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Novo Progresso e São Félix do Xingu, no Pará, não possuem boa qualidade no ar, diz pesquisador

O desmatamento registrado nesses municípios é importante fator para que a situação seja concretizada, afetando a saúde, o clima e os índices de pobreza

Camila Azevedo
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A qualidade do ar foi um dos temas mais debatidos durante a 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP 27). Recentemente, a capital da Índia, Nova Délhi, precisou fechar as escolas primárias por conta dos altos níveis de poluição. Emissões das indústrias, transportes e queima agrícola fazem parte dos fatores que aumentam esses índices. No Pará, Novo Progresso e São Félix do Xingu são as cidades que mais desmatam. A consequência disso é, também, uma elevação nos componentes tóxicos presentes no ar. Em entrevista concedida ao jornal O Liberal, o professor André Cutrim, do Núcleo de Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará (UFPA), analisa a situação.

Quais os grandes desafios para a preservação do ar na Amazônia?

O grande desafio a ser superado é o desmatamento. Hoje, o Pará é um dos que mais desmata na região e esse ano que passou foi muito atípico. A pauta ambiental foi tratada com muito descaso. Houve uma desmobilização da gestão ambiental. O que a gente observou nesse período foi a ideia de que uma área de floresta desmatada vale muito mais do que uma área de floresta em . Isso gerou uma série de problemas: na saúde, no clima, mudanças climáticas e a perpetuação da pobreza.

De que forma a qualidade do ar afeta a população?

Afeta não só a população do meio urbano, mas, também, do meio rural, porque você tem uma série de mudanças que podem alterar as condições respiratórias. Os rios poluídos, que são alterados pelas mudanças climáticas. Uma série de problemas como a própria poluição do ar têm se agravado em larga escala na maioria dos estados da Amazônia, em especial, no Pará. Uma piora na qualidade do ar que acaba refletindo no surgimento de muitas doenças que outrora não existiam.

Quais as cidades do Pará estão mais vulneráveis a poluição do ar? Por quê?

As cidades do Pará que estão mais vulneráveis são as que têm desmatado com maior intensidade. Podemos listar Novo Progresso e São Félix do Xingu como dois municípios que têm participado desse péssimo ranking da nossa região. O que tem prevalecido é a lógica do mercado, da derrubada da floresta, da depressão dos recursos naturais. Com isso, você cria um ambiente totalmente favorável à poluição do ar, ao aumento da industrialização e à queima dos combustíveis fósseis.

Como as discussões da COP 27 podem trazer soluções?

Considero que grande parte do que foi discutido enfrenta um problema cultural. Não são todos os países que estão dispostos a mudar, sobretudo os desenvolvidos. A gente vive num estado que enfrenta uma série de problemas históricos e culturais. Como esses povos da Amazônia vão pensar em exercer a sustentabilidade na prática? Mesmo que tenha tido um avanço na discussão ambiental e de direitos humanos, essa mudança perpassa por uma série de transformações que não são de origem exclusiva dos países desenvolvidos. Você tem uma série de problemas de enfrentamentos políticos, estruturais, econômicos, sociais e ambientais que são diferentes em cada país e no Brasil não é diferente. A Amazônia é extremamente complexa, é uma região de fronteira. Essas questões ambientais acabam ficando em segundo plano.

O que fazer, então, para solucionar o problema?

Existe uma predisposição da sociedade civil organizada em buscar essa mudança, mas ela necessita também de uma transformação cultural, uma mudança de orientação mais progressista no sentido de atender às condições dessas pessoas em vulnerabilidade social. Um país como o nosso, que tem a mácula da pobreza durante muitos anos, precisa primeiro contornar esse problema para depois tratar efetivamente a questão ambiental. Você só faz isso com uma governança participativa, escutado todos, realizando fóruns, com o mercado, que é importante. Mas o gestor ou alguém que tem o poder da caneta para fazer com que as políticas públicas aconteçam, precisa ter direcionamento, um foco para tornar essa política ambiental exequível. Não adianta ter o discurso sem efetivamente tratar do problema da prática.

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