas para crianças. O secretário da SecDH, Max Costa, afirmou que é fundamental o avanço na construção de políticas públicas voltadas à promoção de defesa da vida e a construção de um futuro de alternativas para os jovens.
"Essas ações são para que nunca mais aconteça um crime desse em nosso município. Esse ato é importante para a gente reafirmar nossa defesa da vida e dos direitos humanos. É necessário combatermos o genocídio da juventude negra. Não pode ser naturalizada que a nossa juventude continue sendo exterminada nas periferias", explica o titular da pasta
Relembre o caso
Entre os dias 4 e 5 de novembro, 10 jovens foram mortos em diversos bairros de Belém. As mortes aconteceram depois do assassinato do cabo Antônio Marcos da Silva Figueiredo (conhecido como Pet), da Ronda Ostensiva Tática Metropolitana da Polícia Militar (Rotam). Nem todas as vítimas dessa chacina tiveram as investigações concluídas e foram encaminhadas para o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA). Dois acusados foram levados a júri popular e três denúncias foram arquivadas por "falta de materialidade técnica".
Este caso levou à criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias, para investigar a existência de milícias e grupos de extermínio no Pará. Enquanto as respostas para o crime não chegam, a mãe de Márcio Rodrigues transforma o luto em luta para que a juventude que reside em periferias tenha mais oportunidades de acesso à cultura e políticas públicas.
"Quero dar a oportunidade para que esses jovens possam ter a consciência de que podem sim estar nas periferias, brincando com liberdade como eles são. Mostrar que todos precisam estudar, se empoderar, conhecer e frequentar as escolas para entrar nesse âmbito de política social e venham conhecer os direitos e ser protagonista da própria história. Durante a pandemia, a vulnerabilidade da periferia aumentou e o Instituto vem fazendo essas ações para auxiliar essas famílias", pontua Suzana Amaral.
(Karoline Caldeira, estagiária sob a supervisão de Victor Furtado, coordenador do Núcleo de Atualidades)
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