Pará tem 1,3 milhão de lares chefiados por mulheres, aponta pesquisa
No Brasil, as mulheres já são maioria na chefia dos domicílios, com 51,7% dos lares de sustento feminino, mostra estudo do Dieese
O Pará é o estado do Norte com mais lares chefiados por mulheres. O número total é de 1,3 milhões, o que corresponde a 46,3% dos mais de 2,7 milhões de domicílios paraenses. No Norte, a proporção é maior, sendo 49,1% da região de sustento feminino. Em todo o Brasil, as mulheres já são maioria na chefia dos domicílios: 51,7% dos cerca 78,3 milhões de domicílios existentes no país. Os dados são do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que considera o cenário preocupante.
"Seja por questões conjunturais e/ou estruturais, [as mulheres] têm exercido sozinhas a dupla função de mãe e pai na luta pela sobrevivência e criação dos filhos", diz o estudo divulgado pelo Dieese, tomando como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do 4º trimestre do ano passado (Out-Dez/2023). A pesquisa foi produzida a partir do Observatório do Trabalho do Estado do Pará, por meio da Secretaria de Estado Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster).
Os dados mostram, ainda, que, no 4º trimestre do ano passado, no balanço da Região Norte, o Pará lidera entre os demais Estados o quantitativo total absoluto de mulheres que estavam na chefia dos seus domicílios.
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O balanço do estudo reflete a realidade vivida pela nutricionista Camila Valentim, que ficou viúva há nove meses e cuida dos quatro filhos: Samuel (9 anos) , Esther (7 anos), Rebeca (5 anos) e José (4 anos). Ela conta que arcar com todo o sustento da casa sozinha foi um grande desafio, por isso, precisou lançar mão de uma rede de apoio:
"Eu tenho uma rede de apoio que também é formada de mulheres, mães, então elas conseguem me entender e me ajudar. Eu tenho que me desdobrar algumas vezes. Eles sentem a falta do pai, que morreu no ano passado, e eu tenho que lidar com o emocional deles, equilibrar o meu, para poder dar conta desse desafio", relata.
Camila conta que o dia a dia é muito cansativo e que, para não ficar sobrecarregada, além de dividir os cuidados com duas funcionárias, ela tem estimulado a autonomia dos filhos de acordo com a idade de cada um. "Eu passo as tarefas para eles: cuidar do material escolar, ver se tem dever de casa... Quando eles aprendem a lidar com as coisas deles, acaba diminuindo a sobrecarga sobre mim".
A nutricionista também trabalha fora, atendendo em consultório de forma presencial. É preciso equilibrar os horários para manter a rotina: "Trabalho de manhã no momento em que as crianças estão na escola. Algumas vezes tenho paciente à tarde e me divido entre o trabalho, a rotina de casa e o cuidado com eles".
Camila acredita que, apesar de estarem sem a figura paterna, ela não substitui o lugar que o pai ocupava na vida dos filhos e tenta deixar isso claro para eles também: "Entender que tem um espaço ali que vai ter sempre um vazio. Eu digo para eles que esse espaço eu não consigo preencher. Então eu sempre trago as memórias - vídeos do que a gente viveu - para que eles resgatem as boas lembranças. E tento entender os meus limites, que tem coisas que eu não vou conseguir. Isso faz com que a gente se olhe com mais carinho e realmente faça o que for possível de forma saudável".
Total geral de domicílios chefiados por homens e mulheres no Brasil, Região Norte e Estado do Para no 4º Trimestre/2023
Brasil – Total: 78.322 / Chefiados por homens: 37.853 (48,3%) / Chefiados por mulheres: 40.469 (51,7%)
Norte – Total: 6.024 / Chefiados por homens: 3.069 (50,9%) / Chefiados por mulheres: 2.955 (49,1%)
Pará – Total: 2.762 / Chefiados por homens: 1.484 (53,7%) / Chefiados por mulheres: 1.278 (46,3%)
Fonte: PNAD Continua/IBGE Analise e sistematização: DIEESE/PA
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