Motorhome: veja como montar uma casa sobre rodas
Família em Belém aproveita veículo para conhecer lugares e reforçar vínculos entre pais e filhos
Em sintonia com uma tendência internacional, paraenses começam a aderir cada vez mais ao uso do motorhome, veículo adaptado para abrigar as instalações de uma casa, e, assim, possibilitar viagens confortáveis para lugares variados no país ou fora dele. Esse o propósito da família do professor de Matemática, Henry Pípolos, 49 anos, e da técnica em Segurança do Trabalho, Sara Pípolos, 44 anos, moradores de Ananindeua, na Grande Belém. Há dois anos, eles, juntamente com os filhos Pedro, de 16 anos, Enzo, de 13, e Henry, de 8 anos, e o cachorro Theo aproveitam as vantagens de se ter um motorhome ou Veículo Recreativo (RV). No caso, uma Kombi ano 2009. O gosto de estar em viagem é tão forte entre essas pessoas que já pensam em um novo veículo, maior, para novos passeios em grupo.
Henry conta que a família tem a Kombi desde 2020, quando foi comprada em Altamira, no sudoeste do Pará. O propósito de ter um motorhome surgiu do desejo de esposa de viajar. "Antes de viajar de motorhome, nós viajávamos de carro, mas a família foi aumentando e o carro ficou pequeno", conta Sara. Desde criança, ela tinha vontade de ter um motorhome, e "a gente resolveu fazer na Kombi". Antes do carro, as viagens de Henry e esposa eram de moto, como conta Pedro. A adaptação do carro durou cerca de um ano, e eles tiveram que adquirir muita coisa de fora do Pará, sem contar a busca por uma mão de obra qualificada. Foi, então, que tiveram a ajuda preciosa de um marceneiro amigo, Andraci Amaral. Ele concretizou o projeto de Sara. "A gente foi se descobrindo nesse processo todo", ressalta Henry.
No "Coyote", nome do motorhome da família, tem caixa d´água (150 litros, no total), multimídia, duas camas para receber cinco pessoas, geladeira com 75 litros, climatizador, ventilador, fogão, armário, placa solar com controlador de carga, baterias e um inversor para transformar a tensão da energia de 12 volts para 110 volts. O cachorro Theo dorme na caminha dele. A família (familia_estradeira_) dispõe de um banheiro externo que também pode ser utilizado dentro do carro para higiene pessoal.
Na estrada
Em 2021, a família viajou com o "Coyote" para quase todo o Pará; em 2022, para o Maranhão e outros estados do nordeste brasileiro; em 2023, para o Maranhão, sudeste e sul do país e até o Paraguai. Eles só viajam em julho, e, para 2024, o plano era ir ao centro-oeste do Brasil. "Só que a família cresceu para cima, e ficou um pouco apertado. Então, temos um novo projeto, vender a Kombi para ter um motorhome maior", revela Sara.
"Vale a pena ter um motorhome, porque a gente não se prende em nada. Vai para qualquer lugar, pode ter hotel, pode não ter, no meio do mato ou da cidade, pode ser serra, praia, a gente não depende de lugar nenhum para dormir, fora a economia", pontua Henry Pípolos. Sara salienta que é uma "experiência única e revigorante", como acordar com o pé na areia ou dormir na areia da praia. Para a legalização de "Coyote', tiveram de obter uma autorização prévia para as modificações no veículo e, depois, passar por avaliações de funcionalidade do carro para obter um laudo e fazer as inspeções. O processo se dá no Departamento de Trânsito do Estado (Detran). "Somos uma família que gosta de estar na estrada", completa Sara, com todos prontos para a próxima viagem de motorhome.
Legalização
Sérgio Maia, especialista em Trânsito, destaca que, de acordo com o artigo 98 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), ninguém pode fazer uma alteração no seu veículo sem passar por uma vistoria do Departamento de Trânsito. Do ponto de vista jurídico, ainda não existe uma regulamentação específica para o assunto, cada estado, cada região tem as suas regras. Para legalizar o motorhome, o interessado deve comparecer a uma unidade do Detran com a documentação do veículo, especificando as características propostas para o carro, ou seja, detalha tudo sobre o projeto, o que servirá para em caso de estar transitando em uma outra jurisdição, o condutor ser liberado para circular com o RV.
Sobre estacionamento para motorhome, o especialista diz que como o motorhome é um veículo normal pode ser estacionado em qualquer lugar que seja liberado para receber veículos. Não existe um estacionamento específico, por ausência de uma regulamentação nesse sentido.
O Departamento de Trânsito do Estado (Detran) informa que, conforme resolução nº 743/2018 do Conselho Nacional de Trânsito, todo veículo que se transformar em um modelo do tipo “motorcasa”, deverá antes ser submetido à vistoria do órgão para emissão de novo Certificado de Registro de Licenciamento Veicular e Certificado de Segurança Veicular.
"O veículo deverá obedecer a diversos critérios técnicos, entre os quais possuir carroceria fechada destinada a alojamento, escritório, comércio ou finalidades análogas e o condutor possuir habilitação na categoria afim. Deverá, ainda, dispor de equipamentos de segurança e respeitar o peso e capacidades informados pelo fabricante. O Detran esclarece ainda que os condutores do motorcasa que não atenderem aos requisitos poderão ser autuados em R$ 195,23, cinco pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e retenção do veículo. Em 2023, o Detran recebeu 35 pedidos de mudança de característica referente à motorcasa, dos quais 29 foram atendidos", como repassa o Departamento.
Rodar bem
Belém costuma receber condutores de várias partes do país, além de quem já reside na Grande Belém e em municípios do interior do Pará. Um desses visitantes é o casal Camila Pedrassoli, 30 anos, tatuadora e produtora de vídeos para mídias sociais, e Fernando Coury, 32 anos, designer de games e produtor de vídeos para mídias sociais. Eles têm um um canal no YouTube, o "Pegadas Itinerantes",com 60 mil seguidores e no Instagram do mesmo nome, com 130 mil seguidores. "É daí que vem nossa renda para viajar. Somos ambos de Valinhos, interior de São Paulo", relata Camila.
Ela conta que a maior motivação para ter um motorhome foi a pandemia. "Naquele momento, sentimos o medo de não ter tempo de fazer o que gostaríamos, após 4 meses de pandemia, decidimos comprar o ônibus e começar a construir. Levamos 1 ano e meio construindo nós mesmos com nossas mãos, não tínhamos conhecimento nenhum, por isso demorou tudo isso. Gastamos um total de 105 mil, na compra do carro e na construção da casa", ressalta.
O motorhome foi construído na frente da casa dos pais de Fernando, com as ferramentas disponíveis. Assim surgiu o "Miaucedes ("uma mistura de miau, porque viajamos com nossos gatinhos, e Mercedes, pq é um Mercedes Benz"). No caso, uma adaptação de um microônibus para 20 passageiros, trabalho este iniciado em 2020 e concluído em 2022. "É uma construção que não acaba nunca", diz Camila.
O "Miaucedes" tem sala, quarto, cozinha, banheiro, escritório, um estúdio de tatuagem, painéis solares, baterias para armazenar a energia solar, 300 litros de água na caixa, ar condicionado, varandinhas na janela para os gatos. Camila e Fernando saíram de Valinhos em janeiro de 2022, já percorreram 16 estados até o momento. "Nós adoramos conhecer o Pará, passamos por aí nos meses de fevereiro e março. O que mais nos chamou a atenção foi a diferença no sotaque e as comidas diversificadas, muitas comidas incríveis, como o açaí original, o tacacá, a diversidade de frutas da região é incrível, e digo o sotaque porque é o mais diferente que já ouvimos, lembra um pouco o sotaque do Rio, mas com tantas referências indígenas. Foi um choque cultural muito grande", afirma Camila.
Eles gostaram do balneário Geladeira em Capitão Poço, além dos atrativos de Belém, Castanhal e Paragominas. "Fizemos um vídeo para nosso canal de Belém do Pará que já chegou a 200 mil pessoas. Não só nós, como nossos seguidores adoraram também!", relata Camila. Depois do norte do Brasil, o casal segue para o sul, com a meta de rumar para a Argentina.
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