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'Mesmo após 500 mil mortos, ainda falta empatia', diz psicóloga

Psicóloga ressalta que o bombardeio de informações e a ansiedade em superar a pandemia reforçam esse comportamento

João Thiago Dias

Mais de 500 mil vidas perdidas para a pandemia devastaram famílias e fizeram pessoas perderem entes queridos de forma incalculável. O balanço de vítimas ceifadas pelas covid-19 no Brasil pode ser lido apenas como estatísticas por quem está esgotado diante da intensa exposição aos números pandêmicos. Entretanto, a dor da perda segue irreparável a cada boletim epidemiológico. O país segue com uma média de 2 mil vidas perdidas diariamente. E isso parece afetar cada vez menos quem se mete ou promove aglomerações desnecessárias ou deixa de usar máscaras.

De acordo com a psicóloga clínica Danielle Nascimento Almeida, de Belém, após tantos meses convivendo nesse contexto viral, é possível observar a dessensibilização do ser humano. "Quando contabilizamos mais de 500 mil mortos no nosso país, há pessoas que estão mais preocupadas em saber quando vão poder tirar a máscara, quando vai voltar tudo ao normal e quando serão liberadas as festas e aglomerações", disse.

Em um cálculo simbólico, ela aponta que, a cada vida perdida, outras acabam perdendo um pouco de vitalidade também. "Costumo triplicar esse número, porque observamos que, quando morre um pai de família, por exemplo, ele pode deixar esposa, filhos, irmãos, pais. Percebemos que não foi só ele que morreu, mas, também, um pouquinho de cada um que ficou", avaliou.

Apesar dessa visão mais humanizada dos números, há falta de empatia constante, conforme detalhou a psicóloga. Há quem acredite que já está livre do vírus porque foi infectado e se recuperou ou porque foi vacinado. "Pode ocorrer outra contaminação sim. E a vacina não é a cura. Talvez a falta de informação cause esse comportamento", reforçou. Possivelmente, há quem, em prol da saúde mental, também esteja, deliberadamente, ficando alheio às trágicas estatísticas diárias da pandemia.

image "As pessoas estão mais preocupadas em saber quando vão poder tirar a máscara e quando serão liberadas as festas e aglomerações", avalia a psicóloga Danielle Almeida (Cláudio Pinheiro / O Liberal)

Há mais de um ano, quando os primeiros casos foram notificados no Brasil, a palavra empatia ganhou força na sociedade. Agora, segundo a psicóloga, a preocupação foi entrando em um contexto de banalização. "Hoje tem essa falta de sensibilidade e empatia. Cabe a nós [profissionais da saúde] e aos profissionais da comunicação a missão de explicar que esses mais de 500 mil óbitos impactam muita gente. Para que olhem o sofrimento do outro com mais carinho e atenção", concluiu.

Apenas no Pará, já foram registrados mais de 15 mil vidas perdidas para a covid-19 até o final desta sexta-feira (25). O universitário Matteus Souza da Silva, de 25 anos, de Ananindeua, é uma das vítimas afetadas psicologicamente diante dessas perdas. "Fui bastante afetado por tudo o que vem acontecendo neste cenário caótico e pela displicência no combate à pandemia. Sofro com ataques de pânico e ansiedade há quase oito anos. Antes da pandemia, eram menos frequentes. Ao ver números assustadores de vítimas, esses ataques voltaram com mais intensidade", disse.

Matteus pede mais sensibilidade para todos que estão sofrendo, muitas vezes, até de forma silenciosa. "Creio eu que o brasileiro médio, em grande parte, sempre desdenhou da pandemia. Seja pela falta de informações corretas ou, até mesmo, pela falta de empatia com o próximo. Geralmente, quem mais se solidariza com as perdas é quem já sofreu com elas por causa da covid-19", opinou o jovem, que segue na batalha pela manutenção da própria saúde mental em meio ao bombardeio de informações preocupantes. E sem perder a sensibilidade com cada vida perdida.

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