Tacacazeiras têm ofício reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Iphan
Decisão destaca protagonismo de mulheres na preservação de saberes tradicionais ligados à culinária regional
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu, nesta terça-feira (25/11), o Ofício das Tacacazeiras da Região Norte como Patrimônio Cultural do Brasil. O registro foi inscrito no Livro dos Saberes, categoria destinada a práticas e conhecimentos tradicionais que estruturam a identidade cultural do país.
Segundo o Iphan, o reconhecimento valoriza o papel das mulheres amazônicas na transmissão de saberes ancestrais vinculados à preparação e à comercialização do tacacá, uma das comidas mais emblemáticas da região Norte. A decisão ocorreu durante a 111ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que contou com a presença de tacacazeiras de diversos estados da Amazônia.
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Em nota, o Instituto destacou que o ofício vai muito além do preparo do prato. "O ofício de tacacazeira não se restringe a uma receita, mas compreende um conjunto integrado de práticas agrícolas, saberes tradicionais, técnicas culinárias, modos de comercialização, formas de sociabilidade e sentidos simbólicos", afirmou o Iphan.
O processo de reconhecimento foi precedido por uma consulta pública aberta em outubro, para que cidadãos e entidades pudessem enviar opiniões, informações e sugestões sobre o registro. O prazo encerrou em 19 de novembro de 2025.
O tacacá é um prato típico do Pará e da região amazônica, feito com tucupi (caldo de mandioca), goma de tapioca, camarão seco e jambu, erva que provoca uma leve sensação de formigamento na boca. Em 2025, ele entrou para o top 10 dos melhores pratos do Brasil, segundo o site Taste Atlas.
A história do Ofício de Tacacazeiras
O processo de reconhecimento do Ofício de Tacacazeira começou em 2010, com solicitação do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) para inclusão no Livro dos Saberes. Em 2024, o projeto ganhou novo impulso com pesquisa realizada em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), aproximando o ofício do registro como Patrimônio Cultural do Brasil.
O ofício representa a profissionalização da prática do preparo e venda do tacacá, ocupação tradicionalmente exercida por mulheres, conhecidas como tacacazeiras. Ao contrário da culinária doméstica, o trabalho das tacacazeiras envolve relações sociais, comerciais e culturais, sendo parte integrante da vida urbana amazônica.
Confira o Parecer Técnico do Iphan sobre o registro do Ofício de Tacacazeira
O tacacá e a cultura amazônica
Pesquisas históricas indicam que o consumo do tacacá por povos indígenas da Amazônia remonta ao século XVIII. A comercialização sistemática, que caracteriza o ofício das tacacazeiras, se consolidou entre o final do século XIX e início do século XX, acompanhando o crescimento urbano e a necessidade de trabalho formal limitado para mulheres.
Nesse contexto, o comércio de alimentos de rua tornou-se uma estratégia de sobrevivência e sustento familiar, permitindo conciliar atividades domésticas e renda.
Em Belém, o ofício está consolidado em toda a cidade, migrando da periferia para o centro e marcando presença em praças, feiras, festas juninas, restaurantes renomados e grandes eventos, como o Festival das Tacacazeiras e o Círio de Nazaré.
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