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Piloto que ficou famoso ao sobreviver 36 dias perdido na floresta nega envolvimento com carga ilegal

Antônio Sena foi denunciado pelo Ministério Público Federal pelo transporte de mercadoria para garimpo ilegal no Pará.

Andria Almeida
fonte

O piloto Antônio Sena, 37 anos, emitiu uma nota após ser denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF), onde é investigado por transportar mercadoria perigosa para a região de garimpo ilegal. Antônio informou que desconhece a denúncia e por consequências tais acusações - “não cometi nenhum crime”, diz ele.

O piloto afirma ter se surpreendido com a possibilidade de ser acusado pelos atos divulgados recentemente, ao qual, a MPF investiga ainda possível desrespeito as normas de segurança da aviação e atividade que causa perigo à coletividade.

Para o suspeito, que pode ser condenado até 12 anos de prisão caso seja comprovado o ato criminoso, as acusações podem ter origem de interesse midiático. "Não vejo como antecipar defesa sobre acusação que desconheço. Seria uma imprudência, talvez, de minha parte, falar de probabilidades diante de exploração midiática." - disse o piloto ao O Liberal.

Há quase um ano, Antônio Sena ficou conhecido nacionalmente por ter sobrevivido a um acidente aéreo e ter passado mais de um mês desaparecido no meio da floresta amazônica. Nas últimas semanas o piloto 'subcelebridade', que inclusive escreveu um livro sobre o acidente e como sobreviveu em meio às adversidades da floresta, voltou a ganhar destaque após ser denunciado.

Em uma nota extensa, o investigado enfatiza ainda que não foi formalizado sobre nenhuma denúncia, no entanto, pontua sobre sua conduta quando ocorreu. Ele diz que vai responder às acusações e que não pode antecipar a linha de defesa, pois não sabe do que está sendo acusado. Para ele, há certeza de que qualquer acusação será defensável.

Em depoimento de Toninho, como ficou conhecido, prestado à Polícia Federal, anexado à denúncia do MPF, o piloto admitiu que foi contratado por um homem, ele seria o dono do garimpo. Nessa contratação, ele deveria transportar cerca de 600 litros de óleo diesel, a mercadoria saiu do município de Alenquer, na região oeste do Pará, e tinha como destino uma área de garimpo conhecida como Califórnia, localizada dentro da Reserva Biológica Maicuru. Essa área abrange os municípios de Almeirim e Monte Alegre. A Rebio é uma unidade integral que não permite a interferência humana direta ou modificações ambientais.

Ainda de acordo com a denúncia do MPF, perícias feitas pelas Polícia Federal constatam que o voo estava em desacordo com as normas da Agência Nacional da Aviação (Anac), um os motivos seria a inexistência de uma pista homologada, além da aeronave ter decolado com 135 kg de sobrecarga e apresentar um sistema elétrico inoperante.

Ainda em depoimento, Antônio Sena disse que nunca havia voado para área de garimpo antes, mas que trabalhou por pelo menos 5 anos para uma empresa de táxi aéreo.

Além do piloto, também foram indiciados João Batista Ribeiro, que teria contratado Antônio Sena, e Edivaldo Paiva Carvalho, dono da aeronave. Se condenado, o piloto Antônio Sena pode pegar de 4 a 12 anos de prisão.

Nossa redação de jornalismo não conseguiu localizar a defesa das outras duas pessoas citadas na reportagem.

Veja a nota na íntegra

O acidente

No 28 de janeiro de 2021 Antônio Saiu de Alenquer com destino a região e tinha como destino uma área de garimpo localizado no município de Almeirim, pouco tempo depois da decolagem o piloto e a aeronave não deram mais sinal. A aeronave teria apresentado pane e o piloto precisou fazer um pouso forçado no meio da floresta. A aeronave caiu em uma área de açaizal.

Depois de ser notificado sobre o caso, o Centro de Coordenação de Salvamento Aeronáutico Amazônico, unidade da Força Aérea Brasileira na região, começou a levantar os dados da aeronave e fazer a apuração sobre a tragédia. Na mesma semana uma aeronave SC-105 Amazonas SAR decolou com destino à área delimitada para as buscas, mas sem sucesso.

O avião teria pegado fogo, o piloto ainda teria permanecido perto do local por alguns dias com esperança de resgate. Segundo o piloto, nesses dias ele se alimentou com pão que havia levado na viagem.

Durante os 36 dias, equipes especializadas e órgãos de segurança realizaram buscas por terra e pelo ar, mas nenhum sinal da aeronave e do piloto. A família de Antônio Sena também se mobilizou de forma independente para tentar localizá-lo.  Mas, 'Toninho' só foi localizado por um grupo de trabalhadores rurais, em uma área no município de Almeirim, próximo à divisa com o estado do Amapá.

Avião investigado

Uma operação deflagrada pela Polícia Federal no mês de junho investiga o avião prefixo PT-IRJ, o mesmo pilotado por Antônio Sena e que desapareceu em janeiro no Pará.

Uma facção criminosa suspeita de tráfico de armas, drogas, crimes violentos e lavagem de dinheiro foi desarticulada. De acordo com a Polícia Federal, o avião foi registrado com o nome de um laranja e seria usado para o transporte de mercadoria ilegal da Bolívia para o Maranhão.

Nota na íntegra

"Senhores:

Esclareço, primeiramente, sobre a questão que me foi indagada diante da notícia de denúncia que me atinge no Judiciário Federal, que desconheço a possível DENÚNCIA, e, por consequências, as acusações que por ela recaiam sobre mim. E informo, que, é fato que um dia após meu regresso a Santarém, compareci à delegacia da Policia Federal, onde estava em curso um inquérito instaurado a partir de pedido de providências feito por minha família e lá relatei todo o ocorrido desde a minha contratação para o fatídico vôo  até o meu resgate, tudo feito com a maior transparência. Estou surpreendido com a possibilidade de vir a responder por eventual ação penal, pois não vislumbro, na minha conduta nesse episódio, qualquer cometimento de crime. Não vejo como antecipar defesa sobre acusação que desconheço. Seria uma imprudência, talvez, de minha parte, falar de probabilidades diante de exploração midiática.

A aviação no interior da Amazônia, seja de garimpo ou não, é suscetível de irregularidade. Tinha pousado pela primeira vez na pista de destino um dia antes do meu acidente, quando voei vazio, sem carga alguma, onde conheci um garimpo pela primeira vez.

Sendo efetivamente recebida a DENÚNCIA propalada, como corolário da investigação implementada, como disse, por pedido feito pela minha família, irei responder as acusações que me atingirem, não podendo antecipar linha de defesa alguma pois não sei do que do que estou sendo acusado. Mas tenho certeza que qualquer acusação que me atinja será defensável.

Para finalizar, consigno aqui que estou feliz de ver que a luta pela minha vida e o resultado de todo esse acontecimento tem trazido ainda mais luz sobre esse grande problema que enfrentamos no norte do país, na esperança de que, enfim, as irregularidades sejam resolvidas, para o bem de todos. Hoje, já mais inteirado das adversidades do garimpo, minha luta tem se firmado investimento em formas sustentáveis de utilização harmoniosa e profícua dos imensos e insondáveis recursos naturais da minha Amazônia e, quiçá, da minha terra natal. Sempre pensando na preservação e na dignidade das pessoas que vivem ali.

Quero vida cada vez mais. E vida digna. Se pela efêmera, para mim, atividade garimpeira quase levou minha vida, a minha salvação veio justamente através dos extrativistas que encontrei na minha jornada de volta da escuridão, os quais provaram que é possível tirar recursos da floresta sem prejudicá-la".

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Pará
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