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Em condições precárias, catadores continuam retirando sustento do lixão do Aurá

Sesan informa que lançou edital para recuperar dessa área, que está degradada e segue em funcionamento

O Liberal
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Um mês após a primeira visita da Redação Integrada de O Liberal, o lixão do Aurá, em Ananindeua, continua em funcionamento. O espaço, que por muito tempo foi o principal local a receber os resíduos sólidos de toda região metropolitana de Belém, segue com a rotina como um ponto de geração de renda para muitas pessoas que moram em comunidades em seu entorno.

Todos os dias, centenas de catadores vasculham as pilhas de entulho que chegam nos caminhões, em busca de algo que possa ser convertido em dinheiro. Os caminhões chegam aos montes e são cercados pelos trabalhadores, antes mesmo de descarregarem os materiais. Quem está todos os dias ali, fala que o local ainda recebe sucata e entulho produzido na Grande Belém.

Quase ninguém que está ali no sob o sol gosta de se expor. Muitos se afastam quando veem a aproximação da imprensa para retratar o cotidiano. Os poucos que aceitam ceder entrevista, escondem o rosto e não revelam os nomes, com medo de represálias ou, talvez, perder sua fonte de renda. Talvez até a vida, pela ira de outras pessoas que não querem que aquela rotina e renda sejam ameaçadas.

"Trabalho aqui desde quando eu era moleque, há quase 20 anos", diz um desses trabalhadores, que pediu para ser identificado apenas como "anônimo", morador da comunidade de Santana do Aurá. "Não dá para tirar uma grana, mas dá para sobreviver. Cato tudo que for reciclável: metal, lata, alumínio, ferro. Venho todos os dias, quando tenho disposição e saúde. Trabalhar no lixo ninguém gosta, não, mas vem porque é obrigado", conta o rapaz.

Andando pelas ruas de Ananindeua e Belém, também ainda é possível encontrar pontos de descarte irregular de lixo em vias públicas. Muitos desses locais passaram por limpeza recentemente, mas a falta de fiscalização e a falta de educação ambiental faz o lixo voltar muito rapidamente. No bairro da Sacramenta, às margens do canal São Joaquim, a pilha de lixo na esquina da rua Américo Ferreira foi retirada, mas dejetos já começam a se acumular novamente, trazendo mais ratos e urubus. "Aqui é sempre assim, mesmo. Tiram o lixo, passa um tempinho, e volta de novo", comenta Alceu Menezes, que passava de carro pela rua.

Lixão ainda existe por falta de solução de longo prazo

Sócio-fundador do Instituto Alachaster, Ted Vale disse que, há décadas, toneladas e toneladas de lixo foram depositadas no "lixão do Aurá". Nunca houve uma solução de longo prazo que pudesse tanto resolver a questão do lixão, quanto da situação de vulnerabilidade socioeconômica das famílias que ali habitavam e habitam e que, mesmo em uma situação desumana, conseguem tirar o sustento familiar. “Apenas transferir a destinação desse resíduo para o aterro em Marituba, sem um programa que de fato auxilie essas famílias e impeça que o lixo continue sendo depositado lá, nada vai mudar”, afirmou.

Ainda segundo Ted, o problema da região metropolitana de Belém é organizar o ecossistema empreendedor, social e ambiental, para não só resolver o problema da destinação desses resíduos, mas também gerar emprego e rendas dignos para essas pessoas que, sem opção, voltam a catar o material para sobreviver, haja vista que existe um comércio forte desse material em nossa capital.

Ted Vale afirmou que são falhas estruturais. E que somente com um pacto global entre as empresas, associações, ongs, cooperativas, sociedade civil e grandes geradores que será diminuída essa problemática. “Mas já estamos em 2021, é necessário e urgente que a questão tanto da coleta seletiva quanto da manutenção do aterro sejam pauta prioritária nas instituições públicas e privadas; estabelecer ações concretas de educação ambiental para que as soluções venham a partir da prevenção, e não mais da correção. ou seja, precisamos pensar em como evitar que resíduos sejam destinados ao aterro”, afirmou. Sediado em Belém, o Instituto Alachaster é formado por empreendedores sociais. Uma equipe multidisciplinar unida pela vontade de construir uma sociedade mais sustentável e mais justa.

Prefeitura de Belém reconhece uso do lixão e prepara edital para recuperação da área

A Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) informou que utiliza a área do Aurá para descarte de todo resíduo não domiciliar, como entulhos, e resíduos da limpeza urbana. A quantidade é sazonal, pois depende dos serviços realizados na cidade e fica em torno de mil toneladas por mês. A Secretaria informa também que lançou um edital para que sejam realizados estudos do projeto de um novo Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos e a recuperação da área degradada do Aurá, através de uma PPP (Parceria-Púbico-Pública).

Na manhã de sexta-feira (22), uma equipe do jornal O Liberal foi expulsa do lixão do Aurá quando fazia cobertura jornalística no local. Um grupo correu atrás do repórter e do repórter fotográfico, que, às pressas e temendo por sua integridade física, deixaram o lixão. A equipe acessou o local por trás e seguiu uma trilha com muita lama. E, na hora em que a equipe falava com um catador, houve o problema. Alguns começaram a gritar para que a equipe, querendo que os jornalistas fossem até essas pessoas. E, em certo momento, começaram a correr na direção doa equipe.

No meio do grupo, havia três homens com o uniforme de uma empresa, mas não foi possível saber qual o nome. Sobre o ocorrido com a equipe de O Liberal, a Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) informou que está apurando as circunstâncias do incidente no aterro do Aurá. “A Sesan lamenta o ocorrido e informa que em relação à segurança fora da área administrativa, a responsabilidade é dos órgãos de segurança pública do estado”, diz o texto.

Também questionada, a Polícia Militar informou que equipes do 30° Batalhão (30° BPM) realizam ações de radiopatrulhamento em carros e motos, diuturnamente, no bairro Santana do Aurá. “A PM informa, ainda, que qualquer informação ou denúncia pode ser realizada por meio dos números 190 (Ciop) ou 181 (Disque-denúncia). Todas as ocorrências são devidamente verificadas”, diz a nota.

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Belém
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