Aterro de Marituba: pesquisa da UFPA indica alta concentração de gases contaminantes, informa MPPA
Os resultados desse trabalho foram expostas a técnicos e comunidade em reunião, na sexta (22)

Em reunião na última sexta-feira (22), convocada pela promotora de Justiça de Marituba, Eliane Moreira, do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), foi apresentado o resultado parcial de um estudo realizado nas proximidades do Aterro Sanitário de Marituba, a cargo da Universidade Federal do Pará (UFPA). A pesquisa, intitulada “Avaliação da Concentração de Gases Tóxicos e Odoríficos nas redondezas do aterro sanitário de Marituba", indicou que "os valores dos gases metano (CH4) e sulfídrico (H2S) encontrados nas adjacências do aterro estão acima do nível regular da atmosfera, o que segundo Professor Imbiriba, tem relação direta com a proximidade do local de descarte de lixo", como repassa o MPPA.
A apresentação do estudo foi feita pelo professor Breno Imbiriba, da UFPA. A reunião também contou com a participação dos técnicos do Grupo de Apoio Técnico Interdisciplinar (GATI) Maylor Lédo e José Orlando Sena do Rosário, e Júnior Vera Cruz, representante do Fórum Permanente Fora Lixão.
No dia 31 de agosto, último dia do prazo para recebimento de resíduos sólidos da Região Metropolitana de Belém no Aterro Sanitário de Marituba, a Justiça Estadual determinou o funcionamento desse espaço por mais três meses. Durante esse período, busca-se definir um novo espaço para esse serviço essencial.
Efeitos
O levantamento expõe que os níveis de gás sulfídrico relatados são superiores aos padrões estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como divulga o MPPA. "A situação é parecida na análise realizada dos níveis de gás metano, que emitido em altas quantidades, pode ocasionar o efeito estufa, variável importante no contexto atual das mudanças climáticas".
De acordo com o professor Imbiriba, é possível afirmar que os gases emitidos nas concentrações observadas pelo aterro podem ser precursores de outros agentes poluentes, que contribuem para a poluição ambiental e efeito estufa, além de agravos à saúde ocasionados pela presença gás sulfídrico, que segundo estudo realizado pela OMS, pessoas expostas a 10% de tempo a uma concentração do gás (similar às encontradas no entorno do aterro) têm irritações oculares, repassa o MPPA.
Segundo a promotora Eliane Moreira, é importante reiterar que os episódios de odor relatados pela população nos atendimentos realizados pelo MPPA advém do aterro, visto a alta quantidade de gás sulfídrico e metano encontrada no local.
Atenção
À Reportagem Integrada do Grupo Liberal, nesta terça-feira (26), o professor Breno Imbiriba, da Faculdade de Meteorologia do Instituto de Geociências da UFPA, explicou que, com relação a gases metano e sulfídrico estarem em valores acima do nível regular da atmosfera, esse estudo é o primeiro que observou a concentração de gás sulfídrico nas redondezas do Aterro Sanitário de Marituba e que sem essas observações nada realmente poderia ser dito sobre a produção, transporte ou poluição atribuída a estes gases. Este estudo é distinto de estudos de modelagem já executados que podem ter pouca relação com a realidade, como frisou o docente.
O professor Breno informou que o gás sulfídrico e o gás metano têm efeitos distintos, um local e outro global. O gás sulfídrico, que tem odor de "ovo podre", como pontuou o docente, é um poluente de efeito local: ele é tóxico e pode se converter em outros poluentes atmosféricos também nocivos ao ser humano.
"Nesta primeira campanha de observações nas redondezas do Aterro Sanitário de Marituba, notamos que: os "episódios de odor" ocorrem de forma aleatória porém consistente durante o dia e noite. Esses períodos somados totalizam entre 2 e 3 horas por dia de odor ruim, causando muito incômodo. Nos locais observados, estimamos que na média diária a concentração atmosférica do gás sulfídrico seja superior ao recomendado pela OMS", observou Breno Imbiriba.
Nesta situação, o impacto à saúde abrange irritação nos olhos e nas vias respiratórias, podendo desencadiar crises de asma. "O interessante é que isto é consistente com as queixas da população que vive nos entornos do empreendimento", acrescentou o pesquisador.
Já o gás metano, como expõs o professor, tem um efeito global na forma de um gás de efeito estufa. "As concentrações medidas indicam que há as chamadas "emissões fugitivas" do empreendimento, que podem ocorrer da própria pilha de resíduo ou das lagoas, apesar da quantificação dessas emissões não ter sido a foco inicial desta pesquisa. Caso estas emissões sejam grandes, teríamos então o caso do Aterro Sanitário ser uma fonte de gases de efeito estufa".
Gerador
O Aterro Sanitário de Marituba é certamente o grande gerador de metano e gás sulfídrico da região e então é de se esperar que haja a presença desses gases nas vizinhanças, como atestou o professor Breno. "Nossas observações mostram uma correlação direta entre episódios de odor, presença do gás sulfídrico e presença de gás metano, indicando que esses gases são oriundos do Aterro Sanitário", reforçou. "Espera-se que haja um grande cuidado na gestão técnica do aterro e investimento a fim de minimizar tais emissões, o que, com as observações, não se pode afirmar que haja", complementou.
Não há risco de explosão na área, como destacou o professor Breno, "uma vez que o empreendimento utiliza sistemas de queima de metano que removem os gases do interior das pilhas de resíduo". "No entanto, a observação de gás metano em concentrações 10 vezes maiores do que o padrão atmosférico indicam que essa coleta e queima de gás não é perfeita. Assim, como observado aqui, já podemos dizer que existe contaminação do ar na forma do gás sulfídrico. Provavelmente outros gases também são emitidos. Vale notar que estudos independentes (Evandro Chagas), já mostraram contaminação dos rios da região", acrescentou.
Redução de danos
O professor Breno Imbiriba destacou que "a situação aqui é de redução de danos". "O empreendimento já usa um sistema químico que remove o gás sulfídrico do ar. Este poderia ser utilizado constantemente a fim de eliminar por completo os episódios de odor que afligem a população. Outra ação importante seria prover à população assistência médica indiscriminada, com consultas, exames e tratamento, uma vez que há a possibilidade de que uma grande quantidade de pessoas estejam sendo afetadas pelo gás sulfídrico e outros contaminantes".
Para ele, "é de suma importância que o MPPA continue a apoiar as observações, agora de forma mais detalhada, para sanar dúvidas e precisar o grau do impacto do Aterro Sanitário de Marituba no município".
O MPPA vai se manifestar, nesta quarta-feira (27), sobre o resultado desse estudo feito pelos técnicos da UFPA. A Reportagem demandou o Governo do Estado, da Guamá Tratamento de Resíduos e as prefeituras de Belém, Marituba e Ananindeua.
Em nota, a Guamá Tratamento de Resíduos nega qualquer conclusão de poluição e apresentou ao MPPA questionamento dos valores trazidos pelo estudo, por ele “não se utilizar de metodologia técnica comprovada cientificamente pelos órgãos reguladores”. A empresa diz ainda que faz seu monitoramento “conforme previsto na condicionante de licença, de acordo com as diretrizes do Conama, e garante o controle ambiental com resultados dentro dos limites indicados”.
A Guamá diz ainda que “conta com os mais modernos equipamentos e técnicas, assim como pessoal treinado para tratamento, reaproveitamento e destinação final de resíduos sólidos, assim como de gases e de líquidos provenientes do lixo domiciliar”.
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