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Rio Tucunduba transporta 6 toneladas de lixo plástico por ano, aponta pesquisa da UFPA

A pesquisa da Universidade Federal do Pará visa mostrar os impactos negativos ao meio ambiente, provocados pelo descarte irregular de resíduos, e o positivo - econômico -, dos profissionais da coleta de materiais recicláveis

Fabyo Cruz

O rio Tucunduba, que percorre cinco bairros de Belém, transborda seis toneladas de resíduos plásticos por ano, apontou um estudo preliminar do Laboratório de Pesquisa em Monitoramento Ambiental Marinho (Lapmar) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Pesquisadores constataram a existência de dois pontos de acumulação de lixo: um na foz do Tucunduba e outro no rio Guamá, próximo ao restaurante universitário da instituição. A pesquisa visa mostrar os impactos negativos ao meio ambiente, provocados pelo descarte irregular, e positivo - econômico, dos profissionais da coleta de materiais recicláveis. 

“Fizemos esse mapeamento ao longo de um ano, em 2021, por meio de uma grande limpeza de rio, coletas mensais para saber o quanto de lixo ficava acumulado nessas margens. No último dia 17 deste mês, data alusiva ao Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias, realizamos a décima segunda coleta para saber o quanto de lixo tinha sido acumulado. A nossa ação foi de limpeza de rios e sensibilizações, envolvendo estudantes do ensino médio, universitários e sociedade de um modo geral”, disse a diretora do curso de oceanografia Sury Monteiro. 

A ação contou com mais de 100 participantes, resultando na retirada de mais de 800 quilos de lixo de um trecho do rio Tucunduba. Os resíduos mais encontrados foram o plástico - como garrafas, potes e fragmentos-, seguido do isopor. “Começamos a perceber que depois da pandemia, a quantidade de isopor aumentou principalmente por conta do delivery, por causa das vasilhas de armazenamento de refeição. A gente não encontra tanto o metal porque ele é muito utilizado pelos profissionais catadores, então há o recolhimento mais direcionado para ele. O plástico e o isopor são os ‘vilões’ que acabam poluindo os nossos rios”, disse a pesquisadora.

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Sury Monteiro, diretora do curso de oceanografia e coordenadora do Lapmar (Igor Mota/O Liberal)

Sury Monteiro explicou que no estudo inicial foram observados, além do Tucunduba, os rios Guamá e Acará, além da baía do Guajará, que são os três sistemas a receberem todos os resíduos urbanos.  “A baía do Guajará recebe os resíduos transportados dos rios Guamá e Acará, então ela tem um volume muito grande. Como a baía tem maré, enche e vaza, e o lixo não sai do sistema e parte fica acumulado. Parte se acumula próximo à cidade, perto dos canais de preposição, e a gente viu que mesmo o rio Tamandaré, que tem grade de contenção, como o canal São Joaquim, da Doca, ainda sim libera uma grande quantidade de plástico”, afirmou.

A especialista conta que mapear o lixo na região é uma atividade devido à influência de marés grandes. “Aqui dentro da universidade, próximo do rio Guamá, temos uma área de acumulação, próximo ao restaurante universitário, mas o acesso é muito difícil. É um ambiente muito lamoso, com uma vegetação muito densa, acaba retendo lixo, e a gente não consegue acessar para retirar”, comentou. “Quando ocorrem as grandes descargas hídricas, as grandes vazões, esse lixo vai pela hidrodinâmica local e consegue ser carreado para outras áreas”, completou.

image Uma ação, no dia 17, retirou vários resíduos do rio (Igor Mota/O Liberal)

Capital x interior

 

A professora esclarece que em cada região há impactos diferentes, provocados por resíduos distintos. O lixo encontrado no centro urbano é variado, normalmente utilizado em domicílios, como material de higiene pessoal, calçados, roupas, bolsas de esmaltes, preservativos, fraldas e sofá pneus, que são produtos que estão em estado adequado, mas foram descartados. Já no interior, a maioria dos resíduos descartados irregularmente são materiais de pesca. 

Elaine Silva, bióloga e estudante do mestrado da UFPA, conta  que materiais como cobres utilizados por  pescadores usados para a fabricação de currais foram encontrados na Ilha de Algodoal. “Devido a resistência contra as cracas, a gente encontra cracas e até caranguejos. Também já encontramos redes de pescas, cordas e fios de nylon”, comentou a pesquisadora. 

 

Desafios

 

A diretora do curso de oceanografia afirma que um dos principais desafios é conhecer as fontes e diminuir as potências. “Nosso desafio é fazer com que o resíduo não seja descartado de forma inadequada, na verdade, que não seja nem gerado.  É um desafio global, em que a gente trabalha nas temáticas educacionais. Nós, enquanto sociedade,  podemos evitar o uso desses produtos, mas antes disso, precisamos pressionar que nos ofereçam possibilidades de não usar aquilo, mas não através de itens que são ‘eco’ ou normalmente muito mais caros e inacessíveis. E o poder público pode nos ajudar nessa pressão, propondo projetos de leis e incentivos para que empresas e indústrias se adequem a essa nova realidade”, afirmou.

image Pesquisadores constataram a existência de dois pontos de acumulação de lixo: um na foz do Tucunduba e outro no rio Guamá, próximo ao restaurante universitário da instituição (Igor Mota/O Liberal)

Próximos passos da pesquisa

 

O resíduo tirado na ação é destinado para a coleta seletiva, diz Sury. O mapeamento urbano serve para saber o quanto do resíduo gerado serve para ser encaminhado à coleta seletiva e criar uma viabilidade financeira desse material para que as ações públicas institucionais venham atuar na retirada contínua. “A pesquisa está dividida em três etapas: mapear, quantificar e saber o potencial econômico do resíduo; fazer processo de transmissão de informação, mobilização dos grupos interessados; e, por fim, promover processo de viabilidade financeira para as comunidade, seja por meio da educação ou da reciclagem”, concluiu.

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