Atentado em Suzano reforça diálogo entre policiamento escolar e instituições de ensino na RMB
Em 2019, será realizada a terceira edição do curso de polícia comunitária escolar da PM

O atentado ocorrido na Escola Estadual Professor Raul Brasil, localizada na cidade de Suzano, em São Paulo, acendeu o alerta junto a várias instituições de ensino e também a organismos que trabalham com a segurança em escolas das redes públicas e privadas de ensino em todo o País. A tragédia resultou na morte de oito alunos e duas funcionárias da escola paulistana na última quarta-feira (13). Embora não haja registro de casos semelhantes na Região Metropolitana de Belém (RMB), a Companhia Independente de Policiamento Escolar (Cipoe), da Polícia Militar do Pará, pretende reforçar o diálogo com as instituições de ensino para garantir a segurança pública efetiva.
Entre as ocorrências registradas na RMB, duas tiveram maior relevância. A primeira ocorreu em 2015, em uma escola pública de Ananindeua, quando um estudante de 16 anos atirou contra um vigilante que acabou morrendo. Segundo levantamento da Cipoe, já existia um desentendimento pessoal entre eles.
O segundo episódio de violência foi em 2017, envolvendo dois estudantes de uma escola pública da Grande Belém. Um deles havia roubado a bicicleta do outro e o caso resultou em lesão corporal.
REFLEXÕES SOBRE SUZANO
O massacre em Suzano suscitou várias reflexões na equipe da Cipoe, que já está programando debates sobre este assunto nas escolas da região metropolitana. A ideia é esclarecer à comunidade estudantil que não se trata de vigilância ou repressão, mas, sim, de proteção.
"Estamos ali para protegê-los, para firmar parcerias com o intuito de superar a violência. Queremos que os alunos nos vejam dessa forma, como agentes de promoção da paz. Por isso temos grande abertura com diretores", declarou a comandante da Cipoe, major Simone Francesa Pinheiro das Chagas.
Em regra, quem aciona a equipe especializada é a direção da escola, que já tem o contato do fiscal interativo que fica à disposição das instituições 24h. No entanto, como no caso ocorrido em Suzano, onde a diretora foi atingida pelos disparos, qualquer outro funcionário, aluno ou pai pode entrar em contato com o Centro Integrado de Operações (Ciop), por meio do número 190, e pedir para que a ligação seja transferida para o setor correspondente.
Na suposição de que o atentado fosse na RMB, área de atuação da Cipoe, o apoio dos batalhões seria o diferencial na opinião da major. "Como companhia, temos uma equipe mais reduzida que um batalhão. Caso isso viesse a acontecer aqui, se não tivéssemos viatura às proximidades, contaríamos com a parceria dos batalhões, com os quais temos contato direto. Assim, o ambiente escolar ficaria respaldado. Mas também contamos com policiamento em motocicletas para uma atuação mais rápida", explicou a comandante.
EFETIVO
Subordinada ao Comando de Policiamento Especializado, a Cipoe conta com um efetivo de 97 agentes, sendo que 80% desse quadro passou por capacitação no curso de polícia comunitária escolar, promovido pela PM. A formação traz maiores subsídios para que seja feita a intervenção correta mediante situações de violência na escola. Nessas circuntâncias, a arma de fogo é usada apenas como último recurso.
"Nossa atividade dentro no ambiente escolar exige um cuidado diferenciado porque lidamos com crianças e adolescentes. O disparo de arma de fogo só em casos extremos. O treinamento é para que sejam usadas técnicas não letais e com danos de menor potencial, como o uso de spray de pimenta, por exemplo", explicou a major Simone. "Já foram realizadas duas edições do curso e, em 2019, há previsão para realização de uma terceira", acrescentou.
Além do efetivo da Companhia, são capacitados guardas municipais e policiais militares de vários batalhões. "Eles atuam como multiplicadores desse conhecimento porque chegam nos quartéis e repassam para o resto do grupo. O nosso atendimento nas escolas é diferenciado, porque não basta apenas fazer o policiamento na frente da instituição. Precisamos entrar, ter contato com a direção, professores e discentes. Estamos estreitando cada vez mais a parceria com as Secretarias de Educação do Estado (Seduc) e do Município (Semec)", detalhou a comandante.
MISSÃO E ATUAÇÃO
A missão institucional da Cipoe, que completou 28 anos na última quarta-feira (13), é preservar a ordem pública, prevenindo e reprimindo o crime e ato infracional no ambiente escolar, fazendo cumprir a lei e os princípios constitucionais, ao mesmo tempo em que fomenta a participação da comunidade escolar no processo de superação da violência.
A Companhia faz rondas nas escolas estaduais na Região Metropolitana de Belém e visita, em média, de 12 a 15 instituições por dia. Também é feito atendimento de emergência em escolas municipais, estaduais e particulares, além de faculdades particulares e públicas diante do acionamento via Ciop, como nos casos em que há detecção de venda de drogas ou conflito entre alunos. Nas duas formas de atuação são realizadas ações e campanhas preventivas que também incluem palestras de sensibilização.
Além disso, neste ano será fortalecido o plano de segurança das escolas, montado a partir de um trabalho conjunto com a comunidade escolar - diretores, professores, alunos -, Seduc e Semec. "Já identificamos que os principais problemas envolvem tráfico de drogas, invasão, rivalidade e bullying. Por isso elaboramos palestras sobre esses temas como forma de conscientização", pontuou a comandante. "Também contamos com apoio de outros órgãos, como a Data e o Conselho Tutelar, para tornar o sistema de segurança pública eficiente, eficaz e efetivo."
INTERIOR
Como no interior do Estado não existe uma companhia especializada para policiamento escolar dessa estrutura, a Cipoe disponibiliza agentes para o treinamento de policiais em vários municípios. "Quando solicitado esse trabalho itinerante no interior, enviamos policiais capacitados nessa área para que seja feita a preparação do efetivo local", informou a titular da Cipoe. A última equipe foi deslocada para Marabá, em 2017.
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