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Saiba como funciona a atuação dos 'cães policiais' no Pará

Os animais do Batalhão de Ações com Cães (BAC) também farejam explosivos e buscam e capturam suspeitos de crimes

Dilson Pimentel

Em 2023, os cães policiais do Batalhão de Ações com Cães (BAC), da Polícia Militar do Pará, participaram de missões que resultaram na apreensão de 130 quilos de entorpecentes, na capital e no interior do Estado. Neste ano, e até agora, já foram 30 quilos de droga.

Os 28 cães do BAC são empregados para detectar narcóticos e explosivos e em ações de busca e salvamento e busca e captura. O momento em que o cão policial será utilizado é definido na hora da ocorrência, explicou o comandante do BAC, tenente-coronel Allan Sullivan. E também será definido qual animal será empregado naquela missão, de acordo com o tipo de ocorrência - suspeita da existência de narcótico ou para detectar explosivos, por exemplo.

image Batalhão de Ações com Cães tem um efetivo policial de 70 militares e conta com 28 cães (Igor Mota/O Liberal)

Cada cão, portanto, tem sua especialidade. “No caso do que é treinado para detecção de explosivo, o operador do animal não pode ter dúvida de que ele indicou, na varredura feita no local, se é explosivo ou não, por causa da periculosidade em se manusear esse tipo de material. Por isso ele é treinado somente para explosivos”, explicou o comandante.

Já o cão que fareja narcóticos também pode ser empregado para detectar uma arma de fogo, uma vez que são duas situações ilícitas. Em uma varredura (busca) em um veículo, o cão pode indicar algo ilícito naquele automóvel - e o operador tem que saber que pode ser entorpecente ou armamento.

Os cães policiais também são usados em missões de busca de salvamento, quando há pessoas desaparecidas, ou na busca e captura, no caso de um suspeito de um determinado crime. Desde o ano passado, o BAC trabalha com cão para detecção de odor específico de um suspeito.

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Um exemplo: após o cometimento de um crime, o suspeito se escondeu na mata. E deixou cair um objeto pessoal dele. Esse objeto é manuseado de forma correta, com o uso de luva, por exemplo, e o odor é apresentado ao animal. A partir daí, o cão faz o rastreamento para encontrar o suspeito, que é imobilizado pelos policiais militares.

E, quando o animal encontra o que está procurando, ele geralmente senta. E, quando o animal senta, é o momento dele receber a recompensa. “Não tem como mentir para o cão”, disse o coronel Sullivan, referindo-se ao momento em que o animal detecta o narcótico ou o explosivo.

Missão, para o cão policial, é uma brincadeira, diz tenente-coronel

Os cães também podem ser empregados na busca e salvamento. Nesse caso, esse trabalho é feito pelo Corpo de Bombeiros, mas com o auxílio dos cães do BAC. O animal faz a indicação de onde pode estar a pessoa perdida. Esse trabalho também é importante para que seja descartada uma determinada área de buscas - ou seja, a pessoa que desapareceu não está naquela região. Em sendo assim, as buscas são direcionadas para outros locais.

O treinamento de um cão policial dura, em média, de 1, 5 a dois anos. O "manejo" do animal começa quando ele ainda é filhote. O tenente-coronel Sullivan explicou que o trabalho do cão não é forçado. “Esse trabalho avançou muito. Trabalhamos com o cão hoje em dia principalmente estimulando ele com brincadeiras”, disse.

Com essas brincadeiras, detecta-se, por exemplo, quais são os cães que apresentam mais possessividade com brinquedos ou com alimentos. “Um cão que tem muita posse com brinquedo é um cão ideal para você trabalhar o faro dele para narcóticos, explosivos ou armas de fogo. Nesse caso, a recompensa dele, quando encontra esse tipo de material, será o brinquedo”, explicou.

A “punição” é não ganhar o brinquedo. Ele não sofre castigo. “Quando ele vai para uma missão não é um trabalho, é uma brincadeira. E o nível de estresse dele diminui muito, porque, para ele, é uma atividade, uma brincadeira”, contou.

Quando o cão é embarcado na viatura, vai na missão e não encontra o entorpecente ou o explosivo, por exemplo, o operador do animal (o policial que fica com o cão), coloca o narcótico em um determinado ponto. “A gente trabalha com odor sintético e não com a droga propriamente, para que ele possa detectar e ganhar o prêmio dele”, disse.

Isso é para que o animal entenda que, toda vez que ele entrar em uma viatura, ele vai ganhar uma recompensa. “É para condicionar o cão. Se não ganhar nada, ele ficará desestimulado e frustrado. A gente pode até perder o cão, ele deixar de trabalhar, porque não foi feito o manejo dele correto”, afirmou.

"Por isso é importante que o operador (policial) ter a vivência com o cão. Se não souber fazer a leitura correto do cão, pode perde-lo para a missão. Esse é um trabalho sensível e complexo. E, também, científico”, afirmou.

Os policiais que trabalham com esses cães precisam entender de tiro e abordagem, mas também de química, física, clima e aspectos comportamentais. É que aspectos climáticos podem incluenciar no trabalho do cão, dependendo da área onde está sendo feita a varredura (busca). “É preciso verificar a direção do vento. Isso é eficaz e determinante no trabalho de busca de pessoas desaparecidas”, contou o tenente-coronel. O policial também ter noção de primeiros socorros.

image Treinamento para o cão detectar narcótico (Igor Mota/O Liberal)

Cão agressivo não é ideal para participar de ações policiais

No saber popular, cão agressivo é ideal para a atividade policial. Mas é o contrário. “Eu preciso de um cão equilibrado, para que eu possa controlar a agressividade dele”, explicou. Os policiais do BAC fazem curso de Cinotecnia, que dura 45 dias. É um dos cursos entre várias especializações na área de faro.

Cinotecnia é o conjunto de conhecimentos e técnicas relacionados à criação selecionada, manejo e treinamento de cães para tarefas específicas como por exemplo cão policial e militar em áreas como detecção de narcóticos e explosivos, rastreamento de pessoas, captura e imobilização de suspeitos.

“Para cada missão dessas é um curso específico”, disse. “A gente proporciona bem-estar para o cão, que conta com uma equipe 24 horas (à disposição dele). Todo o batalhão gira em torno do cão. Se eu tirar o cão da unidade, acabou o batalhão. Primeiro mandamento do policial que serve aqui é amar os cães”, afirmou o tenente-coronel Sullivan.

O emprego de cães na atividade policial, no Brasil, remonta aos anos 50. No Pará, começou em 1974. A unidade de cães era uma companhia. Em 2021, virou Batalhão. E, com a transformação em Batalhão, houve a inauguração, em 2022, da maternidade canina do BAC, uma das poucas polícias militares no Brasil.

“Do ponto de vista de logística, de gasto público, o uso da maternidade, a implementação da maternidade, ela traz a diminuição de despesa, porque na reprodução dos cães dentro de uma linhagem de pais com linhagem policial, de atividade policial, eu consigo ter um aproveitamento melhor desses cães do que fazer compras individuais de cada cão”, explicou o comandante.

image Comandante do BAC, tenente-coronel Allan Sullivan (Igor Mota/O Liberal)

Comprar um cão pronto para a atividade policial gira em torno de R$ 30 mil

Um cão pronto para a atividade policial, se for comprar no mercado, gira em torno de R$ 20 mil a R$ 30 mil. “E se nós fizermos e já iniciamos esse trabalho de procriação e de reprodução aqui, numa linhada eu consigo obter de entre 7 a 10 cães em uma única linhada. Em fazendo o trabalho correto de manejo, que são as fases iniciais do treinamento, eu consigo ter um aproveitamento melhor - ou seja, ao invés de eu comprar 30 cães, eu compro apenas um casal de cães, dependendo da raça, e a partir daí eu faço o trabalho de linhagem com a reprodução das raças que são adequadas para a nossa atividade”, disse.

Entre as principais raças de animais do BAC está pastor-belga-malinois. “Ele ganhou muita notoriedade, principalmente pelo trabalho dele desenvolvido Europa e Estados Unidos. Então, em meados de 2012 e 2013, nós introduzimos o pastor-belga-malinois na Polícia do Pará e ele tem muitas vantagens em relação a outras raças. Desde a capacidade física dele, que se destaca, ele tem menos propensão a alguns tipos de doença que o pastor alemão desenvolvia de forma genética. Com isso, a gente conseguiu também uma capacidade de diversificar melhor o nosso leque de atuação com essa raça”, contou.

Outra raça é o labrador, principalmente na busca de narcótico, detecção de narcótico e detecção de explosivo. “É considerada uma raça que é o ícone dos cães farejadores, mas o pastor belga também já se aproxima dessa capacidade”, disse. Outra raça é o Rottweiler também, que é uma raça que mais, principalmente na guarda e proteção.

A 1º tenente Marina Coutinho, veterinária e trabalha no BAC, disse que todos os animais passam por inspeção diária. É feita uma pesagem mensal, com base na qual estabelece a quantidade de alimentação que vão comer. "Tem medicamentos. E, baseado na inspeção, no estado de saúde, a gente libera ou não o animal, tanto para o treinamento quanto para o policiamento", disse.

Os cuidados são redobrados para que, quando estiverem uma missão, estejam 100%. "Os cães precisam estar sempre bem tratados e medicados. Têm uma escala semanal de banho e de treinamento, de trabalho, para que não sejam sobrecarregados e a gente respeite o limite de cada animal daqui", afirmou a tenente.

 

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