Relato sobre racismo na Câmara de Belém gera discussão entre vereadores

Vereadora Nazaré Lima (Psol) contou ter sido vítima de racismo, inclusive na Câmara, mas o depoimento gerou reações contrárias de vereadores da casa

Eduardo Laviano
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O relato da vereadora Nazaré Lima (Psol) sobre as experiências que teve com o racismo no parlamento municipal de Belém gerou polêmica na sessão da Câmara dos Vereadores desta terça-feira (10). 

 

 

Tudo começou com um requerimento do vereador Fernando Carneiro (Psol), solicitando que fosse incorporada aos anais da casa a matéria de O Liberal publicada na terça-feira (10) sobre o  metalúrgico Luiz Cláudio Silva.

Ele foi vítima de uma abordagem racista em supermercado na cidade de Limeira, interior de São Paulo.

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Foi quando a vereadora Nazaré Lima subiu a tribuna para congratular Carneiro pela atitude e compartilhou suas vivências com o racismo estrutural.

Ela lembra que este fenômeno é uma tentativa de apagar os negros como pessoas e contou que evita tocar objetos em lojas e abrir a bolsa quando está vendo produtos em uma prateleira, para evitar suspeitas de furto.

"O racismo estrutural significa que a sociedade foi estruturada historicamente sob a égide do racismo, de que os negros e negras são inferiores aos brancos. Eu mesma nesta casa tive dificuldades de ser reconhecida como vereadora, uma negrinha, pequenina, magrinha. Quem é você? Um branco alto, uma branca alta passa, que nem pedem identificação. Agora não. Já se acostumaram", afirmou.

A fala foi o estopim para uma série de críticas a vereadora. O vereador Juá Belém (Republicanos) apoiou o requerimento de Carneiro, mas repudiou o relato de Nazaré Lima.

Na opinião dele, a atitude vende para a população a ideia de que o parlamento é preconceituoso.

Segundo ele, o ideal seria especificar quem foi o autor do ato racista sempre. 

"Todas as vezes que se fala sobre algum tipo de preconceito nesta casa, alguém sobe nesta tribuna para falar que já foi vítima de preconceito. É necessário que a senhora dê nome as pessoas, pois a pessoa que não denuncia é tão covarde quanto aquele que foi lá e praticou o preconceito", aconselhou. 

Concordaram com o vereador os parlamentares Emerson Sampaio, do Progressistas, ("esse discurso vitimista não cabe mais"), Fabrício Gama, do Democratas, e Fábio Souza, do PSB.

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Lívia Duarte (Psol) saiu em defesa da correligionária. Ela classificou o discurso de Juá Belém como "violento e racista" e disse que não existe covardia no ato de não denunciar um caso de racismo.

"O debate racista é muito caro para nós e não é para ser usado para atacar uma mulher negra que vem aqui para falar livremente na tribuna, como usam os outros vereadores sobre qualquer tema. A gente ouve todo tipo de abobrinha aqui o dia inteiro", afirma. 

Da última fileira do plenário da casa, o vereador Juá Belém disse em voz alta que a fala de Duarte se tratava de uma "choradeira".

Ela rebateu o pastor: "choradeira é o que a gente estimula na Universal e na Assembleia [de Deus] quando está falando", disse. 

A fala agravou a tensão e o vereador Josias Higino (Patriota) ameaçou denunciar a vereadora Lívia Duarte na comissão de ética da casa, por discriminação religiosa.

Lívia e Juá conversaram e se entenderam quando a poeira abaixou, e o mesmo ocorreu com Higino, que desistiu da denúncia. 

Mais tarde, em conversa com o vereador Allan Pombo (PDT), Nazaré afirmou que "só quem sente o racismo sabe como é".

O episódio ocorre pouco mais de um mês após a Câmara rejeitar o Dia Municipal da Resistência e Liberdade Negras, de autoria da vereadora Lívia Duarte.

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