logo jornal amazonia

No Pará, 28 casos de violência contra a mulher foram registrados por dia em 2025

A violência contra a mulher pode ocorrer de forma física, psicológica, sexual, patrimonial e moral, conforme definido pela Lei Maria da Penha.

O Liberal
fonte

Vários episódios de violência contra mulheres chocaram o Brasil nos últimos dias. Neste mês, em que são celebrados 19 anos da Lei Maria da Penha e a campanha Agosto Lilás — para reforçar a importância do enfrentamento a esse crime — casos de agressões em elevadores, grávida espancada e adolescente morta repercutiram na mídia. A prefeita de Marituba, Patrícia Alencar, também relatou ter sido vítima de violência doméstica por parte de um ex-marido, evidenciando que esse tipo de agressão atinge mulheres em todas as esferas sociais.

Dados alarmantes da violência contra mulheres no Pará em 2025

No Pará, segundo dados do Ministério das Mulheres, uma média de 28 casos de violência contra esse público foram computados por dia em 2025. O número foi calculado com base nos dados da Central de Atendimento à Mulher, o Ligue 180, que identificou 6.072 casos de violências dentro de 1.655 registros de denúncias feitas de janeiro a julho deste ano no estado. Segundo a pasta, muitas vítimas relataram mais de uma forma de agressão em um único registro.

Pois, a violência contra a mulher pode ocorrer de forma física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Essas agressões afetam desde o corpo até a saúde mental, os bens e a dignidade da vítima.

Feminicídios e prisões no Pará: números e avanços

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup), o estado registrou 31 casos de feminicídio entre janeiro e julho de 2025. Número que representa uma redução de 3,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, que contabilizou 32 ocorrências. No ano de 2024 inteiro, foram registrados 50 feminicídios no Pará, contra 57 em 2023, uma queda de 12,2%.

VEJA MAIS

image Estádio do Mangueirão ganha iluminação lilás pelos 19 anos da Lei Maria da Penha; veja as fotos
Iluminação em LED faz alusão à campanha Agosto Lilás, que reforça o combate à violência contra a mulher

image Feminicídio no Brasil: número de mortes cresce e impacta saúde mental das vítimas
Especialistas explicam diferenças legais entre homicídio e feminicídio e destacam efeitos emocionais da violência contra a mulher

image Lei Maria da Penha completa 19 anos com reflexos importantes na vida de vítimas de violência
No Agosto Lilás, mês de conscientização e combate à violência contra as mulheres, a advogada criminalista Raysa Alves destacou a importância da Lei Maria da Penha

Além dos homicídios motivados por gênero, a Polícia Civil informou que foram realizadas 56 prisões por feminicídio em 2023 e 48 em 2024, demonstrando o avanço da atuação repressiva do Estado no enfrentamento à violência contra mulheres.

Ações preventivas e repressivas da Segup para combater o feminicídio

A Segup destaca que o combate ao feminicídio exige uma abordagem integrada, que envolve ações preventivas, assistenciais e repressivas. Na prevenção, são realizadas palestras, campanhas educativas e projetos voltados à conscientização sobre a gravidade da violência de gênero, com foco na desconstrução de padrões machistas e na promoção de uma cultura de respeito.

“Além disso, por meio de parcerias interinstitucionais, como com a Fundação ParáPaz, o Estado oferece atendimento multiprofissional, com psicólogos, assistentes sociais e pedagogos que atuam em casos de violência de gênero desde os seus primeiros sinais. Essa atuação integrada permite a identificação precoce de situações de risco e a adoção de medidas protetivas, evitando que a violência escale para formas mais graves, como o feminicídio”, diz um trecho da nota.

Na esfera repressiva, um marco importante foi a inauguração, em março de 2023, da Delegacia Especializada no Enfrentamento ao Feminicídio, em Belém. “Essa unidade conta com equipe própria, formada por profissionais capacitados e sensíveis à temática, e estrutura adequada para promover a investigação qualificada e célere de crimes contra a vida de mulheres em contexto de violência de gênero. Conforme cada caso, a unidade pode representar por medidas judiciais cautelares para a apuração da autoria e materialidade do crime”, destaca a Segup.

Nas demais regiões do Estado, as Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAMs) vêm sendo progressivamente fortalecidas para atuarem não apenas na fase protetiva, mas também na elucidação de feminicídios, com protocolos que reconhecem as especificidades desse tipo de crime. “A formação continuada dos servidores, o aprimoramento dos fluxos de atendimento e a integração com a rede de proteção são medidas essenciais nesse processo. Adicionalmente, os dados e indicadores relacionados à violência letal contra mulheres são monitorados visando à formulação de políticas públicas mais eficazes e direcionais, baseadas em evidências estatísticas”, finalizou.

Casos recentes de violência extrema contra mulheres no Brasil

Um dos casos repercutidos nacionalmente foi o do ex-jogador de basquete Igor Eduardo Pereira Cabral, de 29 anos, que foi preso em flagrante em Natal (RN) após espancar a namorada com 61 socos no rosto dentro de um elevador. A agressão foi registrada por câmeras de segurança. A vítima, de 35 anos, saiu ensanguentada e desfigurada. O suspeito foi autuado por tentativa de feminicídio.

Um segundo caso muito semelhante ocorreu no Distrito Federal. Imagens de segurança flagraram um empresário de 55 anos agredindo a companheira com socos e cotoveladas dentro do elevador de um condomínio no bairro Guará II. A violência durou mais de um minuto. A vítima ficou caída no chão e o suspeito acabou preso em flagrante. Também foi encontrada na residência do investigado uma grande quantidade de munições e armas.

No Pará, em Santarém, uma mulher grávida de oito meses foi espancada pelo companheiro na comunidade Tabocal, na região do planalto BR‑163. Levado ao hospital, o bebê não resistiu e foi constatado óbito fetal na tarde de quinta-feira (7). A mãe encontra‑se internada, estável e consciente.

Em Tomé-Açu, no nordeste do Pará, uma adolescente de 15 anos foi esfaqueada e morta pelo ex-companheiro na zona rural do município na terça-feira (6). Ela foi socorrida em estado grave e transferida para um hospital em Ananindeua, mas não resistiu. O suspeito foi preso e deve responder pelo crime.

Além desses episódios de violência extrema, a prefeita de Marituba, Patrícia Alencar, também tornou pública uma agressão sofrida por um ex-marido. O relato foi feito em uma rede social, onde ela desabafou sobre os traumas vividos e incentivou outras mulheres a romperem o ciclo da violência. O caso gerou grande repercussão e foi mais um alerta de que esse tipo de crime afeta mulheres em todas as posições sociais, inclusive aquelas que ocupam cargos públicos.

Especialista reforça a importância de políticas e direitos para as mulheres vítimas

Diante de tantos casos de violência, a advogada criminalista Sarah Catrine de Souza Xavier destaca a importância de reforçar os direitos das mulheres, especialmente quando são vítimas de violência doméstica.

image Sarah Catrine de Souza Xavier, advogada criminalista. (Foto: Divulgação)

“O mês de agosto lilás visa conscientizar as mulheres sobre os seus direitos, principalmente quando são vítimas de qualquer tipo de violência doméstica, seja patrimonial, psicológica ou física, quando já chega ao extremo”, afirmou.

Segundo a especialista, a Lei Maria da Penha, apesar de ser um marco no combate à violência de gênero, ainda enfrenta desafios para se tornar realmente efetiva. Ela defende que é necessário investir em mais policiamento, programas de acolhimento em locais públicos e revisão do rigor da legislação.

“Eu creio que, para ter mais efetividade, deveria ser aplicado mais policiamento, programas em lugares públicos que façam o acolhimento em qualquer situação de vulnerabilidade dessas mulheres, além do rigor da lei que precisa ser revisto”, pontuou.

Sarah Xavier também observa que muitas vítimas desistem de denunciar seus agressores por medo e falta de amparo imediato.

“A lei é aplicada a partir do momento em que chega ao conhecimento do judiciário que está ocorrendo um crime contra a mulher, porém não tão célere quanto deveria ser. O que faz com que a mulher fique com medo de denunciar”, explicou. Ela sugere que mais viaturas específicas para esse tipo de atendimento sejam disponibilizadas, principalmente nos casos em que a vítima já possui medida protetiva.

Para a advogada, o cenário atual evidencia o sofrimento silencioso de muitas brasileiras. “O poder familiar que esse homem exerce contra a mulher faz com que ela se cale”, afirmou. Ela acredita que o fortalecimento de políticas públicas voltadas à educação, assistência psicológica e programas de apoio são fundamentais para reduzir os índices de violência.

“Se essas mulheres ganhassem uma oportunidade, se fosse investido em mais educação, programas com assistências, ajuda psicológica, já iria diminuir bastante os casos de violência, pois essas mulheres iriam ganhar confiança e autonomia para sair de um relacionamento abusivo”, concluiu Sarah Xavier.

Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞
Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Polícia
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

RELACIONADAS EM POLÍCIA

MAIS LIDAS EM POLÍCIA