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Facções criminosas já atuam em 91 cidades do Pará, aponta levantamento

Além disso, o estado concentra seis das 20 cidades mais violentas da Amazônia Legal

O Liberal

Mais de 60% dos municípios do Pará têm atuação de facções criminosas, aponta levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado nesta quarta-feira (19). Segundo o estudo, 91 cidades paraenses registram hoje a presença de organizações criminosas, o que representa 63,2% do estado. O dado revela que, em praticamente dois terços do território paraense, facções já exercem algum nível de controle ou influência sobre comunidades, rotas de circulação, atividades ilícitas e até dinâmicas econômicas locais. Pela posição estratégica do Pará, com vastas conexões fluviais, rotas internas e importância logística no Norte do país, o estado se tornou um dos pontos de maior pressão do crime organizado na Amazônia. Além disso, o estado concentra seis das 20 cidades mais violentas da Amazônia Legal.

O avanço das facções no Pará acompanha uma tendência regional. Entre 2023 e 2025, o número de municípios da Amazônia Legal com atuação de facções saltou de 178 para 344, quase dobrando em apenas dois anos. O Comando Vermelho (CV) é o principal responsável por essa expansão e já atua em 286 municípios da região, mais que o dobro do registrado em 2023. A facção está presente em todos os estados da Amazônia Legal e domina sozinha 202 cidades. No Pará, o grupo ampliou expressivamente sua presença e avança sobre áreas antes controladas por outras organizações. Já o Primeiro Comando da Capital (PCC), embora ainda relevante, apresentou leve retração, passando de 93 para 90 municípios.

Ao todo, 17 facções permanecem ativas na Amazônia Legal, entre grupos nacionais e estrangeiros, incluindo organizações da Venezuela e da Colômbia. A presença simultânea de mais de uma facção em um mesmo município já ocorre em 86 cidades da região, o que aumenta o risco de confrontos e disputas territoriais. No levantamento por estado, Acre lidera com presença de facções em 100% dos municípios, seguido de Roraima (80%) e Mato Grosso (65,2%). O Pará aparece em seguida, com 63,2%, seguido por Amapá (62,5%), Amazonas (40,2%), Rondônia (40,3%), a parte amazônica do Maranhão (29,3%) e Tocantins (12,2%).

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O crescimento da atuação criminosa na região impõe desafios significativos aos órgãos de segurança e ao poder público. No Pará, a interiorização do crime organizado pressiona especialmente cidades médias e pequenas, dificulta operações policiais e amplia riscos de violência, coerção comunitária, exploração econômica e avanço de atividades ilegais. Em um estado de grande extensão territorial e áreas de difícil fiscalização, a expansão das facções reforça a necessidade de políticas de segurança integradas e estratégias de combate que acompanhem a velocidade da atuação dessas organizações.

Cidades violentas

Das 20 cidades mais violentas da Amazônia Legal, seis são do Pará, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que analisa as taxas de mortes violentas intencionais (MVI) registradas entre 2022 e 2024. O levantamento considera o porte populacional de cada município para identificar padrões de violência na região.

A Amazônia Legal é composta por 772 municípios distribuídos entre nove estados brasileiros. O estudo aponta que, em 2024, mais de oito mil pessoas foram vítimas de MVI. O que representa uma taxa de 27,3 assassinatos por 100 mil habitantes.

Para comparar cidades com realidades distintas, o estudo classifica os municípios em quatro categorias de porte populacional: Pequeno I: até 20 mil habitantes; Pequeno II: entre 20 e 50 mil habitantes; Médio: entre 50 e 100 mil habitantes; Grande: acima de 100 mil habitantes.

Levantamento

A partir dos grupos analisados, o levantamento elencou as 20 cidades mais violentas da Amazônia Legal, considerando as taxas trienais de mortes violentas intencionais (MVI) para evitar distorções provocadas por eventos isolados. Entre elas, seis são paraenses. Os municípios do Pará estão distribuídos em todos os portes populacionais analisados. São eles:

Altamira - Porte Grande (acima de 100 mil habitantes)

Entre os municípios grandes, Altamira aparece entre os cinco mais violentos da Amazônia. A cidade enfrenta a sobreposição de grilagem, desmatamento ilegal, conflitos envolvendo terra e água e a disputa entre facções como o CCA (Comando Classe A), aliado ao PCC, e o Comando Vermelho. A atuação de grupos criminosos e a expansão de ilícitos ambientais tornam o município uma área de alta instabilidade.

Itaituba - Porte Grande (acima de 100 mil habitantes)

Itaituba também figura entre as grandes cidades mais violentas da região. Conhecida como a “capital da lavagem do ouro”, a cidade vive a intensificação de atividades ilegais de mineração, que atraem facções e alimentam economias criminosas. O Comando Vermelho exerce forte influência, enquanto o CCA utiliza garimpos como estratégia para lavagem de dinheiro e tráfico de drogas.

São Félix do Xingu - Porte Médio (50 a 100 mil habitantes)

São Félix do Xingu ocupa o 1º lugar entre os municípios médios mais violentos de toda a Amazônia Legal. O município é historicamente marcado por disputas por terra, impulsionadas pela pecuária extensiva, pelo desmatamento ilegal e pela pressão sobre territórios indígenas. A expansão de atividades criminosas ligadas ao garimpo também é citada como fator agravante.

Mocajuba - Porte Pequeno II (20 a 50 mil habitantes)

Também no grupo Pequeno II, Mocajuba aparece na lista devido à presença de facções criminosas, como o Comando Vermelho e o Bonde 777, além da elevada letalidade policial. Segundo o estudo, metade das mortes violentas registradas em 2024 no município foi resultado de intervenções das forças de segurança.

Novo Progresso - Porte Pequeno II (20 a 50 mil habitantes)

Novo Progresso está entre os cinco municípios mais violentos do grupo Pequeno II. Cortado pela BR-163, o município enfrenta conflitos pelo uso da terra, avanço do desmatamento, presença de garimpo ilegal e invasões de áreas indígenas, elementos que compõem o cenário de violência apontado pelo estudo.

Cumaru do Norte - Porte Pequeno I (até 20 mil habitantes)

Cumaru do Norte aparece entre os cinco municípios mais violentos da Amazônia no grupo Pequeno I. O relatório aponta que a violência está associada a conflitos fundiários envolvendo agropecuaristas e populações tradicionais. O município também abriga parte da Terra Indígena Kayapó, marcada por desmatamento e garimpo ilegal.

Violência

O estudo destaca que 344 municípios da Amazônia Legal apresentam algum tipo de evidência da presença de facções criminosas. No Pará, essa presença se concentra justamente nos municípios listados entre os mais violentos, contribuindo para disputas territoriais, homicídios, retaliações internas e pressões sobre áreas indígenas e ambientais.

A Redação Integrada de O Liberal solicitou um posicionamento da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) sobre o levantamento e aguarda o retorno.

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