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Poder de viralização da internet influi na imagem de políticos e candidatos

O que é dito, comentado e publicado pode encerrar carreiras públicas em minutos

Abílio Dantas e Natália Mello
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O que é dito e feito por autoridades políticas é sempre alvo de observação da mídia, de especialistas em ciência política e do público em geral. No entanto, com o advento das redes sociais, comportamentos inadequados e mesmo quebras de decoro por agentes públicos, ao serem viralizados, tomam proporções graves e com rapidez inédita.

Recentemente, o caso do deputado estadual Arthur do Val, que disse que mulheres refugiadas na Ucrânia era “fáceis porque eram pobres”, e do prefeito de Itaituba, Valmir Climaco, que afirmou em uma festa que iria “comer mais de 20”, são exemplos do quanto os conteúdos digitais estão modificando a vigilância da população sobre os representantes eleitos pelo povo.

“Do ponto de vista da democracia, a Internet trouxe como negativo a facilidade na disseminação das notícias falsas. Mas como positivo, deu ao eleitor a possibilidade de conhecer melhor os seus representantes”, observa o consultor de marketing político Marcelo Vitorino. Segundo ele, a exposição quase contínua de políticos faz com comportamentos dissimulados sejam facilmente desmascarados, pois “em algum momento, ele (o político) derrapa e a sua essência toma o espaço da maquiagem".

Importância da comunicação digital

O especialista analisa que, tanto no caso de Arthur do Val quanto no de Valmir Climaco, mostram políticos em contato com suas crenças, que teriam mais dificuldade em vir a público se não tivéssemos a comunicação digital. “A falta de cuidado em se policiar vem do não entendimento de que é, antes de tudo, um meio de comunicação, não um brinquedo pessoal”, explica.

Para Marcelo Vitorino, o meio digital é um ambiente que deve ser tratado como a mesa do jantar em que a família toda está presente. “Já vi caso em que o diretor de uma empresa de tecnologia publicou um comentário ofensivo ao clube patrocinado pela sua empresa. Foi afastado do cargo. É muito difícil se recuperar de uma crise em ambiente virtual porque há uma máxima no digital: uma vez na Internet, nunca fora dela. Sempre vai haver um registro do que fez. O trabalho para ‘limpar’ a primeira página do Google é demorado e custa muito caro, além de muitas empresas prometerem, mas não entregarem. Seria preciso uma produção de conteúdo sobre outra pauta de forma continuada, relevante e em volume”, ensina.

Quando a má rputação viraliza

O poder de viralização de informações e conteúdos na internet é imensurável, afirma Cláudia Guimarães, consultora especialista em marketing digital, político e eleitoral. “A coisa mais importante que um político pode ter é a sua reputação, pois é ela que baliza a sua vida pública. Acontece que a velocidade entre a construção e a destruição de uma reputação são desiguais. Enquanto a primeira passa por um processo longo, que envolve a construção de uma mensagem única, produção de conteúdos, diálogo com públicos específicos e muito mais, a segunda não precisa de muito para acontecer. Basta um vídeo polêmico circular na internet para comprometer a reputação de um político, como aconteceu nos casos citados”, compara.

Do WhatsApp para o mundo

No caso do deputado Arthur do Val, as mensagens de cunho sexista enviadas em um grupo de WhatsApp se desdobraram em uma desfiliação partidária e início de um processo de cassação de mandato por falta de decoro parlamentar, destaca a especialista. “Mais do que uma mancha na imagem ou dano causado à reputação, há de se considerar, ainda, que as consequências podem ser muito maiores quando o que é dito ofende, calunia ou viola a legislação”, demarca.

O sócio-proprietário de uma empresa de comunicação em Belém, Marcus Pereira Gamma, vê a internet como uma vitrine, uma espécie de porta ou janela que estão sempre abertas. Por isso, as pessoas comuns, e, mais ainda, as figuras públicas, devem ter em mente a exposição diária ao qual estão submetidos. “As pessoas têm que ter responsabilidade com o que dizem, com as suas ações. Tudo está exposto na internet, e a internet não omite, não perdoa. Eu diria que a gente tem que se preocupar muito mais em demonstrar se você é uma pessoa séria, hoje em dia, por conta das fake news”, analisa.

O prejuízo da fake news

De maneira geral, ele pontua que, forma isolada, as fake news já causam muitos prejuízos, então figuras públicas, especialmente no cenário político, devem estar muito atentos para não criarem, por si sós, polêmicas envolvendo o seu nome. “Você tem que ter essa preocupação, porque a proporção é tamanha que é difícil de recuperar uma imagem. Provar que aquilo é uma mentira é uma coisa, agora imagina uma situação real, quando a pessoa se auto destrói, é ainda mais difícil. A internet é uma ferramenta de trabalho, hoje indispensável em qualquer plano de comunicação empresarial, seja na política, seja de um produto, porque faz parte da estratégia de construção e imagem de marca”, declara.

Também à frente de uma empresa de comunicação na capital paraense, Orly Bezerra diz que duas palavras ditam a nova dinâmica da comunicação a partir do advento da internet: a velocidade e o alcance. O jornalista e publicitário observa que as estruturas dos meios mudaram: do jornal impresso, que sai no outro dia, se passou para a rádio, que já permitia um acompanhamento em tempo real, e depois a televisão. Com as novas tecnologias, as redes sociais passaram a configurar outra dimensão desse cenário.

“É preciso, principalmente para quem tem responsabilidade como representante do poder público, seja no Executivo, Legislativo ou Judiciário, como cidadão, empresário, como executivo, como responsável por alguma entidade de classe, esse cidadão tem que ter a cautela devida e a responsabilidade em relação a seus atos. Qualquer ação ou pronunciamento que contrarie o senso comum, as leis, deve ser repudiado, e a consequência é grande. Essa vai ter que pagar e ser responsabilizada por esse ato irresponsável. E é o que tem acontecido ultimamente”, diz Orly.

O comunicólogo reforça outro ponto: essas posições já existiam, os comentários eram proferidos, a diferença é que não chegavam ao grande público, especialmente porque não era possível informar tudo, já que os meios de se comunicar eram diferentes e menos ágeis. Mas ele lembra, assim como Marcus, do poder das fake news e do cuidado que deve ser dado à dimensão dada a um conteúdo.

“Qualquer cidadão é capaz de expandir a informação que ele tem, de registrar e produzir um conteúdo, e ainda de reproduzir o que chega até ele. O alcance é incontrolável. E um parêntesis que acho importante: no meio em que se vive, além das facilidades, as fake news são como monstros, porque também criam mentiras, fantasias, então temos que estar atentos para não ser um propagador de notícias mentirosas. É necessário ver de onde veio a informação para antes espalhá-la”, concluiu.

Outros casos

Cláudia Guimarães exemplifica o tema ainda com o caso do ex-juiz Sérgio Moro, envolvido em vazamento de mensagens do aplicativo Telegram. “As mensagens trocadas pelo Telegram entre o ex-juiz e agora pré-candidato à presidência da República, Sérgio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol, impactou de maneira significativa o ordenamento jurídico e o desdobramento de ações da Operação Lava Jato, além de trazer até hoje consequências para a imagem de Moro como pré-candidato”, afirma.

A especialista em marketing digital cita ainda o caso do deputado federal pelo Paraná Fernando Francischini, que foi cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) após ter propagado falsas alegações de fraudes em urnas eletrônicas. “Sobre a possibilidade de reversão dessas crises para a imagem dos políticos, nada é impossível, mas cada caso é um caso. Acredito que a estratégia para gerenciar crises como essas passa principalmente por pesquisa. É preciso entender o impacto, o alcance e gravidade do dano. Mais do que isso, é preciso compreender a imagem que fica para os eleitores, para então traçar os caminhos para gerenciar e solucionar a crise”, conclui.

 

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