Astronomia conquista jovens em Belém e inspira curiosidade sobre o universo
O universitário Igor Lima transformou a paixão de infância pela Astronomia em dedicação diária às estrelas
O fascínio pelo céu não está restrito a cientistas ou grandes centros de pesquisa. A astronomia, além de ciência, também se tornou um hobby capaz de despertar aventura, paciência e curiosidade em pessoas de diferentes idades. Em Belém, esse interesse ganha força entre apaixonados pelo universo, que encontram no Planetário, por exemplo, um dos principais pontos de encontro e aprendizado. Para os admiradores do céu, é também uma porta de entrada para compreender noções de física, navegação celeste e a própria relação do homem com o cosmos.
É o caso de Igor Lima, 24 anos, que transformou a paixão de infância pela Astronomia em dedicação diária às estrelas. Ele é estudante de licenciatura em Física na Universidade Federal do Pará (UFPA). Desde criança, ele olha para o espaço como quem contempla um mistério interminável. “Vem da infância, de curiosidade mesmo de criança, e acabou que a Astronomia é muito fácil de se apaixonar”, contou. O interesse surgiu por volta dos 7 anos, época em que os pais o incentivavam constantemente a ler e a explorar diferentes assuntos. “Sempre teve incentivo em casa pelo estudo de uma maneira geral, não foi especificamente para a Astronomia ou Física. Meus irmãos, por exemplo, são formados em áreas diferentes. Mas meus pais sempre valorizavam o estudo e davam oportunidade de contato com várias coisas”, afirmou.
Antes de chegar às estrelas, Igor passou um tempo encantado pela Biologia, atraído pela vida animal e pelos documentários que consumia com entusiasmo. “Depois, quase como uma sequência natural, acabei chegando em assuntos da Física e da Astronomia”, lembrou. Igor decidiu investir em um equipamento próprio para explorar o céu de forma mais profunda. “Eu tinha um telescópio bem mais simples, de entrada, que comprei quando trabalhava em uma empresa. O aparelho estava encostado no depósito e eu consegui comprá-lo conversando com o responsável. Só para experimentar. Depois, com a prática, percebi que queria um equipamento melhor, que me possibilitasse ver mais coisas e também fazer fotografias”, contou.
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Telescópio é máquina do tempo, diz universitário
Para ele, o telescópio é “uma espécie de máquina do tempo”, definição que revela a dimensão quase poética de seu interesse. “Sempre estamos olhando para o passado, inclusive no dia a dia. Mas, com as imagens do telescópio, isso é gritante. Estamos olhando milhões, bilhões de anos atrás. Pensar nisso torna tudo mais interessante e bonito”, disse.
A Astronomia, além de despertar encantamento, trouxe aprendizados práticos. “O que mais me ajuda é a resiliência, a paciência e a lida com a frustração, que é constante no ramo, não só para amadores, mas também para profissionais. Tem um teor de sorte muito grande. Você precisa do equipamento certo, na hora certa, apontado para o pedaço do céu correto, naquele e naquelas condições para poder dar certo”, explica.
Para Igor, é uma prática que exige disciplina e aceitação de que nem tudo está sob controle. “Às vezes, você passa semanas se preparando e, no dia, o tempo não ajuda”, contou. Um ramo da Astronomia que ele resolveu dar um pouco mais de atenção foi a astronomia solar. “E, nessa área, uma fotografia que eu quero fazer é da passagem da Estação Espacial Internacional (ISS) na frente do Sol”, disse. “Mas, para isso, é preciso estar no horário e posição corretos, preparado para pegar, porque é segundos. Tem que ter paciência para esperar o dia”, contou.
Essa imprevisibilidade leva a frustrações inevitáveis. “Você pode passar anos se preparando, conquistar os equipamentos, e no dia pode chover ou ficar nublado. Toda aquela preparação foi por água abaixo”, disse. Mas, em vez de desanimar, Igor vê beleza no desafio. “O mais importante é a contemplação do céu. No dia a dia, parece que ele é estático, mas, quando você começa a observar, dia após dia, percebe o dinamismo: o movimento das luas de Júpiter, as fases de Vênus, as fases da Lua. É uma conexão íntima com o universo”, afirmou.
A imagem mostra o dia em que o Núcleo de Astronomia disponibilizou telescópios para a população observar de perto o eclipse (Foto: Divulgação/ Nastro-UFPA)
Professor da UFPA fala do seu fascínio pelo Universo
Coordenador geral do Núcleo de Astronomia da UFPA (Nastro/UFPA), Luís Carlos Crispino também falou sobre como começou seu interesse pela astronomia. “Desde pequeno me interessei pela observação do céu. Sempre fiquei curioso em saber mais sobre o Universo em que vivemos. Tive a sorte de contar com pessoas que me incentivaram desde muito cedo, como uma tia-avó, que me mostrou as constelações que ela conhecia (mesmo que dando a elas nomes diferentes daqueles que constam nas cartas celestes), e outros membros da minha família que me ajudaram a comprar livros sobre o assunto”, disse.
O primeiro telescópio dele foi um instrumento bastante simples, mas ele já conseguia ver, com condições atmosféricas favoráveis, as crateras da Lua e os satélites do planeta Júpiter. Depois conseguiu comprar um telescópio maior com o qual pôde fazer observações astronômicas que me fascinaram ainda mais.
“O interesse pela Astronomia pode surgir ao contemplarmos o céu noturno durante uma noite estrelada, aliado ao desejo em saber mais sobre nosso lugar mundo. Neste contexto, surgem perguntas como: o que há no mundo para além do lugar onde vivemos? O que há no Universo para além do planeta Terra? O que são os objetos luminosos que observamos no céu noturno em uma noite sem nuvens? Será que as únicas formas de vida existentes no Universo estão no nosso planeta?”
Ao buscar e ao obter respostas a estas perguntas, as pessoas se aproximam cada vez mais da Astronomia, e também da Cosmologia, como foi o caso dele. “Quanto mais conhecimento vamos adquirindo, mais perguntas podem surgir, e o interesse por estes assuntos pode ficar cada vez maior. Hoje, em Belém, a população pode alimentar esta curiosidade por Astronomia com relativa facilidade, e de forma totalmente gratuita”, disse.
Interesse pela Astronomia existe desde os tempos remotos
Luís Carlos Crispino comentou que o interesse em Astronomia pela humanidade sempre existiu, deste os tempos mais remotos. Segundo ele, a criação do Planetário do Pará certamente contribuiu para a divulgação da Astronomia em Belém. Desde sua criação, em 2006, o Núcleo de Astronomia (Nastro) da UFPA tem se destacado e divulgado amplamente Astronomia e Ciências Afins na Região Metropolitana de Belém. “Acredito que este aumento na divulgação tem contribuído também para o aumento do interesse em Astronomia por parte da população da capital paraense”, disse.
Ele explicou que o Nastro/UFPA oferece regularmente atividades dedicadas à Astronomia. Uma dessas atividades são as "Quartas Astronômicas", que, como o próprio nome sugere, são apresentações públicas realizadas às quartas-feiras, onde são apresentadas palestras sobre temas relacionados com Astronomia, seguidas de observações do céu com telescópios, quando as condições atmosféricas assim o permitem. “No Nastro/UFPA temos dezenas de equipamentos e modelos demonstrativos, que ilustram fenômenos astronômicos, como eclipses lunares e solares, assim como equipamentos que simulam o movimento dos planetas em torno do Sol. Temos também representações de foguetes e naves relacionadas com a conquista espacial pelo homem”, afirmou.
Para melhor observar o céu noturno, disse, deve-se procurar locais com pouca iluminação, preferencialmente longe dos centros urbanos. “Mas também é possível realizar observações astronômicas nas cidades, desde que as condições atmosféricas sejam favoráveis. Em Belém, devido à grande ocorrência de nuvens durante a maior parte do ano, realizar observações astronômicas pode ser bastante desafiador. Instrumentos como lunetas e telescópios, podem permitir observações fascinantes, como as crateras da Lua, os satélites do planeta Júpiter, e os anéis do planeta Saturno. Com um bom conhecimento do céu noturno é possível sim realizar boas observações astronômicas em Belém”, contou.
O Nastro é um centro de ciências dedicado principalmente à Astronomia, que oferece muitas oportunidades gratuitas à população da região metropolitana de Belém, assim como de todo o Estado do Pará. Além das visitas guiadas ao acervo de equipamentos do Nastro (realizada principalmente por grupos escolares), e também das "Quartas Astronômicas", o Nastro oferece muitas atividades, como palestras em escolas e locais públicos; assim como aulas de Astronomia e Astronáutica. Estas aulas acontecem normalmente aos sábados pela manhã, com foco principal na preparação para a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) e para a Mostra Brasileira de Foguetes (MOBFOG).
Planetário
O Centro de Ciências e Planetário do Pará (CCPPA) ‘Sebastião Sodré da Gama’, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade do Estado do Pará (Uepa), desenvolve suas atividades de terça-feira a sábado. Nos dias de terça-feira, quarta-feira (pela manhã), quinta-feira e sexta-feira, recebe escolas (públicas e privadas) previamente agendadas, da capital e do interior paraense. O CCPPA abre ao público sempre às quartas-feiras, das 14h30 às 17h30 (entrada gratuita), e aos sábados, das 8h30 às 11h30 (ingresso a R$10,00 e meia-entrada a R$5,00), sem a necessidade de agendamento prévio.
No último dia 30, o Centro de Ciências e Planetário do Pará (CCPPA) “Sebastião Sodré da Gama” comemorou 26 anos de atuação como um dos principais polos de divulgação científica da região Norte, consolidando-se como um espaço de ensino não formal que conecta ciência e sociedade.
Aberto em 30 de setembro de 1999, o Planetário do Pará foi fundado com o propósito de democratizar o acesso ao conhecimento científico, especialmente na área da Astronomia. E se tornou referência no Pará, recebendo anualmente estudantes, professores, pesquisadores e o público em geral, de todas as idades. Desde a sua inauguração, em 1999, até os dias atuais, o espaço recebeu cerca de 1,12 milhão de pessoas durante visitações escolares, públicas, palestras, oficinas, observações do céu e participação em eventos regionais e nacionais.
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