Romeiros do Círio: histórias de fé e tradição de Castanhal até Belém

A caminhada já se tornou tradição e não se sabe ao certo quem foi a primeira pessoa que decidiu fazer esse percurso de fé

Patrícia Baía

Em menos de uma semana o cenário na BR -316, principalmente no trecho que liga os municípios da região nordeste do estado a capital Belém, ficará diferente. O movimento não será apenas de carros e caminhões, os veículos dividirão o espaço com centenas de romeiros que caminham em direção ao Santuário Basílica Nossa Senhora de Nazaré, nos dias que antecedem ao Círio de Nazaré.

image Nazareno Abraçado e sua história na caminhada desde 1990 (Patrícia Baía/ O Liberal)

Eles são devotos da mãe de Jesus e fazem esse sacrifício por amor, por busca, por promessa ou simplesmente por fé. E fé é muito difícil de explicar por se tratar de um sentimento por algo que não se vê, mas acredita-se que existe. E cada uma das pessoas que decide fazer esse percurso tem seus motivos e a sua fé.

A caminhada já se tornou tradição e não se sabe ao certo quem foi a primeira pessoa que decidiu fazer esse percurso de fé em Nossa Senhora de Nazaré. A dona Conceição Tabosa, de 68 anos, moradora do município de Santa Maria do Pará, lembra que seus avós já comentavam sobre pessoas que iam até Belém pagar uma promessa por algo que recebeu de Nossa Senhora. “Eu nunca tive a coragem de pagar uma promessa lá na Basílica, mas quando criança já escutava que pessoas saiam daqui de Santa Maria para ir pra Belém”, disse.

Um dos principais pontos de parada, antes de seguir a Belém é em Castanhal. São cerca de 20 mil pessoas que passam a pé pelo município, de acordo com o coordenador da Defesa Civil de Castanhal, Major Edson Marques. “Em Castanhal, por ser o polo da região nordeste, os peregrinos sempre fazem paradas estratégicas para o descanso e alimentação. E nesse momento fazemos a acolhida dessas pessoas nos postos que são montados todos os anos na praça da Matriz, na orla do rio Apeú e no posto Pombal que fica na saída da vila do Apeú”, explicou.

E é de Castanhal que sai o maior número de promesseiros e de grupos organizados. O professor Nazareno Abraçado é coordenador de um desses grupos há cerca de 34 anos.

É a Associação de Devotos e Romeiros de Nossa Senhora de Nazaré – ADERCA que reúne mais de mil pessoas. “A minha história na caminhada começou no ano de 1990 quando eu fui diretor da Escola Agrotécnica de Castanhal. Eu fiz uma promessa a Nossa Senhora para que ela me acompanhasse durante os 4 anos que eu iria caminhar com os alunos até Belém. Não consegui chegar nem na primeira e nem na segunda. Na terceira vez eu conheci o “Zé Bode”, um senhor que já era romeiro e daí em diante começamos a organizar com camisas e colocar o nome de romaria. Eras 5 pessoas e hoje são mais de mil caminhando neste grupo. E nós acolhemos várias pessoas de outros municípios”, contou.

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A Amélia Renata Santos, de 40 anos, começou a treinar Cross Fit, no começo do ano, para poder cumprir a promessa que fez a Nossa Senhora de Nazaré. Amélia Renata pediu a cura do câncer de sua filha. Rúbia Gabriela Santos, de 20 anos, foi diagnosticada com Linfoma de Hodgkin, no começo deste ano. “Quando a gente descobriu que ela estava doente, ficamos sem chão e estava muito difícil para ela conseguir começar o tratamento no hospital Ophir Loyola e bateu o desespero. Ela estava começando a ficar muito inchada e precisava com urgência começar o tratamento. E foi numa madrugada que eu orei e pedi a Nossa Senhora e a Deus que me desse de presente de aniversário o tratamento dela. Foi então que três dias depois e pertinho do meu aniversário veio a notícia de que ela já iria começar a quimioterapia. Eu prometi que irei na caminhada todos os anos até quando eu não conseguir ir mais. Em breve ela também vai voltar a caminhar”, contou.

image Promessas em nome da fé e do amor (Patrícia Baía/ O Liberal)

Rubia Gabriela foi a primeira vez na caminhada no ano passado, mas não conseguiu ir até o final e parou em Benevides e fez o restante do percurso no carro de apoio. “Eu tentei até o não aguentar mais. Chegou em Benevides e eu não tinha mais condições, mas fui até a Basílica no carro de apoio ajudando e distribuindo agua e lanche a quem estava caminhando”, contou.

Neste ano a jovem vai fazer o percurso ao lado da mãe, mas no carro de apoio. Mãe e filha juntas num só propósito. “Quando eu fiz a minha primeira quimioterapia, fui na Basílica e agradeci a Nossa Senhora e disse a ela que se eu não conseguisse fazer a caminhada andando eu iria fazer de outra forma. E assim a gente vai juntas e eu estou fazendo a minha doação também ao lado da minha mãe e por nossa mãe “, contou Rúbia Gabriele.

A história da Gláucia de Souza, de 47 anos, mãe da nutricionista e digital influencer, Bárbara Madeira, de 22 anos, também passa pela dor de ver sua filha ainda bebê sendo diagnosticada com uma doença, porém a fé em Nossa Senhora sempre foi a força de mãe e filha. “Eu fui consagrada a Nossa Senhora por minha mãe que sempre teve muita devoção, mas eu só fui entender quando eu me tornei mãe”, disse.

image Nossa Senhora sempre foi a nossa força e amparo (Patrícia Baía/ O Liberal)

Glaucia e o esposo lutaram com um possível diagnóstico de câncer. Foram oito meses de muitos exames e médicos em Belém. “Mesmo sendo difícil a gente sempre se manteve em paz e não deve desespero. Era Deus trabalhando na situação e Nossa Senhora intercedendo. Um dia minha mãe me disse que tinha feito uma promessa e consagrado a Bárbara a Nossa Senhora e quando o médico olhou os novos exames os leucócitos estavam normais”, relembrou.

Foi assim que se tornou forte a devoção de três gerações de mulheres a Maria, a mãe de Jesus.

Em 2018 foi a primeira vez que Bárbara fez a caminhada até Belém. “Eu sempre soube que chegaria o momento de agradecer por tudo. Meu pai já fazia essa peregrinação e fez no dia que eu nasci e um dia meu irmão me convidou e eu aceitei. Fomos com o grupo Peregrinos de Maria. Fui na fé e foi muito difícil, mas foi indescritível”, contou.

image Bárbara foi consagrada à Nossa Senhora de Nazaré (Divulgação/ Arquivo Pessoal)

Desde então a caminhada por Nossa Senhora é feita por Barbara e seu irmão. Ela até convidou e ajudou a organizar um grupo de amigos da academia que agora fazem parte do mesmo propósito.

Gláucia não caminha, mas está sempre por perto no carro da família dando o apoio aos filhos. “Eu me emociono de ver a fé deles. Um dando apoio ao outro. Teve um ano que quando eles estavam perto do colégio Gentil, tentei abraçar e ajudar ainda mais, mas eles não permitiram. Tudo que a gente vive nestes momentos é indescritível. Só indo para entender”, falou a mãe.

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