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'Foi excesso de carga', diz passageira de ferry boat que quase naufragou na Baía do Marajó

O incidente ocorreu nas proximidades da Vila do Conde, em Barcarena, e, segundo relatos de passageiros, o barco transportava carga acima do permitido

O Liberal
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“Foi excesso de carga.” A afirmação é da professora Jaci Garcia, uma das passageiras do ferry boat Marajó Norte, que quase afundou na noite de quinta-feira (16), durante a viagem entre Belém e o município de Curralinho, no arquipélago do Marajó. O incidente ocorreu nas proximidades da Vila do Conde, em Barcarena, e, segundo relatos de passageiros, o barco transportava carga acima do permitido.

Imagens que circulam nas redes sociais mostram o desespero das pessoas que estavam a bordo: homens tentam retirar a água que invadia a embarcação com baldes e recipientes improvisados, enquanto outros gritam pedindo ajuda. “Ainda há pouco eu comentava com a minha mãe que, como a gente vem a trabalho para essas viagens, já vem no automático. A única coisa que eu queria era colocar a minha rede”, contou Jaci.

A professora relata que o Marajó Norte tinha quatro andares e que o primeiro estava completamente tomado por cargas, em uma área originalmente destinada a passageiros. “O primeiro estava cheio até o teto. Fui então para o segundo andar, onde consegui colocar minha rede. Havia ainda o terceiro andar, também com redes, e o quarto, que era a área da lanchonete”, detalhou.

O primeiro sinal de que algo estava errado veio de um idoso, que alertou sobre a entrada de água. “Ele tocou na minha rede e disse: ‘A água está no meio da canela lá embaixo.’ Achei que fosse exagero e fui conferir”, contou Jaci. “De fato, no primeiro vídeo que enviei, estava todo mundo quieto; apenas o idoso estava acordado. Quando levantei e conversei com as pessoas lá embaixo, disseram que era normal e que logo aquilo passaria.”

Com a situação se agravando, Jaci e outra passageira, identificada como Valesca, de Oeiras do Pará, começaram a acordar os demais passageiros e a distribuir coletes. “Desci uma segunda vez e vi que a situação havia piorado. Subi e coloquei um colete. Um senhor tentou acalmar dizendo: ‘Gente, sem pânico, não precisa colocar coletes.’ Respondi: ‘Isso é uma questão de prudência, é o que todos deveriam estar sendo orientados a fazer.’ Começamos a acordar as pessoas, e nós mesmas distribuímos os coletes”, relatou.

Segundo Jaci, a tripulação não prestou nenhuma orientação. “Pela embarcação, não fizeram absolutamente nada. É uma das coisas que eu estou questionando aqui. Não houve qualquer orientação. Para começar, nós nem tínhamos como identificar quem era tripulante e quem era passageiro, porque eles não estavam devidamente uniformizados. Ninguém orientou como deveríamos colocar os coletes. Isso foi algo que nós, passageiros, fizemos entre nós, um ajudando o outro.”

“Não apareceu ninguém que pudesse ser identificado como responsável pela embarcação, alguém que dissesse o que deveríamos fazer. Não houve isso. Eles levaram a situação até o último momento, até a última consequência”, disse.

O desespero aumentou quando os passageiros perceberam que o ferry começava a afundar. “Eu tenho algumas imagens em que eles tentam tirar a água, mas é óbvio que aquilo não resolveu. Os dois rapazes que aparecem nessas imagens correm desesperadamente, sobem quando percebem que a embarcação está realmente afundando e pedem, pelo amor de Deus, para que todos fiquem no fundo da balsa, no canto — que seria no terceiro andar, na parte de cima —, para tentar equilibrar o peso, já que a parte da frente estava afundando”, lembrou.

“Os responsáveis mesmo, os donos, se estavam lá, a gente não viu. Não sabemos quem são. Só vimos alguns tripulantes vestidos como passageiros normais, misturados e tão desesperados quanto a gente”, completou.

Segundo a professora, o socorro veio de outra embarcação. “A empresa Bom Jesus, que já tinha passado pela gente — saiu de Belém provavelmente no mesmo horário ou um pouquinho antes, mas acabou correndo um pouco mais na baía —, voltou para nos socorrer. Eu e outros passageiros começamos a pedir ajuda para familiares e amigos, e eles também foram avisados. As autoridades aqui do município de Curralinho foram informadas e conseguiram entrar em contato com a tripulação da Bom Jesus, que retornou para resgatar os passageiros. Graças a Deus”, contou.

Enquanto os passageiros eram resgatados, a tripulação do Marajó Norte tentou aliviar o peso jogando cargas no rio. “A navegação da embarcação continuou jogando a carga na água na tentativa de diminuir o peso e, em seguida, retornou para Belém. Não posso te garantir se eles receberam outro tipo de auxílio, porque as informações que chegavam até nós eram de que haveria ajuda de duas embarcações. Mas, de fato, apenas uma chegou — a da navegação Bom Jesus —, para onde todos nós, passageiros, fomos resgatados.”

“Enquanto isso, a embarcação que estava naufragando permaneceu no local com os tripulantes jogando sacos de cimento e outras mercadorias na água, na tentativa de estabilizar o barco, antes de também retornar para Belém”, relatou Jaci.

A professora reforça que o incidente foi causado exclusivamente pelo excesso de carga, e não por fatores naturais. “Não foi maresia, nem vento, nem balanço do rio. Foi o excesso de carga”, disse.

O que diz a Marinha do Brasil

A Marinha do Brasil informou que tomou conhecimento, na noite de quinta-feira (16), de uma "avaria em um ferry boat e posterior alagamento nas proximidades de Vila do Conde (PA)”. “Todos os passageiros foram resgatados por outra embarcação que navegava nas imediações, sem registro de feridos, e, segundo a Marinha, ambas seguiram viagem com destino a Curralinho (PA)”, disse, em nota, a instituição.

Ainda segundo a Marinha, uma equipe de inspetores navais da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental (CPAOR), que realizava fiscalização do tráfego aquaviário na região, foi acionada para verificar a situação. “Durante a inspeção, constatou-se que o ferry boat transportava carga acima do permitido e não possuía condutores regularmente habilitados, comprometendo a segurança da navegação e a integridade dos passageiros”, revelou. “O comandante foi conduzido à Autoridade de Polícia Judiciária de Curralinho (PA) para as providências cabíveis e a embarcação foi apreendida, sendo retirada de tráfego”, afirmou a Marinha.

A CPAOR instaurou um Inquérito sobre Acidentes e Fatos da Navegação (IAFN) para apurar causas e responsabilidades. Até o momento, não há indícios de poluição hídrica.

Serviço:

A Marinha disponibiliza os telefones do Disque Emergências Marítimas e Fluviais (185) e da CPAOR: (91) 3218-3950 ou (91) 98134-3000 (mensagens), para denúncias e informações sobre situações que afetem a salvaguarda da vida humana, a segurança da navegação ou representem risco de poluição.

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