Mais de 50% da água potável da região Norte é perdida antes de chegar às moradias

Pará perdeu 40,33% do volume produzido, o segundo estado da região que menos teve perda

João Thiago Dias / O Liberal

No Norte do Brasil, mais da metade da água potável produzida não chega de forma oficial às residências. Trata-se da região brasileira com os piores índices de saneamento e com o maior índice de perdas de água nos sistemas de distribuição em 2019, com 55,2%. Essa porcentagem está acima da média nacional de 2019, quando o Brasil perdeu 39,2% de toda a água potável produzida. O indicador da região ainda teve aumento de 8,9 pontos percentuais em cinco anos, pois, em 2015, a perda foi de 46,3%.

São destaques do estudo "Perdas de água potável (2021, ano base 2019): desafios para a disponibilidade hídrica e ao avanço da eficiência do saneamento básico", divulgado nesta semana pelo Instituto Trata Brasil, com parceria institucional da Associação Brasileira dos Fabricantes de Materiais para Saneamento (Asfamas), e elaboração da consultoria GO Associados.

Os 39,2% de água potável perdida em 2019 no Brasil são equivalentes a perder um volume de 7,5 mil piscinas olímpicas de água tratada, desperdiçada diariamente, ou sete vezes o volume do Sistema Cantareira - maior conjunto de reservatórios para abastecimento do Estado de São Paulo. O Amapá apresentou a maior perda em 2019, com 73,57%. No Pará, em 2015, as perdas representaram 39,72%. Já em 2019, quando o Pará foi segundo estado do Norte que menos perdeu (atrás do Tocantins), foram 40,33% em perdas de água potável.

O Pará é o segundo estado da região que mais perde água potável por dia quando se faz a comparação com o volume de uma piscina olímpica: 155 piscinas olímpicas perdidas, o que equivale a mais 387 mil m³ de água que não chegam oficialmente a ninguém todo dia. Ficando atrás apenas do Amazonas, com o equivalente a 236 piscinas olímpicas perdidas diariamente.

O estudo foi feito a partir de dados públicos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS, ano base 2019) e contempla uma análise do Brasil, das 27 Unidades da Federação e das cinco regiões, bem como das 100 maiores cidades - os mesmos municípios do Ranking do Saneamento Básico.

Com exceção do Tocantins, que passou de 37,04% de perdas em 2015 para 33,64% em 2019, todos os demais estados do Norte tiveram aumento na porcentagem de perdas de água na distribuição no comparativo desses cinco anos. A média nacional também teve aumento, de 36,7% em 2015 para 39,24% em 2019. Mesmo assim, a maioria dos estados do Norte ficou acima desse indicador nacional ao longo desse período.

image Pará foi o segundo estado que menos perdeu na região Norte, mas ainda assim perdeu mais de 40% (Ivan Duarte / O Liberal)

Marco Legal requer mais esforço para ser cumprido

Na conclusão do estudo, é constatado o grande esforço que estados e municípios devem fazer para o cumprimento do Marco Legal do Saneamento Básico Brasileiro, que tem como objetivos principais melhorar a qualidade da prestação dos serviços públicos de saneamento básico e garantir, até 31 de dezembro de 2033, a universalização do atendimento, com 99% da população com água potável e 90% com coleta e tratamento de esgotos.

A Lei 14.026 de julho de 2020, que fixa o novo marco regulatório do setor, e o Decreto 10.588 de dezembro de 2020 estabelecem critérios para a formação de blocos de municípios de maneira que estejam habilitados a conseguirem apoio técnico e financeiro da União. Os estados têm até o dia 15 de julho para fazerem a divisão dos blocos regionais que deverão ter operações de água e esgoto compartilhadas. Caso a data-limite não seja cumprida e não houver postergação do prazo, a União assume a tarefa da regionalização.

image Legenda (Arte: Alynne Cid / O Liberal)

A Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) destacou que o índice de perda de volume de água tratada no Pará foi de 40% e que esse percentual está dentro da média nacional registrada. "Ainda assim, com investimentos do Governo do Pará, a Cosanpa trabalha para reduzir os números com obras de substituição de rede e ampliação de sistemas nos municípios onde a Companhia atua. Um exemplo é o projeto de controle e redução de perdas que substitui cerca de 180 quilômetros de redes antigas, em Belém, por redes novas", pontuou.

"Quanto ao Marco Legal do Saneamento Básico, estudos técnicos estão sendo feitos junto com a Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento para analisar as medidas eficientes e possíveis para o setor", afirmou a Companhia.

image Sem água há um mês, moradores do conjunto Uirapuru, em Ananindeua, recorrem a um caminhão pipa e uma caixa d'água (Ivan Duarte / O Liberal)

Desabastecimento de água provoca problemas em Ananindeua

No Conjunto Uirapuru, no bairro do Icuí-Guajará, em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, a falta de água prejudicou a vida de muita gente na última semana. De acordo com o presidente da associação de moradores do conjunto, André Paixão, o problema começou no fim da tarde da quarta (16), após um pico de energia que teria prejudicado o funcionamento da bomba da subestação.

"Mas isso é recorrente. Sempre que dá pico de energia, dá problema na bomba. Em maio, ficamos uns quatro dias sem água por isso. Agora, foram mais de 48 horas sem água já", disse André, na tarde da sexta (18). "Mesmo que a Cosanpa coloque caminhão pipa para ajudar, tem idosos e pessoas com deficiência não conseguem carregar baldes. Vamos mandar um ofício pedindo uma bomba reserva para a Cosanpa", completou.

Sobre a falta de abastecimento de água no Conjunto Uirapuru, a Cosanpa informou, ainda na noite da quinta-feira (17), que o sistema que atende a área passava por manutenção emergencial. "Nossa equipe trabalha para resolver a situação o mais rápido possível. Enquanto isso, caminhões pipa circulam pela área para distribuir água aos moradores".

Em relação à falta de água durante o pico de energia, a Companhia informou que "o sistema depende do serviço da Equatorial Energia. Sempre que há oscilação na rede elétrica, a proteção do equipamento entra em operação para evitar a queima da bomba".

A concessionária de energia Equatorial Energia Pará comunicou que uma equipe entrou em contato com a operação da Cosanpa, que informou que "não há qualquer problema de fornecimento de energia no local. Em nosso sistema não há registros recentes de oscilações no bairro", disse.

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