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Sem vínculos sanguíneo ou adotivo, apadrinhamento afetivo promove direitos a jovens no Pará

Experiências do Pará Solidário e do programa Conta Comigo, do TJPA, contribuem ao desenvolvimento e à autonomia de crianças e adolescentes

Fabyo Cruz

O apadrinhamento afetivo é uma forma de promover acesso a direitos para crianças e adolescentes em situação de acolhimento por instituições públicas, associações sem fins lucrativos e programas sociais, a partir do compromisso assumido pelos chamados madrinhas e padrinhos afetivos, que são pessoas adultas, sem vínculos sanguíneo ou adotivo com os acolhidos. Em Belém, algumas das entidades que proporcionam essa relação são: o Pará Solidário, com mais de 300 padrinhos e madrinhas; e o programa Conta Comigo, do Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA), que possui cinco.

image A madrinha afetiva Ana Paula Vilhena conheceu pela primeira vez, pessoalmente, a menina Carla Silva, 11 anos, e sua família, durante a reportagem (Cristino Martins/O Liberal)

A publicitária e professora Ana Paula Vilhena é madrinha de Carla Silva, 11 anos, desde a época da pandemia de covid-19. Ambas nunca haviam se encontrado pessoalmente até a realização desta reportagem. “Eu estava esperando muito por esse momento, comecei a ser madrinha da Carla na pandemia, então nem tínhamos a chance de se ver, já que ninguém saia de casa. O tempo passava, eu continuava com vontade de conhecê-la, principalmente no Natal e na entrega do material escolar dela, mas a Carla mora na Alça Viária, isso dificultava ainda mais”, disse a madrinha.

Quem fazia o intermédio para Ana pudesse ver Carla, apenas por fotos, era a agricultora Alessandra Lima, 29 anos, mãe da menina e do menino Yarlisson Lima, 2 anos. “Nós conversamos às vezes por telefone, recebo fotos que a mãe envia, então eu estava muito ansiosa para conhecê-la. A Carla é muito quietinha, mas ela é muito amiga da mãe dela, que a teve com 18 anos de idade. É uma criança muito estudiosa, a Alessandra sempre me conta como a filha vai na escola”, comentou Ana Paula Vilhena, que se tornou madrinha afetiva por meio do Pará Solidário. 

image A agricultora Alessandra Lima, 29 anos, mãe da menina Carla Silva, 11 anos, e do menino Yarlisson Lima, 2 anos, no município de Bujaru, e recebem assistências das madrinhas do Pará Solidário (Cristino Martins/O Liberal)

Alessandra mora com os filhos e com o companheiro no município de Bujaru, no nordeste do Pará. O pai de Carla faleceu quando a filha ainda tinha 5 anos de idade. Ela conheceu o Pará Solidário por meio de uma ação da associação sem fins lucrativos na localidade. A menina Carla foi cadastrada e ficou em uma lista de espera até ser acolhida por Ana Vilhena, depois disso, a família da criança passou a receber cestas básicas, uma vez por mês, contendo arroz, feijão, café, açúcar, óleo, frango e outros itens essenciais à alimentação. Além disso, a família também recebe consultas médicas, como odontológica, e a mãe pôde participar de cursos profissionalizantes. 

Enquanto conversava com a reportagem, Alessandra não conseguia conter as lágrimas, e ficou em silêncio por alguns segundos por conta da emoção. “O Pará Solidário foi uma coisa maravilhosa que aconteceu na nossa vida, a gente agradece muito a tudo que eles fazem pelos meus filhos, ajudam bastante na alimentação que eles doam. Às vezes a gente não tinha o alimento… Eu criei a minha filha trabalhando no lixo e, agora, graças a Deus, vivemos uma vida bem melhor do que  antes, quando a gente comia comida lá do lixo. É a primeira vez que eu conheço essa madrinha, nunca tinha visto, e sou grata porque a minha filha foi apadrinhada por uma pessoa que nem sabia que a gente existia, e nem nos conheciam”, desabafou.

image A publicitária e professora Ana Paula Vilhena e a engenheira ambiental e sanitarista Milian Martins se tornaram madrinhas afetivas por meio do Pará Solidário (Cristino Martins/O Liberal)

Aline Martyres, vice-presidente do Pará Solidário, explica que o projeto de apadrinhamento surgiu durante a distribuição de sopa para uma comunidade no bairro do Aurá, em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém (RMB). “A gente sabia que aquela sopa era a refeição que eles iriam guardar para a semana toda. Tanto que eles foram pessoas com balde, saco e lata para levar aquela sopa. Certa vez, uma criança desmaiou de fome enquanto aguardava na fila. Como as madrinhas disseram, era um mundo paralelo, eram crianças que tinham trauma de pipoca porque a mãe achou o milho no lixão e fez pipoca uma semana inteira para eles se alimentarem. A engenheira ambiental e sanitarista Milian Martins, que também é madrinha, comentou com a reportagem que a maioria das famílias assistidas vivem em situação de miserabilidade, que está abaixo da pobreza, quando seres humanos não  têm acesso aos seus direitos básicos, garantidos pela Constituição.    

Conta Comigo

A iniciativa, da Coordenadoria da Infância e da Juventude (Ceij) do TJPA, existe desde 2014, e tem a função de articular e apoiar as ações do programa. Contudo, ele é executado pelas varas da infância e da juventude de Belém e Ananindeua e pelos serviços de acolhimento devidamente conveniados. “O programa tem por finalidade proporcionar o direito à convivência familiar e comunitária a adolescentes e crianças em situação de acolhimento institucional cujas chances de retorno para as famílias de origem, assim como a colocação numa família substituta ou adotiva, geralmente, são menores”, explicou a servidora Angélica Freire, pedagoga da Coordenadoria Estadual de Infância e Juventude do Judiciário paraense.

Há dois meses em convivência afetiva, Adriana Miranda conta que sempre teve vontade de colaborar como voluntária do Conta Comigo, porém não financeiramente, como já faz com outras instituições. Ela diz que o programa proporciona um exercício de cidadania. “Meu afilhado é um menino de 12 anos, que mora em um espaço de acolhimento, no Umarizal. Atualmente, eu já posso sair com ele para ir a lugares próximos, previamente programados. Isso ajuda na aprovação e no estabelecimento do vínculo afetivo. Meu afilhado é meigo, inteligente, costumo dizer que ele é um fofo. Fiquei muito feliz quando ele me chamou de madrinha. Significou muito para mim, pois vejo que nosso vínculo está caminhando para para uma consolidação”, afirmou.

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