Entrevista: Prefeitura vai priorizar 'Boulevard da Gastronomia' em 2022

Edmilson Rodrigues destaca ações com maior foco para 2022 e destaca projeto para valorização do turismo na capital, com foco no centro histórico e região das ilhas

Sérgio Chene

Após um ano de gestão e após ter ficado um período hospitalizado por conta da covid-19, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues esteve no estúdio da redação integrada de O Liberal, onde concedeu entrevista ao jornalista Sérgio Chêne e a social mídia Ingrid Bittencourt. Edmilson falou de família, dos momentos críticos devido a doença, mas também tratou de políticas públicas na capital paraense. Construção de empreendimentos na orla da cidade, transporte público, novidades em projetos culturais no centro histórico, gestão de resíduos e o processo eleitoral de 2022 foram alguns dos temas abordados.

O ano de 2021 foi de grandes emoções para o senhor, que retornou à função de prefeito de Belém em um cenário de pandemia. E, mais recentemente, passou um bom período hospitalizado. Queria que o senhor comentasse um pouco como está sendo esse final de ano do Edmilson, em casa, com a família por perto.

Sou um crente na ciência, porque tenho uma vida acadêmica. E, vacinado na segunda dose. Os médicos todos disseram que eu não teria sobrevivido sem a vacinação, nas duas doses, que foi muito grave. O que só confirma a importância da imunização da população. Felizmente as pessoas ganharam consciência Belém. Talvez seja uma das cidades onde o povo criou mais consciência da importância da vacina. Hoje mesmo o nosso relatório mostrava 90.1% da população vacinada, está imunizada. É lindo isso, né? A capital do Norte está entre as populações mais vacinadas, né? E 77% da população total, porque nem todos podem ser vacinados ainda. De modo que diminui, mesmo assim todos os epidemiologistas afirmam que em 70%, 75%, já dá uma certa segurança. Fica mais difícil (de infectar), ela cria uma barreira, senão uma muralha, um muro importante para conter a expansão do vírus. E não está descartada a terceira onda porque tem novas variantes, a Ômicron é uma. Daqui a pouco surgem outras, especialmente em países onde há baixa imunização. Espero que a gente consiga, realmente, avançar um pouco mais para não ter risco de uma de uma terceira onda, porque o prejuízo econômico para a cidade é grande. E o sofrimento de perdas de vidas é muito triste. Hoje, em Belém, não tem uma pessoa que não tenha uma perda de um amigo ou de um familiar. Bem verdade que nós salvamos mais de 100 mil dos 105 mil que adoeceram, pouco mais de 5 mil morreram (né?) Então é muito bonito dizer que a gente salvou 100 mil pessoas, no entanto, 100 mil vidas salvas não apaga a dor de 5 mil e poucas perdas, pessoas em pleno vigor físico e intelectual, de repente desaparece, né, muita gente amiga, famílias inteira.  Vendo os seus entes morrer. Então eu tive essa experiência. Sou um homem forte. Aos 64 anos, nunca tinha feito uma cirurgia de dente se quer. E logo numa, chamam de semi-UTI, mas é uma UTI. Depois de alta hospitalar, você, quatro dias depois, ser internado de novo. Sem poder me mexer, com uma dor insuportável. Aí descobre que era o pulmão tomado por sangue todo sendo jogado e contido pela pleura.

image Edmilson Rodrigues, prefeito de Belém (Elivaldo Pamplona/O Liberal)

Eu sou um cara muito ligado à família, aos meus filhos, aos meus netos. Foi um pouco difícil, porque uma das minhas filhas estava no Rio, a Natália, e não pode vir por questões profissionais. Eu devo muito aos médicos e demais profissionais da saúde que me atenderam. Você cita sempre, esquece de alguém, então obrigado a todos que foram solidários a mim e a todos que perderam parentes e amigos.

Sobre a gestão, especificamente. Como podemos avaliar o processo de vacinação preventiva à covid-19? O que esperar para 2022?

2022 é um ano de muitas esperanças, espero que não haja uma terceira onda.  Por isso nós estamos contidos. É por isso que eu havia até sugerido a realização do carnaval, festa de Réveillon, que é bom para atrair turistas, bom para quem festas, para quem trabalha com produção cultural. Enfim, para cidade é bom, né? No entanto, eu dei um passo atrás, tive que dar. Humildemente, tive que chamar os diretores de escolas de samba e demais interessados, disse ‘ei, pessoal, a gente não pode correr risco’. Tem uma nova cepa aí que foi identificada pelos cientistas sul-africanos, e que pode causar uma terceira onda. Não podemos correr o risco. Eu até creio hoje que nós chegamos a um grau de imunização e que façam que os riscos sejam pequenos, sabe. Mas eu não sou autoridade nessa área, então eu obedeço os técnicos que têm, digamos, estudado realmente, e têm demonstrado capacidade para desenvolver a política.

Eu fui deputado federal (Sérgio e Ingrid), e pude participar dos debates e aprovar o ‘orçamento de guerra’ como nós chamávamos. Em que redundou o orçamento de guerra? Em recursos para empresas, incentivos fiscais para empresas. Para que elas não demitisse empregados. Agora, eu começo a discutir, de novo, com os empregados, porque as empresas paradas não tinham como manter os seus rendimentos, lucratividade.  O Estado alguns milhares, milhões de reais. Belém recebeu mais de 115 milhões somente para a área da Assistência. Só que em janeiro já não tinha mais orçamento de guerra.

O senhor já falou que o carnaval não vai ser realizado. Mas em relação aos blocos de ruas, tradicionais no mês de janeiro. Tem alguma posição sobre esse assunto?

Vamos ter que nos debruçar. Uma nova conjuntura surge. Claro, se eu converso com o secretário de Saúde, Claudio Salgado e com sua equipe são altamente especializados. Eu me guio por essas pessoas. Eu vou reunir, se houver alguma mudança de opinião, eu não tenho nenhum problema de chamar os líderes, organizadores desses eventos, e dizer ‘ei, pessoal, vamos liberar assim ou assado’. Tem um decreto estadual e nós temos concordância, naturalmente, relativizando aqui ou alí, e que tem um lado muito positivo: ao invés de proibir um evento, exigir a comprovação da vacinação delas. Se eu sou cristão da Universal, o que se exige do pastor, é que abra o templo, mas exija a comprovação de vacinação. Aí, o camarada que realmente for uma pessoa de fé, e sentir necessidade daquele trabalho espiritual, ele vai ter que se vacinar. Então, isso tem colaborado para o crescimento de até 50% na procura por 20 vacinação. São índices, portanto, que nos obrigam a refletir. A tua pergunta não tem uma resposta imediata, mas nós estamos em trabalho permanente, vamos sentar, tem um apelo de empresários da área de saúde.

Em um cenário de pandemia, com impacto da economia. Como está o caixa de Belém? E qual a expectativa para este ano?

Eu tenho tomado uma postura de não ficar chorando o leite derramado. Importante porque se trata de interesse público. Na transição, eu só fui ter acesso a conta da prefeitura, de quanto nós tínhamos realmente, no dia 7, 8 de janeiro, conforme a lei autoriza até, né? Mas, naturalmente seria de bom alvitre, que a comissão de transição tivesse as informações antes e passasse para minha equipe antes. Nós nos planejávamos, quanto eu vou ter em caixa disponível para comprar remédio, para fazer algum investimento necessário e urgente. Então esse é o problema, depois eu tive informação que nós tínhamos superávit. Na verdade, nós tínhamos cinquenta (e uns pouquinhos) milhões de dívida de curto prazo. Significa que, aquele cara que entregou o remédio, e quer receber por ele, que fez a obra e quer receber, não é o pilantra que não entregou, e quer receber.

image Edmilson Rodrigues (Elivaldo Pamplona/O Liberal)

Se é empresário, mas prestou serviço; é uma empresa de comunicação, divulgou e prestou o serviço, ela tem o direito de receber para pagar os seus jornalistas, técnicos. Então, você tem que administrar o pagamento dessa dívida em curto espaço de tempo não é fácil, mas a gente foi trabalhando tudo isso, respeitando todo mundo. O problema maior é uma dívida fundada de médio ou longo prazo, que já extrapola um R$ 1 bilhão, algumas com juros até razoáveis, dentro dos parâmetros do mercado atual, mas algumas dívidas que foram contraídas com juros muito altos, porque são operações de crédito mais facilitadas. Tipo assim, Finisa, uma linha de crédito da Caixa, que ao invés de você passar por todo um processo de aprovação do projeto junto aos engenheiros, arquitetos da Caixa Econômica, só quando liberado, depois da obra feita. Aí você faz a medição, foi aqui, a medição foi R$ 1,2, aí libera R$ 1,2 milhão... Entendeu? Não, esse financiamento, ele autoriza a prefeitura a receber o dinheiro. Então ela comanda a obra e depois ela presta a conta, mas ela pode receber o dinheiro antes para autorizar uma obra, seja reforma de uma escola, de uma praça. Esse dinheiro de quase R$ 200 milhões, último empréstimo do Finisa, foi gasto de forma muito irresponsável. Mas eu não vou também ficar “chorando o leite derramado”.  Vou te dar um exemplo. O mais importante monumento arquitetônico da Prefeitura de Belém é o Palácio Antônio Lemos. A obra de restauro, segundo a prefeitura, no projeto que já existia, feito pela Seurb, estava em torno de R$ 18 milhões, a prefeitura faz um licitação de R$ 2,6 milhões, significa que não era para fazer a obra toda. O que diz o contrato? Pintura externa, restauro das esquadrias, portas, janelas vidros quebrados e um problema da eletricidade, do sistema elétrico todo. A obra é monumental, e ela tem que ser restaurada, a obra cara. Se você fizer uma parte, cria a ilusão que está sendo feito a restauração da obra, mas o empresário não vai uma obra de R$ 20 milhões, se o contrato dele é só de R$ 2 milhões. Dar a impressão tinham muitas obras sendo realizadas e todas elas acabaram sendo paralisadas por conta da insuficiência ou quase todas. Até mesmo obras como a Praça Dom Pedro II nós inauguramos, enfrentava esse tipo de problema. São decisões administrativas que herdamos e vamos resolver, por exemplo, alguns convênios que nós estamos fazendo com o Governo do Estado, para restaurar 17 feiras. Só a feira da Pedreira, você tinha R$ 3,6 milhões e para a antiga Casa do Bife, R$ 1,6 milhão. São quase R$ 5 milhões de um convênio, uma ação cooperada importante para dinamizar a economia, mas só que até agora não pode assinar, porque tem um problema de Belém no CAUC (ligado ao Tesouro Nacional), cadastro de inadimplência, por conta de o não cumprimento de investimento de 25% dos impostos em educação. Aí nós estamos resolvendo isso. Mas é um prejuízo para toda a cidade, não poder receber recursos federais e estaduais. Não importa quem está no governo, é o município que entra no cadastro. Mas vamos fazer operações de crédito, vamos reformar o Palácio Antônio Lemos, o Palacete Pinho, que ficou 16 anos abandonado e o Mercado de São Bras.

Esta semana foi anunciado o convênio para obras em feiras da capital. Já existe um cronograma de como vai funcionar isso?

São 17 feiras inicialmente. A liberação dos recursos para fazer imediata reforma de seis das 17. O total do convênio é de R$ 47 milhões. É um bom dinheiro e a Prefeitura que vai executar. Vamos fazer render ao máximo esse dinheiro. Na feira da Pedreira, nos dois prédios, nós vamos gastar R$ 4,9 milhões. As primeiras seis talvez nós façamos adesão de atas para ter empresas sérias já licitadas, que possam realizar as reformas no espaço de tempo menor.  Mas vamos abrir licitação para as demais 11 feiras, todas as importantes, são as maiores feiras da capital. Então nós vamos ter reforma em várias delas. A 25 (feira) não está incluída, mas a 25 é uma boa feira, mas nós vamos fazer investimento próprio lá, para tornar o ambiente melhor para os feirantes. É um investimento grande, que felizmente no dia 12 de janeiro será um dos presentes de Belém, a assinatura, porque que nós já resolvemos o problema do cadastro. A certidão já vai poder ser expedida porque o conselho de educação analisou e conseguiu dar uma solução legal, que não implique na punição da cidade, do município, dos munícipes, do cidadão, por uma decisão que não dependeu do povo, foi do administrador. O que for decisão descumprida, no meu governo, em termos constitucionais, em no meu governo criará prejuízos para os outros. Então foi essa solução que nós conseguimos. Felizmente iniciaremos essas reformas em várias das principais feiras.

Belém tem ganho destaque nacional e internacional pela cultura, gastronomia e o Combu ganha cada vez mais espaço. A Prefeitura tem tido um olhar diferenciado para essa expansão, que precisa de todo um cuidado, pela questão social e ambiental?

Vamos começar pelo Combu. Lá temos vários pedidos de regularização de empreendimentos comerciais, especialmente ligado à área da gastronomia. E as Secretaria de Meio Ambiente e de Urbanismo têm-se se debruçado. A ideia é o seguinte: não vamos emperrar, colocar na gaveta nenhum processo, ao mesmo tempo vamos ter muito para não criar situações de risco ali. O cara quer empreender e não teve condição de se capitalizar, aí faz um trapiche com madeira de segunda, dentro de alguns meses tem gente caindo, morrendo. Esses cuidados têm que ter. Nenhuma obra vai ser feita sem uma análise detida e sem que a parte ambiental seja respeitada porque é uma ilha paradisíaca. Ela é um bioma frágil, no entanto, porque a maior parte dela é de um tipo de floresta de várzea, tem um grau de fragilidade, diferentemente das florestas de terras mais altas. Como fazer turismo no Combu se cada restaurante joga o lixo no rio? Algo em torno de 40 toneladas, mês. Somente agora, no início do ano, já no meu mandato, a empresa que coleta lixo, uma delas, teve que alugar um barco com vários contêineres para coleta seletiva e vários contêineres para o orgânico, restos de comida, e outros resíduos. Todas as comunidades da Ilha do Combu, hoje, tem o seu barco do lixo. E alguns barquinhos que entram nos furos, se aproximam do barco maior para fazer a transferência. Isso está funcionando. Aí eu fico pensando: o grau de poluição quando essas toneladas todas eram jogadas dentro do rio? É uma grande contribuição ao turismo, que é quase imperceptível, que grande parte da população não sabe. Mas tem um grande projeto, que me foi apresentado pelo arquiteto da minha turma, Raul Ventura: o Boulevard da Gastronomia, uma ideia dos empresários. Tem o o antigo prédio de O Liberal, que funciona ali no Boulevard. Você tem o Ver-o-Peso, portanto iniciativas institucionais ou privadas de muitos milhares e até milhões de reais para revitalizar tudo aquilo, dar condições que a classe média vá e se divirta. Nos procuraram, e um dos financiamentos que nós já garantimos é o Boulevard da Gastronomia. Nós vamos investir muito no sentido de afirmar esse papel cultural. Lá no Boulevard, além da recuperação dos prédios históricos feitos pela iniciativa privada, alguns estão previstos, inclusive abandonados. Ouvi dizer que o arquiteto Aurélio Meira está trabalhando na adaptação de um dos prédios para hotel. O Sesc vai fazer o terceiro prédio, colado ali ao Banco central e a prefeitura já pesquisou os valores venais para desapropriar um ou dois daqueles casarões para adaptar para status de multiuso também com função gastronômica e cultural no sentido amplo. Temos lá também o Arraial do Pavulagem, é um prédio simbólico de um dos eventos mais importantes da cultura parauara, de modo que ali realmente nas províncias formaram grande espaço cultural, gastronômico como marca. E eu tenho investimentos já garantidos, é uma prioridade nossa. Como nós já garantimos os recursos, a prioridade será realizada. Outras prioridades menores, de menor porte, serão executadas, como por exemplo, na avenida Ceará, possivelmente teremos um espaço ligado à Semob: o Museu do Transporte. Porque Belém-Bragança compuseram um sistema de trilhos e o Sindicato dos Ferroviários está ali, um prédio antigo e já determinei que vamos desapropriar. Ao mesmo tempo, lá ao lado do Tribunal de Justiça, na praça perto do Ministério Público, Felipe Patroni, próximo da prefeitura, também, você tem a casa onde morou o Bruno de Menezes, um escritor, poeta negro, um gênio paraense. Vamos desapropriar. A proposta me foi feita por um grande pesquisador da Literatura Paraense, o professor Paulo Nunes. Nós vamos desapropriar o prédio e transformar em Casa Bruno de Menezes, tendo o Modernismo brasileiro como referência. Temos que valorizar a cultura, e cultura é mais do que arte. O centro histórico vai ser alvo de políticas de fortalecimento.

Sobre o transporte público, um tema recorrente. Quais desafios o senhor prevê e quem devem ser enfrentados em 2022?

Será um dos mais fortes problemas a serem solucionados. Vamos começar com a Câmara, porque hoje a lei municipal estabelece seis anos apenas para quem ganhar uma licitação. Veja só, se compra ônibus por R$ 1 milhão, R$ 1,5 milhão a depender do tipo de veículo que a gente pega, por baixo R$ 1 milhão, significa R$ 100 milhões para cem ônibus, R$ 2 bilhões para 2 mil ônibus e nós precisamos de 2 mil ônibus na região metropolitana. Se a gente abre uma licitação, qual é o empresário que pede empréstimo para comprar 2 mil ônibus ou 200 ônibus, se for parte apenas do sistema, portanto são empréstimos bilionário ou milionário, aí depois de seis anos, se o prefeito quiser não renova o contrato? Ficou um tempo muito exíguo. Então a gente vai fazer o edital de licitação conforme o Ministério Público está acompanhando, tem exigido, mas a possibilidade de fracasso é grande. Nós temos que refazer isso. Não há empresário que vai investir, se endividar, correr risco, e depois de um mandato e meio, ou cara não é reeleito. No meu caso por exemplo, eu vou concluir esse mandato, vem um próximo, se nós fizemos ano que vem, nós temos mais dois anos e mais um mandato.

Quem virá depois pode, digamos assim, não renovar a concessão. Ter a postura de não renovar a concessão. Quem investe, quer segurança. Eu estou raciocinando, mas sou um cara de esquerda. Nenhum empresário vai modernizar a frota, vai investir se ele corre o risco de ficar no prejuízo. Então, temos que pensar numa nova lei, e temos que planejar realmente na área metropolitana. Eu falei com prefeita Luciane Solon, de Benevides, há duas semanas sentei com o prefeito Colares, lá de Santa Bárbara, e vou conversar com o Daniel e temos conversado com o Governo do Estado. Temos conversado inclusive porque tem um BRT Metropolitano e as conversas têm avançado. Eu não sou, nunca serei empresário, minha vida, e nem quero ser, já tô no meu oitavo mandato. Agora eu tenho que entender o seguinte: as universidades, as escolas públicas e privadas param, não há passageiro, há uma queda de rendimento, então houve realmente algumas empresas menores em dificuldade de operação. Isso realmente repercute na qualidade.

Acabamos de suspender a empresa que fazia Outeiro. Ora, imagina, o pobre no final de semana e feriado, ele vai para a Outeiro, a mais próxima. Agora, eu não podia manter a empresa, suspende, coloca outra. Isso são problemas que indicam que realmente o sistema precisa ser modernizado, desafios enormes.

No contexto de mobilidade urbana, a gente fala muito na questão do transporte público, ônibus, BRT, mas como o senhor enxerga a questão dos ciclistas, das ciclovias? Como Belém pode avançar nesse contexto?

Fiquei muito triste com o fim pelo menos do modo que era a ciclovia da Almirante Barroso. Nós tínhamos ali 14 quilômetros de ida e volta de muita segurança. Eu sou um cara viajado. Quem vai na Alemanha ver a faixa sinalizada na mesma altura, é no passeio público. Geralmente é muito generoso lá, você já conhece e respeita. O ciclista vem, você dá o sinal, mas sem barreira, no Brasil não. Infelizmente com projeto do BRT, de forma irresponsável, que gerou condenação a prefeito e envolve outro prefeito em processo de investigação por vários problemas. Enfim, verdade que destruíram. A ciclofaixa da Augusto Montenegro são 26 quilômetros, ida e volta, também se perdeu. Agora eu já tenho uma licitação para urbanização da Augusto Montenegro, são recursos que estão nos cofres. É uma licitação que já está em procedimento porque uma que nós herdamos, estava cheia de problemas. Aí nós não homologamos. Aí já tem um projeto, são mais de 2.600 árvores a ser plantadas na Augusto Montenegro com ciclovia, passeio público, porque hoje, por conta da obra do BRT que ficou incompleta, o camarada quer caminhar não tem ciclovia, não tem passeio público, é difícil.  A gente falou que corre risco de um ônibus o por outro veículo. Então essa obra tem recurso garantido no valor de R$ 460 milhões e em breve nós teremos o resultado da licitação. Nós readaptamos os recursos do BRT, cerca de R$ 90 milhões que existiam para fazer sentido aeroporto.

image Prefeito Edmilson Rodrigues (Elivaldo Pamplona/O Liberal)

Um tema que deve ser bastante debatido em 2022 é referente ao projeto de construção de empreendimentos residenciais e comerciais na orla de Belém. Como está o andamento do tema junto à Câmara dos Vereadores?

Nem tudo eu concordo e, por exemplo, como arquiteto urbanista, eu não concordo com este projeto. E esse argumento que é do meu amigo, presidente da Câmara, que deu entrevista para vocês, Zeca Pirão, tenho o maior respeito por ele, ele tem sido um parceiro. Mas os estudos urbanísticos dos cientistas da área, porque aí eu não posso dizer qual a vacina é mais eficaz que a outra, a não ser por uma leitura feita superficialmente, mas não sou da área, mas eu posso como urbanista. Estudioso da economia urbana, pode-se afirmar que, às vezes, o que é uma solução, é um grande problema. Belém tem uma ventilação média de 2,5 metros por segundo. Sabe o que significa? Que não podemos aqui produzir energia a partir do vento como lá em Fortaleza, ou em outros estados como a Bahia. Há muitos sistemas de produção de energia. Aqui não porque a ventilação é muito baixa, não morreria as manivelas. Se nós fizemos aqui o que fizeram em algumas cidades permitiram, e já se arrependeram, Recife é uma, mas há outros exemplos de muralhas, criando uma verdadeira muralha, barrando a entrada dos ventos que já são poucos, nós vamos criar um clima extremamente desagradável em Belém, inviabilizando a vida. Por outro lado, os pobres serão expulsos dessas áreas que hoje são habitadas pelos pobres das baixada. Belém já tem um problema. Ela teve a sua orla privatizada, você vai várias cidades do mundo, você vai ver portos para servir várias empresas. Em Belém não, cada empresa quis fatiar e ter seu próprio porto, isso é uma loucura. Aí nós vamos privatizar mais. É opinião minha, do ponto de vista urbanístico, social, econômico, será ruim para Belém. Os vereadores, no entanto, podem apresentar ideias? Podem. O Conselho de Desenvolvimento Urbano vai debater, que é autônomo da Prefeitura, e vai debater esses problemas da Câmara? Debaterá. Terá pressão popular? Terá. Se eu for chamado, eu vou dar a minha opinião. Alguns arquitetos, doutores em urbanismo, alguns colegas, vão dar a sua opinião. Alguns até podem concordar, porque esse aumento vai gerar empreendimentos, empregos. Agora mesmo teve um empreendimento, de uma empresa francesa. Eu disse mesmo aos proprietários, ‘se fosse em Paris ou em Lille’, toda a diretoria estava presa. Porque, o que eles fizeram foi o seguinte: o limite que a lei permite são 7 metros de altura. Os técnicos da prefeitura do governo anterior autorizaram 9,5 metros. Já burlaram a lei. A empresa então podia dizer, ‘olha, a culpa não é minha se a prefeitura autorizou’, eu faço até 9,5 metros, mas eles construíram mais de 12,5 metros, um andar a mais de uma obra grande. Os técnicos já tinham, por algum motivo que não consigo compreender, alterado o que a lei permite, tem mais dois metros. E a empresa por conta própria fez mais o equivalente a um andar.

 

O senhor é contra então?

 

Eu sou contra, mas estou aberto a debater.

 

O período chuvoso atrasou um pouco, mas está chegando. Como a capital conseguiu se preparar e o que mais deve ser feito?

 

O problema de alagamento em Belém exige obra de infraestrutura, de grande porte. A obra do Uma, a macrodrenagem do Una foi concluída em 2004. E como não foi feita manutenção, é como a pia da nossa casa, se a gente não desentope, ela entope. É assim, não pode ser diferente. Todos os rios urbanos, todos ficaram abandonados, assoreados. Se a calha do rio diminui porque está tomado por ilhas, foram criados ali detritos por terra vindo de outras regiões.  Em alguns estados criaram os piscinões, por baixo da terra, e quando chove muito aquela piscina segura, se chover mais do que a piscina capaz, aí há os alagamentos. Nossas piscinas são os nossos canais, nossos rios. Infelizmente como as piscinas estavam cheias de terra e de detritos, então nós retiramos 98 mil toneladas. E tem muito a tirar ainda porque a permanente o processo. Já começamos a operação de limpeza, mas a macrodrenagem das bacias, e são 14 bacias hidrográficas, as macrodrenagem são importantes. Aí a bacia do Una foi feita e abandonada. Já há recurso, no outro programa, o Promaben, Programa de Macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova, mas uma parte dos recursos do é do BID, que financiamento pago pelo povo de Belém. Uma parte, parece-me que dá R$ 76 milhões, é para fazer a recuperação de uma obra que já foi concluída em 2004, mas por não ter manutenção, bairros como Sacramenta Barreiro, Telégrafo e mesmo a Marambaia, Matinha, agora bairro de Fátima, todos comprometidos. Um dia desses meu amigo perdeu um carro dentro do estacionamento. Ele perdeu porque o canal da Antônio Baena estava todo assoreado. Com a limpeza que fizemos de todos os 65 canais das 14 bacias, mas de 804 quilômetros, isso abrandou. Este ano, houve problema, porque o trabalho já recomeçou, mas as chuvas vieram muito forte. E alguns não conseguiram segurar. Então realmente vocês mesmos noticiaram que 40% das chuvas do mês inteiro caindo em um só dia.

 

Estamos no trabalho de limpeza dos canais e a solução definitiva é a conclusão das obras de macrodrenagem da Estrada Nova. Salvamos o projeto, porque o BID ia retirar Belém e a obra tá avançando muito fortemente beneficiando dos bairros da Cidade Velha, Jurunas, Condor, Cremação e Guamá.  

 

Realmente um projeto muito importante, com obras muito importante. O sistema de engenharia que vai receber as águas da bacia na confluência da Caripunas com a Baía do Guajará, se você visita ali é portentoso, você quase que se perde, são galerias para receber a água de toda a bacia para evitar as enchentes. Isso não estava no ponto de vista técnico, previsto. E agora nós estamos avançando, estamos concluindo essa obra e vamos avançar. A maior obra de tratamento de esgoto do Norte e Nordeste do País vai ser construído pelo Promaben, para favorecer esses bairros da Estrada Nova. Tem uma outra, que é a segunda maior, o Tucunduba que, infelizmente eu inaugurei a primeira etapa em abril de 2004, com a presença do Lula (Justiça se faça), e infelizmente a obra ficou parada por 16 anos. No aniversário de Belém tem a previsão de inaugurar a última etapa, quem vai da baixada do Marco passando pela Mauriti até o Canal da União, Leal Martins ou quem vai na Vileta da estando a João Paulo para Baixada, antes nesse período não se conseguia passar na Vileta hoje, já vê essa diferença. Uma obra que no entanto esperou quase duas décadas. Não tem essa história de dizer não concluiu, não pode não ser concluída, tem obra que tem precisão de dez anos, vão ter dois mandatos de prefeitos, mais meio. O que não pode é parar por mais de dez anos como ficaram paradas as obras do Tucunduba. Aí quem paga são os que vivem na baixada da Terra Firme, Guamá, Marco e Canudos. Eu falei de três bacias. Já temos um empréstimo de 60 milhões aprovado para o canal do Mata Fome. É um grande projeto já aprovado e autorizado pela Câmara, o Fonplata é uma espécie de BID, um banco que atua no sul do país.

 

Também existe a questão dos resíduos sólidos da capital. Como está o diálogo e as soluções sobre esse tema?

 

Vai ter a licitação para o aterro sanitário e já ampliamos as equipes de coleta de lixo reciclado. Aumentamos o número de contêineres e de equipes de três para oito, e agora já tem outras equipes entrando. Belém vai melhorar muito nessa época e nessa área. E a licitação, a empresa vai regularizar a área do aterro. Não é a prefeitura que vai fazer. Queria dar essa resposta porque vivemos numa crise muito grande e é uma contradição, e como estamos em um órgão de grande e capacidade de influência e comunicação, eu peço a qualquer jovem que tenha celular com acesso à internet agora, escreva assim, pode ser em Português, as melhores práticas prêmio Dubai 2004, e vão ter orgulho de ver terceiro item 3, desenvolvimento humano na comunidade do Aurá. Como é que um antigo lixão é transformado em aterro sanitário? E como é que se tira todas as crianças que cantavam lixo ali? Como é que faz mudança tão significativa a ponto de estar entre as 10 práticas do mundo? E como é que eu vou para o doutorado, volto, já fui deputado estadual, federal, e vejo esse projeto destruído? Um aterro implantado em Marituba que virou lixão adoecendo as pessoas.

 

Mas nós estamos indo atrás da solução, a justiça entrou no caso. Já temos empresas interessadas com alta tecnologia e experiência no Brasil e vai haver uma licitação. Vamos ver Belém, em breve, entre as cidades onde a questão do lixo sólido é realmente referência de metrópole com todo o potencial turístico que nossa cidade merece.

 

Ano que vem é de eleições. É possível já uma sinalização de quem o PSOL deverá apoiar nos cenários estadual e nacional?

 

Sou do PSOL, mas não sou dirigente do PSOL. O PSOL vai debater se lança candidaturas ou não. Tem direito de lançar. Tenho diferença com o governador, tenho claro. Até dentro de um partido temos diferenças e se tratando de um governo, de um governador de outro partido, no governo amplo com vários partidos, muitos características próprias, fora do campo ideológico, eu claro tenho. Mas eu posso dizer também, publicamente, que o Bora Belém tive a humildade para ir com o governador e dizer ‘quero fazer uma parceria’. Cada milhão, um milhão. Bacana. Ao invés de 11 mil famílias, 22 mil famílias. Já estamos com 13 mil. Mas como é sério, não queremos dar R$ 450,00 para alguém que estava ali se recuperando de uma lipoaspiração. Porque isso é uma agressão, uma s...., uma pessoa que se inscreve no Cadastro Único e pode fazer uma lipoaspiração ou tem dois carros na garagem como nós mesmos descobrimos. Todo o processo envolve 140 pessoas, funcionários, que fazem busca ativa. Esse programa é importante. Então eu tenho que agradecer a parceria que viabiliza um programa como esse, como na verdade as limpezas de canais de Belém bem tratada, boa parte dos recursos veio também dessa ação cooperada com o Governo do Estado. Querendo ajudar, estamos juntos. Eu tenho que reconhecer e ser honesto para divulgar, aquilo que vem a contribuir com nossa cidade. Agora, do ponto de vista eleitoral é uma decisão partidária e eu me submeto. Agora eu não vou trabalhar contra um governo, que está de algum modo ajudando, mas que tem legitimidade para qualquer partido lançar suas candidaturas, tem. Belém precisa hoje, dado a crise financeira precária, herdada por nós, a parceria com o Governo do Estado tem sido muito boa. Espero que ela permaneça. E que a gente possa ter processo eleitoral tranquilo e que não haja nenhuma atenção por conta das disputas. É claro, o governador é possivelmente candidato à reeleição. Eu estou eleito, não estou muito preocupado imediatamente porque tenho ainda três anos pela frente. O diálogo respeitoso, isso tem que predominar.

 

 

 

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